Especialistas dizem que a indústria de superiates vem crescendo há anos, mesmo durante a desaceleração econômica global causada pela pandemia.
Jeff Bezos, o fundador da Amazon e o homem mais rico do mundo, viu sua riqueza pessoal praticamente dobrar desde 2017, ajudado pelo boom de seu negócio no ano passado, quando mais pessoas do que nunca passaram a fazer compras online.
E não é apenas Bezos. Muitos dos mais ricos do mundo viram suas fortunas aumentarem nos últimos anos.
Os estaleiros continuaram produzindo megaiates que estão ficando cada vez maiores. De acordo com especialistas e corretores, 2020 bateu o recorde de vendas de iates, e 2021 deve quebrar novamente essa marca.
O que sabemos sobre o iate de Bezos?
A embarcação de 417 pés (127 metros) está sendo construída na Holanda pela Oceanco, de acordo com uma nova biografia de Bezos escrita pela Bloomberg News.
Estima-se que o iate custe cerca de US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões), o que é praticamente um "trocado" para o homem mais rico do mundo, cuja riqueza pessoal chegou a crescer US$ 13 bilhões em um único dia em 2020. Seu patrimônio líquido estimado agora é de quase US$ 200 bilhões.
O preço não inclui um "iate de apoio" menor, que Bezos também planeja comprar. O iate menor possui um heliporto — a namorada de Bezos, a apresentadora de TV Lauren Sanchez, é pilota de helicóptero.
O iate principal é incapaz de suportar um heliporto devido aos três mastros de vela em seu convés.
O iate menor pode ser usado para transportar diversos outros artigos de luxo, como carros, lanchas e provavelmente até um pequeno submarino, dizem os especialistas.
O projeto do superiate altamente secreto, conhecido como Y721, deve ser concluído no próximo mês, de acordo com a Bloomberg. É provável que o pedido de Bezos tenha sido feito há vários anos, já que navios feitos sob medida como esse podem levar cerca de cinco anos para serem construídos.
A Oceanco, fabricante holandesa de iates, não comentou o projeto. Eles são conhecidos por construir o Black Pearl de 350 pés (106 metros), o segundo maior iate à vela do mundo.
O que é um superiate?
Não existe uma definição oficial de superiate (e como ele se diferencia de um iate normal), mas na indústria o termo geralmente se refere a um iate com mais de 74 pés (22 metros) de comprimento.
Alguns contestam essa definição, dizendo que o termo superiate se aplica a embarcações com mais de 200 pés (60 metros) de comprimento. Alguns corretores chegaram a usar o termo "gigaiate" para se referir a navios com mais de 300 pés (90 metros).
"É tudo marketing", diz Bill Springer, que escreve sobre a indústria de iates para a revista Forbes.
O iate de Bezos, chegando a mais de 400 pés, é quase tão grande quanto a Grande Pirâmide de Gizé (se o iate fosse colocado verticalmente). É quase metade do comprimento da Torre Eiffel.
Apenas alguns superiates gigantes como esse são concluídos a cada ano, mas projetos de alto perfil costumam ser feitos com tanta discrição que os construtores são obrigados a assinar acordos de sigilo.
Portanto, é improvável que algum dia saberemos se Bezos copiou os ornamentos decorativos do oligarca russo e colega iatista Andrey Melnichenko, que combinou uma escada em espiral em um de seus iates com paredes recortadas de folha de prata.
Como está a indústria de iates?
Essa indústria tem crescido rapidamente nos últimos 20 anos.
De acordo com a associação National Marine Manufacturers Association, dos EUA, as vendas de barcos atingiram um pico de 13 anos em 2020. Isso reflete uma tendência de pessoas de usarem barcos como forma de entretenimento social, mas mantendo o distanciamento físico das demais pessoas exigido pela pandemia.
"O mercado está absolutamente aquecido", disse Sam Tucker, chefe de pesquisa de superiates da empresa de inteligência de mercado VesselsValue. "Houve um número recorde de transações feitas e essa tendência está se mantendo até agora."
O mercado de iates usados também "virou uma loucura", diz ele. "O mercado está em alta."
De acordo com Tucker, existem 9.357 iates com mais de 65 pés (19 metros) de comprimento que estão atualmente no mar.
Cerca de 85% deles são motorizados e 15% são iates à vela como o que Bezos encomendou.
Menos iates foram fretados em 2020, diz Tucker, o que ele atribui às restrições de viagens durante a pandemia, que impedem atividades turísticas normais.
As vendas caíram por algumas semanas quando começou o lockdown em partes dos EUA no ano passado, mas logo em seguida elas dispararam.
Em junho, "foi como se alguém ligasse um interruptor", diz Bob Denison, que é corretor de iates em Fort Lauderdale, Flórida, desde 2001.
"Nunca houve nada parecido antes", diz ele. "A quantidade de demanda é duas ou três vezes mais do que eu já vi."
A empresa de Denison vendeu 1.008 navios em 2020 — uma alta de 35% em relação ao ano anterior. Ele acredita que haverá outro aumento de 30% em 2021.
Cerca de 65 dos iates que ele vendeu em 2020 eram superiates. Até agora, neste ano, cerca de 40 superiates foram vendidos, o que significa que cerca de 2,2 superiates foram vendidos por sua empresa por semana desde janeiro.
A demanda superou totalmente a oferta, diz seu colega Ben Farnborough, que acrescenta que está cada vez mais difícil encontrar barcos usados para vender.
Farnborough espera que a flexibilização das restrições às viagens por causa coronavírus tornará possível viajar para a Europa, onde será possível encomendar mais iates usados para vender nos EUA.
Quem compra um superiate?
As embarcações são frequentemente compradas por empresas e depois alugadas aos proprietário da empresa, o que torna difícil dizer com certeza quais iates pertencem a quem.
Em portos famosos pela construção de iates, como o da Holanda, onde a Oceanco está localizada, alguns fãs de iates tentam identificar aviões particulares no local, em um esforço para determinar quais bilionários vieram visitar sua futura embarcação.
A privacidade é um dos motivos principais de se possuir um iate, diz Tucker. Há boatos de que Mark Zuckerberg e Bill Gates, "colegas" bilionários de Bezos no mundo da tecnologia, têm iates.
"Esses são ativos muito particulares, e um dos motivos pelos quais foram comprados é para fins de privacidade", diz Tucker. A privacidade também implica em maior segurança pessoal, algo particularmente importante para as pessoas mais ricas do mundo.
O uso de superiates pode angariar antipatias.
Depois que o bilionário de Hollywood David Geffen postou online sobre estar "isolado" em seu iate em um paraíso tropical e esperando que todos os outros estivessem "seguros" durante a pandemia, ele virou alvo de chacota na internet.
"David Geffen acabou de mostrar a todos o dedo médio?", perguntou um usuário do Instagram postou em reação à postura nada humilde de Geffen.
Por que eles são tão caros?
Os iates oferecem "verdadeira exclusividade", diz Springer, que compara ser dono de uma embarcação dessas com possuir uma ilha privativa ou construir do zero uma cidade personalizada.
"Na época do Renascimento, ricos pagavam milhões de dólares construindo catedrais", diz. "E elas eram as mais bonitas, feitas pelos melhores artistas.
Eram projetos espetaculares. E havia algo como: 'Eu sou muito rico e vou fazer algo realmente incrível com o meu dinheiro'. Os superiates são muito similares nesse sentido."
E essas embarcações estão ficando cada vez mais confortáveis, além de viajarem para além de "portos glamurosos", como Mônaco, diz Springer.
As pessoas estão, agora, levando os superiates para locais mais remotos, como Antártida e Papua Nova Guiné, pois deixaram de ser apenas símbolos de status.
Os melhores superiates são feitos sob medida, com as empresas tentando atender cada detalhe dos gostos dos homens e mulheres mais ricos do mundo.
Os projetos podem levar anos para serem concluídos. A construção de um iate do tamanho do de Bezos provavelmente envolve cerca de 400 trabalhadores e designers, estima Farnborough. Quando ficar pronto, provavelmente precisará de uma tripulação de cerca de 60 pessoas.
Os custos anuais de manutenção chegam a somar cerca de 10% do valor de compra, diz Tucker, da VasselsValue.
O que mais custa tão caro quanto um superiate?
Bezos comprou o jornal The Washington Post em 2013 por "apenas" US$ 250 milhões, ou seja, metade do preço do superiate.
Um quadro do pintor Jean-Michel Basquiat está atualmente em leilão em Nova York por um preço de saída de US$ 145 milhões. Também há um quadro de Claude Monet sendo oferecido em leilão com lance inicial de US$ 350 milhões.
A Virgin Galactic tem vendido viagens ao espaço for preços que variam de US$ 200.000 a US$ 250.000, ainda sem data confirmada para o lançamento do foguete.
Mas se você é Jeff Bezos, não precisa reservar o seu bilhete. Ele está por trás da empresa Blue Origin, que pretende enviar suas próprias aeronaves turísticas ao espaço.
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