"Dia da liberdade" ou "Dia do apocalipse"? A partir desta segunda-feira (19/7), a Inglaterra suspende a maioria das restrições que havia implementado para combater o coronavírus. Mas o anúncio dividiu opiniões.
Nessa tentativa de voltar à normalidade, não haverá limites para o número de pessoas que poderão se encontrar ou comparecer a eventos, as casas noturnas podem reabrir e as pessoas que trabalham em casa terão que retornar gradativamente ao escritório. O uso de máscaras será recomendado em alguns locais, mas não será uma obrigação legal.
No Twitter, a hashtag #FreedomDay ("Dia da Liberdade", em português) viralizou, com alguns usuários fazendo alusão à canção "Freedom", do britânico George Michael, morto em 2016.
Críticos, por outro lado, argumentaram que o cantor não ficaria feliz com a homenagem — Michael era crítico do Partido Conservador (atualmente no poder), realizou shows gratuitos para enfermeiras e apoiava abertamente o sistema de saúde público do país, o NHS, o SUS britânico.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, pediu cautela nesta nova fase. Johnson está em isolamento após entrar em contato direto com seu secretário de saúde, cujo resultado para covid-19 deu positivo.
Cientistas, no entanto, se mostram cautelosos. Eles alertam para um possível aumento de casos devido à suspensão das restrições. Alguns especialistas preveem que as infecções no Reino Unido, atualmente em torno de 50 mil por dia, podem chegar a 200 mil por dia no decorrer do verão.
No entanto, previsões apontam que, com mais de 68% dos adultos totalmente vacinados, hospitalizações e mortes por covid-19 ficarão abaixo dos picos anteriores.
'Momento certo'
Em um vídeo no Twitter, Johnson disse que agora é o "momento certo" para avançar para a fase final da rota que a Inglaterra traçou para sair do lockdown. "Se não fizermos isso agora, temos que nos perguntar, quando faremos?", disse o premiê britânico.
"Mas temos que fazer isso com cautela. Temos que lembrar que, infelizmente, esse vírus ainda existe. Os casos estão aumentando, podemos ver o contágio extremo da variante Delta (variante inicialmente detectada na Índia)." Johnson acrescentou que, no outono e inverno, o vírus teria a "vantagem do clima frio".
À medida que as restrições na Inglaterra diminuem, estabelecimentos como casas noturnas e empresas a cargo de grandes eventos estão sendo encorajados a pedir que o público apresente um documento — digital ou impresso — emitido pelo NHS que serve para verificar se as pessoas estão totalmente vacinadas.
Também está suspensa a recomendação que havia sido feita aos residentes do Reino Unido de não viajar para os países da "lista âmbar", que inclui mais de 140 países.
Adultos no Reino Unido que estão totalmente vacinados já não terão que se isolar por dez dias após visitarem essas nações, exceto para aqueles que viajam da França para a Inglaterra, Escócia ou País de Gales por causa das preocupações suscitadas pela variante Beta do vírus (inicialmente detectada na África do Sul).
Pelas regras de turismo do governo britânico, os países foram separados por cores — verde, âmbar e vermelho — , segundo a gravidade da crise de covid.
O Brasil permanece na "lista vermelha", ou seja, nações em que o coronavírus segue fora de controle. A recomendação oficial do governo é de não viajar a esses países.
As alterações nas restrições na Inglaterra a partir de 19 de julho incluem:
- Não há limite para o número de pessoas que podem se reunir, mas é recomendado que se encontrem do lado de fora, quando possível;
- Pessoas que atualmente trabalham em casa devem retornar gradualmente aos seus locais de trabalho;
- As casas noturnas podem reabrir;
- Teatros e cinemas podem operar com capacidade total;
- Empresas e eventos são aconselhados a usar certificados de covid-19 para limitar a propagação do vírus;
- O uso da máscara é recomendado em espaços públicos lotados, como transporte público;
- O distanciamento social não é obrigatório.
Aumento de casos
Tanto no sábado quanto no domingo, o Reino Unido registrou mais de 50 mil novos casos, número que não era alcançado desde meados de janeiro.
Durante a primeira semana de julho, o NHS alertou mais de 500 mil pessoas na Inglaterra e no País de Gales para se isolarem. Esse alerta é feito ora por meio de mensagens de texto ou do aplicativo.
Durante os últimos meses, era praxe que, ao entrar em um estabelecimento, como bares ou restaurantes, o cliente fizesse um "check-in" por meio do programa. Caso não o tivesse instalado em seu smartphone, era obrigado a deixar um número de contato telefônico. Nesse sentido, na eventualidade de algum dos frequentadores testar positivo para covid, todos eram avisados.
Mas, agora, com o relaxamento das regras, especialistas temem que o público simplesmente delete o aplicativo ou mesmo ignore recomendações de saúde pública.
Durante a semana passada, houve um aumento nas faltas escolares, devido ao fato de 840 mil alunos terem que se isolar.
Quase 88% dos adultos no Reino Unido receberam a primeira dose da vacina covid-19, enquanto 68,3% já receberam as duas doses, de acordo com dados do governo.
Nos próximos dias, espera-se que a vacina comece a ser oferecida rotineiramente a menores de 18 anos.
A partir de 16 de agosto, as pessoas na Inglaterra que receberam as duas doses não precisarão mais se isolar após um contato próximo com alguém infectado, mas qualquer um que apresentar um resultado positivo para covid-19 ou desenvolver sintomas terá de fazê-lo.
Preocupação
Por sua vez, os cientistas cujo modelo deu origem às primeiras restrições de âmbito nacional manifestaram preocupação com a reabertura. Eles argumentam que o Reino Unido pode ter até 200 mil casos e 2 mil hospitalizações por dia.
Em entrevista à BBC, Neil Ferguson, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Imperial College em Londres, disse que, entre agosto e meados de setembro, pode haver um aumento nas infecções.
Jonathan Ashworth, porta-voz de saúde do Partido Trabalhista, que faz oposição a Johnson, disse que o governo está sendo "imprudente" ao relaxar as restrições.
Por sua vez, Layla Moran, deputada à frente da Comissão Parlamentar do Coronavírus, disse que, ao relaxar as medidas enquanto "aumenta o número de casos", o governo está "colocando lenha na fogueira".
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