Um discurso de abertura "provocantemente constrangedor". Assim o jornal americano The Washington Post definiu a fala do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) na 76ª sessão da Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (21/09).
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O New York Times observou a defesa feita por Bolsonaro de medicamentos ineficazes para o tratamento da covid-19 e sua tentativa de responder às críticas que tem sofrido.
Enquanto o britânico The Guardian enfatizou, além da defesa do "tratamento precoce", a crítica do presidente brasileiro à exigência de "passaporte de vacinação".
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Quebra do 'sistema de honra'
"Bolsonaro foi acusado de alimentar o sentimento anti-vacina e diz que não precisa ser vacinado porque se recuperou de um leve caso de covid-19 em julho passado", contextualizou o Washington Post, em reportagem desta terça-feira, após o discurso do brasileiro.
"Embora ele tenha dedicado apenas uma pequena parte de seu discurso à pandemia, sua presença na assembleia diz muita coisa: como não foi totalmente imunizado, Bolsonaro parece ter quebrado regras da ONU que pediam que todos aqueles que fossem entrar na sala da assembleia geral fossem totalmente vacinados, sob um 'sistema de honra'", observa o jornal.
"Não está claro se haverá alguma repercussão para Bolsonaro por aparentemente quebrar a regra", disse o periódico, destacando ainda que Bolsonaro optou por focar seu discurso numa suposta revitalização política e econômica do Brasil, ao invés da pandemia.
O jornal afirmou que Bolsonaro não tem sido discreto desde sua chegada a Nova York na segunda-feira, lembrando do encontro entre o brasileiro e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, do episódio da pizza na calçada e do fato de um membro da comitiva diplomática brasileira ter testado positivo para o coronavírus nos Estados Unidos.
Tratamento ineficaz
O New York Times, por sua vez, enfatizou a apologia feita por Bolsonaro de medicamentos ineficazes para o tratamento da pandemia.
"O presidente de extrema direita do Brasil disse que os médicos deveriam ter mais margem de manobra para administrar medicamentos não testados para covid-19, acrescentando que ele estava entre aqueles que se recuperaram após o tratamento 'fora da bula' com uma pílula anti-malária que estudos consideraram ineficaz para tratar a doença", destacou o NYT.
O periódico nova-iorquino também enfatizou a decisão de Bolsonaro de viajar aos Estados Unidos sem ter tomado vacina, lembrando que isso criou situações "constrangedoras", como o encontro entre Bolsonaro e Boris Johnson, em que o brasileiro disse ao britânico não ter ainda tomado a vacina, aos risos.
"O presidente do Brasil liderou uma das respostas mais criticadas do mundo à pandemia", lembrou o NYT. "Bolsonaro minimizou repetidamente a ameaça que o vírus representava, criticou as medidas de quarentena e foi multado por se recusar a usar máscara."
Ao destacar o esforço de Bolsonaro para mostrar "um Brasil diferente" em seu discurso e que o país "mudou muito desde 2019", o jornal acrescentou que a gestão dele enfraqueceu o cumprimento da legislação de proteção ambiental e tirou poderes das agências que tinham essa prerrogativa.
"Ainda assim, nesta terça-feira, ele argumentou que o Brasil deveria ser aplaudido por quanto de suas florestas permanecem intactas", pontuou o jornal.
'Figura controversa'
O jornal britânico The Guardian lembrou que Bolsonaro se mostrou uma "figura controvertida" ao longo da pandemia de covid-19, "minimizando os impactos do vírus e recusando-se desafiadoramente a ser vacinado".
O Guardian foi um dos poucos veículos estrangeiros a destacar o anúncio feito por Bolsonaro da realização do leilão da tecnologia 5G e a intenção do Brasil de conceder vistos a afegãos "cristãos, mulheres e crianças".
O periódico também mencionou a fala de Bolsonaro de que o Brasil estaria, antes do seu governo, "à beira do socialismo".
Voltada a um público de investidores, a agência Bloomberg destacou a tentativa de Bolsonaro de melhorar sua imagem, em meio às críticas à sua política ambiental e atuação na pandemia.
"O líder conservador destacou os esforços para abrir a economia brasileira ao investimento estrangeiro, defendendo sua política ambiental e sua trajetória durante a pandemia", observou a Bloomberg.
"Bolsonaro, que até agora se recusou a receber a vacina contra a covid-19, disse que seu governo apoia a campanha de vacinação de forma voluntária (...) repetindo que as medidas restritivas adotadas pelos governadores durante a pandemia foram responsáveis %u200B%u200Bpelas altas taxas de desemprego e inflação do país."
A agência de notícias lembrou ainda que a popularidade de Bolsonaro está atualmente em sua mínima histórica, que seu governo é investigado por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Senado e que Bolsonaro sofreu críticas do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, por viajar à cidade americana sem ter tomado vacina.
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