Para a americana Abbigail Bugenske, 22 anos, o prêmio foi literal.
Apenas por haver tomado a vacina, Bugenske recebeu US$ 1 milhão (R$ 5,2 milhões). Ela foi sorteada nesta quarta (26/05) em uma "loteria de vacinas" do Estado de Ohio, nos Estados Unidos.
O programa, batizado de Vax-a-Million, foi criado para atrair mais interesse para a campanha de vacinação no Estado. Programas de incentivo à vacina nos Estados Unidos têm pipocado em diferentes cidades e Estados pelo país.
Todos os americanos adultos já podem se vacinar. Ou seja, por lá não faltam vacinas - diferente do que se vê em países como o Brasil, onde a falta de doses já fez atrasar a vacinação de milhares de brasileiros.
Apesar disso, o ritmo de vacinação nos Estados Unidos tem caído. Metade da população americana recebeu ao menos uma dose, mas a média de doses administradas por dia caiu consideravelmente no último mês.
A queda é preocupante em um país que já caminha para uma reabertura. E é aí que entram os programas de incentivo à imunização.
Bugenske, a nova milionária, não foi exatamente o público-alvo da campanha do governo de Ohio. Ao jornal americano The New York Times, ela disse ter tomado a vacina assim que chegou sua vez, antes da loteria ser anunciada. Depois, se inscreveu no sorteio. E se esqueceu completamente daquilo, até receber a ligação de que havia sido sorteada.
Bugenske é estudante de pós-graduação em engenharia aeroespacial na Ohio State University. Ela disse ao jornal The Washington Post que não tem planos de deixar o emprego. Quer doar parte de seu prêmio para a caridade e investir o restante.
"Eu incentivaria todos a tomarem a vacina", disse ela ao New York Times. "Se ganhar um milhão de dólares não é incentivo suficiente, eu realmente não sei o que seria."
São os outros 50% que ainda não tomaram nem uma dose da vacina que governos locais querem convencer que vale a pena sair de casa para receber uma injeção no braço. Se não pela imunidade conferida contra a covid-19, doença que já matou 3,5 milhões de pessoas no mundo e quase 600 mil nos EUA, pela conta bancária que pode engordar com alguns milhares de dólares.
"Minha esposa e eu visitamos mais de 40 centros de vacinação em todo o Estado, conversando com os habitantes de Ohio sobre o que os persuadiu a tomar a vacina. Muitos mal podiam esperar para serem vacinados. Outros se oponham tanto que não tínhamos esperança de convencê-los", escreveu o governador de Ohio, o republicano Mike DeWine, em um artigo para o New York Times.
"Havia um terceiro grupo que não tinha sentimentos fortes sobre a vacina. Muitas pessoas simplesmente não estavam com pressa. Este foi o grupo com que eu sabia que tínhamos uma oportunidade."
Segundo ele, desde o anúncio da loteria - com mais quatro ganhadores nas próximas quatro semanas -, a taxa de imunização aumentou 49% entre as pessoas com mais de 16 anos em Ohio, 36% entre minorias e 65% em pessoas morando em áreas rurais. O governador diz também que foi procurado por outros gestores estaduais para compartilhar detalhes sobre seu projeto.
A lista de iniciativas parecidas nos EUA é grande: que tal uma vacina no metrô em Nova York e, de quebra, ingressos gratuitos para atrações turísticas na cidade ou passagem livre no metrô durante uma semana?
O governador da Califórnia anunciou que o Estado distribuirá cartões pré-pagos com US$ 20 (R$ 105) e outros prêmios para as próximas 2 milhões de pessoas que se vacinarem. Trinta ganhadores receberão US$ 50 mil (R$ 261 mil) e dez pessoas extremamente sortudas vão ganhar não só anticorpos como também US$ 1,5 milhão (R$ 7,8 milhões).
Em Estados como Colorado, Maryland e Oregon há iniciativas semelhantes. Há cidades distribuindo cerveja de graça. E no Estado de Nova Jersey o prêmio é… um jantar com o governador. O prêmio para se vacinar nos EUA virou moda.
Não sem críticas: a imprensa americana vem registrando comentários de políticos e autoridades de saúde desaprovando a alocação de recursos. A loteria de Ohio, por exemplo, está sendo financiada com aporte do governo federal para combate ao coronavírus, algo que não foi 100% bem visto.
Também não se sabe o quão eficaz é a medida. US$ 1 milhão é capaz de fazer as pessoas mudarem de opinião sobre a vacina? Há quem diga que haverá mais desconfiança justamente por causa de um pagamento exagerado para algo que deveria ser tomado sem recompensas - ou com apenas a simples gratificação de proteger o vacinado de uma doença perigosa e contribuir para uma proteção coletiva.
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