Mas até agora, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) ainda não se manifestou sobre o assunto, que foi tema de reuniões emergenciais do Conselho de Segurança da ONU.
O presidente Jair Bolsonaro se pronunciou na semana passada no Twitter: "É absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense. A ofensiva provocada por militantes que controlam a Faixa de Gaza e a reação israelense já deixaram mortos e feridos de ambos os lados."
"Expresso minhas minhas condolências às famílias das vítimas e conclamo pelo fim imediato de todos os ataques contra Israel, manifestando meu apoio aos esforços em andamento para reduzir a tensão em Gaza."
- É absolutamente injustificável o lançamento indiscriminado de foguetes contra o território israelense.
- A ofensiva provocada por militantes que controlam a Faixa de Gaza e a reação israelense já deixaram mortos e feridos de ambos os lados.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 12, 2021
No entanto, o órgão máximo da diplomacia brasileira — que recentemente viu seu comando trocado, com a entrada de Carlos França no lugar de Ernesto Araújo — não emitiu nenhuma nota.
O Itamaraty costuma lançar comunicados sobre diversos eventos internacionais.
No último mês, o ministério das Relações Exteriores emitiu notas sobre acontecimentos como o conflito em Myanmar, um acidente durante uma celebração religiosa na Galileia, em Israel, e o falecimento do presidente do Chade.
Israel é um dos países com maior presença nos comunicados do Itamaraty desde que Bolsonaro chegou ao poder, em 2019.
Durante sua presidência, o Itamaraty já emitiu dez notas oficiais sobre Israel sobre assuntos variados: declarações sobre visitas oficiais de Bolsonaro e de diplomatas ao país, comentários sobre acordos de normalização de relações entre Israel e alguns países árabes e sobre o plano do ex-presidente Donald Trump de pacificar a região.
Em 2019, o Itamaraty emitiu duas notas oficiais — uma em março e outra em junho — ambas condenando o lançamento de foguetes contra Israel.
"O governo brasileiro condena, nos termos mais veementes, o lançamento de mísseis desde a Faixa de Gaza contra a região central de Israel, onde se localiza a cidade de Tel Aviv. Nada pode justificar o disparo indiscriminado de foguetes contra centros urbanos, em ataques que têm como alvo a população civil", dizia a nota de março de 2019.
A BBC News Brasil entrou em contato com o Itamaraty perguntando se haveria uma nota oficial do órgão sobre o atual conflito entre Israel e palestinos, mas não recebeu retorno.
Silêncio diplomático
Para o especialista em relações internacionais e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, Guilherme Casarões, o silêncio do Itamaraty é incomum diante de um conflito como esse.
"Isso não é comum para a diplomacia brasileira, que tem uma tradição de se manifestar de forma assertiva sobre o tema", disse Casarões à BBC News Brasil.
No passado, manifestações mais veementes do Brasil já provocaram reações de Israel.
Em 2014, em meio a uma escalada de violência entre Israel e a Faixa de Gaza, o Itamaraty emitiu uma nota criticando "o uso desproporcional de força por parte de Israel". Na ocasião, um porta-voz da chancelaria de Israel chamou o Brasil de "anão diplomático" e o episódio. Na ocasião, o então presidente israelense Reuven Rivlin telefonou para a então presidente Dilma Rousseff e pediu desculpas.
Casarões afirma que o episódio revela um pouco do que deve ser a linha do novo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, que assumiu o posto em março — que deve ser mais conciliadora e menos radical que a de seu antecessor, Ernesto Araújo.
"Bolsonaro e Araújo estavam na mesma página", diz o cientista político. O presidente e o ex-ministro concordavam com um maior alinhamento do Brasil com Israel — uma mudança em relação à posição tradicional do país, que sempre foi de maior equilíbrio.
Isso explica o posicionamento crítico ao Hamas nas notas brasileiras na gestão de Araújo, mas sem nenhuma crítica a operações militares israelenses.
Esse novo alinhamento a Israel atente a um discurso de campanha de Bolsonaro, que chegou a prometer a transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém — algo que poucos países no mundo fazem, pois poderia resultar em boicotes comerciais de nações árabes.
"A proposta do Carlos França é de fazer uma diplomacia de perfil baixo. Ela não é contrária ao Bolsonaro. França tem atuado para minimizar o efeito das posições radicais do Bolsonaro na política externa brasileira", diz Casarões.
"Essas declarações de Twitter do Bolsonaro tem como objetivo de sinalizar para a base. O trabalho do Carlos França, entre outras coisas, é filtrar o que é dito para a base daquilo que serão posições consolidadas do governo brasileiro dignas, por exemplo, de notas oficiais do Itamaraty."
Apesar das seguidas demonstrações de maior apoio de Bolsonaro a Israel, Casarões afirma que a política externa brasileira segue em grande parte o mesmo pragmatismo que já é tradicional do Itamaraty.
"O Itamaraty não é alinhado em absoluto ao bolsonarismo. É um órgão do governo, mas não é um órgão que replica irrefletidamente as posições do governo em relação a alguns temas."
"O governo precisa zelar também pelas suas relações comerciais, que são pragmáticas. Quando uma delegação do Bolsonaro voltou de Israel [em 2019], a primeira atitude do governo foi fazer um jantar com 40 representantes dos países muçulmanos em Brasília. A ministra [da Agricultura] Tereza Cristina organizou esse jantar para sinalizar aos parceiros econômicos brasileiros."
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