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INTERNACIONAL

Por que COVID volta a ameaçar britânicos apesar de 65% de vacinados

Cientistas ligados ao governo do Reino Unido alertam que pode haver um grande salto no número de internações hospitalares por covid na Inglaterra se as restrições não forem reforçadas.

 

Baseando-se em modelos matemáticos, o comitê Sage informou que as internações pela doença podem variar entre 2 mil e 7 mil por dia no mês que vem — atualmente, são pouco mais de 750.



 

Mas eles acrescentaram que um "conjunto relativamente leve de medidas" pode conter as infecções.

 

Após uma queda significativa, devido à vacinação em massa, as mortes por covid voltaram a subir no Reino Unido, embora permaneçam num patamar relativamente baixo em comparação ao auge da pandemia.

 

Mesmo assim, o número de óbitos confirmados por dia no país por milhão de habitantes (2,07) já é quase igual ao do Brasil (2,17).

 

Outros países com ampla vacinação, como Israel e Estados Unidos, também viram seus números de covid crescer nas últimas semanas.

 

Os EUA lideram o ranking mundial no número de casos de covid confirmados por dia por milhão de habitantes, por exemplo. Ali, a taxa é de 5,54, mais do que o dobro da do Brasil.

 

Os dados, do último dia 13 de setembro, são da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido).



 

Recentemente, o Reino Unido flexibilizou as medidas de contenção da pandemia, como proibição de aglomerações e uso de máscaras.

 

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse esperar que o aumento da vacinação possa evitar que novas restrições sejam implementadas.

 

Ao anunciar seu plano de inverno para enfrentar a covid na Inglaterra na terça-feira (14/9), o primeiro-ministro disse que algumas medidas poderiam ser tomadas como parte do Plano B do governo se o serviço de saúde pública do Reino Unido, o NHS (SUS britânico), enfrentasse uma pressão insustentável.

 

Isso inclui passaportes para vacinas, máscaras faciais obrigatórias e recomendações para trabalhar de casa.

 

Informações divulgadas pelo Grupo de Aconselhamento Científico para Emergências (Sage) na terça-feira, datadas de 8 de setembro, indicaram que há "potencial para outra grande onda de hospitalizações".



 

Os cientistas responsáveis pela modelagem matemática de infecção do vírus que assessoram o comitê — o Grupo Científico de Influenza Pandêmica em Modelagem (SPI-M, na sigla em inglês) — disseram que é possível que ele se espalhe mais rapidamente após o retorno das escolas e mais pessoas voltem aos seus locais de trabalho.

 

Eles observaram que os altos níveis de trabalho remoto desempenharam um "papel muito importante na prevenção do crescimento sustentado da epidemia nos últimos meses".

 

"É altamente provável que uma diminuição significativa no trabalho de casa nos próximos meses resultaria em um rápido aumento nas internações hospitalares."

No entanto, os cientistas acrescentaram que mesmo um "conjunto relativamente leve de medidas", se implementado cedo o suficiente, poderia limitar o aumento dos casos.

 

"Além de encorajar o trabalho remoto, medidas mais leves incluem recomendar que as pessoas ajam com cautela, façam testes com regularidade, isolem-se caso tenham entrado em contato com o vírus e usem máscaras".



 

Eles disseram que se o governo deixasse a epidemia crescer até que as hospitalizações ficassem muito altas, "medidas muito mais rigorosas (e, portanto, mais perturbadoras) seriam necessárias para reduzir a prevalência rapidamente".

 

No entanto, o órgão reconheceu que seu alerta anterior — de que a suspensão de todas as restrições durante o verão poderia levar a um surto em grande escala — não se confirmou.

 

Em entrevista a jornalistas na terça-feira (14/9), Johnson disse contar que o programa de vacinação permitiria ao Reino Unido permanecer como "uma das sociedades mais livres" da Europa, com apenas restrições limitadas para manter a doença sob controle.



 

"Como grande parte da população tem algum grau de imunidade, mudanças menores na maneira como pedimos às pessoas que se comportem podem ter um impacto maior."

 

Ele apelou aos 5 milhões de pessoas que não se vacinaram para finalmente receberem o imunizante, em um esforço para evitar restrições mais duras durante o inverno.

 

Na mesma coletiva de imprensa, Patrick Vallance, o principal conselheiro científico do governo, disse que o país estava em um "ponto crucial" e que os ministros precisariam reagir rapidamente se os casos aumentassem.

"Não podemos esperar até que seja tarde demais", disse.

 

Chris Whitty, chefe dos serviços médicos da Inglaterra, alertou que os vírus respiratórios, como a gripe e outros, seriam "extremamente favorecidos" no inverno.



 

Ele também enfatizou que o país entrava no outono com um índice de casos, internações e mortes muito maior do que no ano passado.

 

Na terça-feira, o Reino Unido registrou mais 26.628 casos e outras 185 mortes em 28 dias após um diagnóstico positivo para covid. Os dados mais recentes mostraram que havia 8.413 pacientes internados no hospital com a doença.

Em 15 de setembro do ano passado, os números eram bem inferiores: 3.105 casos diários e 27 mortes — as internações por covid, por sua vez, totalizam 1.066.

 

No entanto, as vacinas agora oferecem ampla proteção contra doenças graves. Cerca de 81,2% das pessoas com 16 anos ou mais no Reino Unido já receberam as duas doses do imunizante.

 

O ministro de Saúde do Reino Unido, Sajid Javid, também confirmou na terça-feira que todos os maiores de 50 anos no Reino Unido — bem como aqueles em outros grupos vulneráveis %u200B%u200B— receberiam uma dose de reforço.



 

Essas pessoas receberão a vacina Pfizer ou Moderna pelo menos seis meses após a segunda dose, a fim de maximizar o impacto do imunizante.


"Não podemos esperar até que seja tarde demais", disse principal conselheiro científico do governo britânico (foto: Getty Images)

Análise de Hugh Pym, editor de Saúde da BBC

Os cientistas responsáveis pela modelagem matemática de infecção do vírus que se reportam ao comitê Sage eram muito pessimistas em julho, quando presumiram que a abertura da sociedade levaria a um aumento nas infecções e internações hospitalares.

 

O último conjunto de documentos mostra que o fechamento de escolas, o clima quente e um grande número de pessoas sendo obrigadas a se isolar desempenharam um papel maior do que o esperado no controle das infecções.

 

Mas eles continuam dizendo que pico de casos esperado anteriormente para agosto agora simplesmente foi adiado para o período de outubro até dezembro.

O retorno de escolas e faculdades pode elevar as taxas de casos. Outra grande onda de hospitalizações se aproxima, dizem eles.



 

Neste sentido, defendem a intervenção precoce com medidas que incluam, por exemplo, fazer com que mais pessoas trabalhem em casa novamente.

Isso poderá fazer com que o governo lance mão de seu plano B para a Inglaterra.

 

Os céticos dirão que os cientistas erraram antes e certo ceticismo é necessário. Mas poucos negariam a possibilidade de um inverno muito difícil pela frente.

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