Jornal Estado de Minas

Ômicron: o que se sabe sobre a nova variante do coronavírus detectada na África do Sul

Reportagem atualizada às 21h55 de 27 de novembro de 2021

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na sexta-feira (26/11) que a variante do coronavírus registrada pela primeira vez na África do Sul, batizada de Ômicron, representa um risco maior de reinfecção de covid-19, segundo evidências preliminares.





Antes chamada de B.1.1.529, a cepa já foi identificada em Israel, Bélgica, Hong Kong e Botsuana, além da África do Sul. A OMS classificou a Ômicron como "variante preocupante" (variant of concern, o termo usado para descrever as variantes mais problemáticas até agora, como a delta, gamma etc).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou que o governo adote restrições para voos e viajantes vindos da África do Sul e cinco países vizinhos — Botsuana, Suazilândia (Essuatíni), Lesoto, Namíbia e Zimbábue. Horas depois, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, escreveu no Twitter que restrições a passageiros vindos destes países entrarão em vigor a partir de segunda-feira (29).

Neste sábado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota técnica sugerindo que mais quatro países sejam adicionados nessa lista: Angola, Malawi, Moçambique e Zâmbia.

Até agora, foram confirmados 77 casos na Província de Gauteng, na África do Sul. A OMS disse que os casos parecem estar crescendo em todas as províncias do país.





O primeiro caso de que se tem conhecimento, segundo a OMS, é de uma amostra de vírus coletada em 9 de novembro.

Houve também quatro casos em Botsuana e um em Hong Kong, diretamente relacionado a uma viagem à África do Sul. Na Europa, o primeiro caso foi confirmado na Bélgica, em um paciente que havia chegado do Egito no início de novembro.

A Alemanha confirmou dois casos na região da Baviera e Itália e República Checa registram um caso cada. Em Israel, também consta um caso confirmado.

50 mutações

Em uma entrevista coletiva, o professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação da África do Sul, disse que foram localizadas 50 mutações no total, e 32 na proteína spike — "chave" que o vírus usa para entrar nas células e alvo da maioria das vacinas contra a covid-19.

Oliveira, que é brasileiro, disse que a variante carrega uma "constelação incomum de mutações" e é "muito diferente" de outros tipos que já circularam.

Apenas 24% da população da África do Sul foi totalmente vacinada (foto: Reuters)

"Esta variante nos surpreendeu, ela deu um grande salto na evolução muito mais mutações do que esperávamos", disse ele.





A OMS também destacou que "a variante tem um alto número de mutações, algumas das quais preocupantes".

"Evidências preliminares sugerem um risco maior de reinfecção com esta variante, em comparação com outras variantes de preocupação", diz comunicado da organização. "O número de casos parece estar aumentando em todas as províncias da África do Sul."

Segundo a OMS, os testes existentes de detecção da covid-19 são capazes de detectar a Ômicron.

Existe o temor na comunidade científica de que a variante possa ser "a pior já existente", embora haja poucas informações disponíveis até o momento — a OMS afirmou que levará semanas para analisar em detalhes a nova variante.

Com base nas descobertas até agora, cientistas temem que essa nova versão do coronavírus seja mais transmissível e "drible" com mais facilidade o sistema imunológico.

Em termos práticos, isso significa não só mais infecções, o que aumenta consequentemente as hospitalizações e mortes, mas a possibilidade de que as vacinas disponíveis hoje possam ser menos eficazes contra ela.





A chave para entender por que a Ômicron trouxe tamanha preocupação se deve ao seu alto número de mutações.

Vírus fazem cópias de si mesmos para se reproduzir, mas não são perfeitos nisso. Erros podem acontecer, resultando em uma nova versão ou "variante".

Se isso der ao vírus uma vantagem de sobrevivência, a nova versão prosperará. As vacinas foram desenvolvidas mirando a cepa original do coronavírus, registrada inicialmente em Wuhan, na China.

Uma das farmacêuticas que desenvolve vacinas, a Novavax, já está trabalhando em uma versão do imunizante que mira na variante Ômicron.

Quanto mais chances o coronavírus tem de fazer cópias de si mesmo em nós — o hospedeiro — mais oportunidades existem para que as mutações ocorram.

Por isso, é importante controlar as infecções. As vacinas ajudam a reduzir a transmissão e também protegem contra formas mais graves da covid.





No entanto, serão necessárias várias semanas de análise para determinar, de fato, a transmissibilidade da Ômicron e os efeitos disso na eficácia das vacinas, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.

Baixa taxa de vacinação

Na África do Sul, apenas 23,5% da população está totalmente vacinada, em comparação com 60% no Brasil, segundo dados da plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido

O programa de vacinação do país desacelerou nos últimos meses — não por causa da falta de suprimentos, mas devido à indiferença pública.

Esse nível de mutação provavelmente veio de um único paciente que não conseguiu se livrar de uma infecção por covid rapidamente, dando ao vírus mais tempo para se transformar.

Muitas mutações não significam automaticamente algo ruim. O importante é saber o que elas provocam.

Houve na pandemia muitos exemplos de variantes que inicialmente pareciam assustadoras, mas acabaram não correspondendo a estas terríveis expectativas.

É o caso da variante beta, que inicialmente assustou por sua aparente capacidade de driblar o sistema imunológico. Entretanto, foi a variante delta que se espalhou pelo planeta.





Algumas das mutações observadas na B.1.1.529 já foram detectadas em outras variantes, o que pode dar pistas de seus efeitos.

Existem outras que tornam mais difícil para os anticorpos reconhecerem o vírus e podem tornar as vacinas menos eficazes, mas existem algumas que são completamente novas.

O professor Richard Lessells, da Universidade de KwaZulu-Natal na África do Sul, apontou que ainda há perguntas importantes a serem respondidas sobre essas alterações genéticas.

"Nos preocupa que esse vírus possa ter maior capacidade de se espalhar de pessoa para pessoa — mas também que seja capaz de contornar peças do sistema imunológico."


Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!





audima