Jornal Estado de Minas

Djokovic é liberado para ficar na Austrália: por que tenista nº1 do mundo é tão polarizador

Novak Djokovic é um dos maiores vencedores de torneios Grand Slam da história e é o atual número um do mundo — mas ele também é uma das figuras mais polarizadoras de seu esporte.

Nesta segunda-feira (10/1) um juiz australiano decidiu liberar o tenista, que havia sido detido na quarta-feira da semana passada (5/1). No entanto, ele ainda pode vir a ter que deixar a Austrália nos próximos dias, caso o ministro da Imigração use seus poderes para deportá-lo.





O jogador sérvio de 34 anos voou para Melbourne na semana passada, na esperança de defender seu título no Aberto da Austrália. Mas na chegada ao aeroporto de Melbourne, o visto do jogador de tênis foi cancelado por oficiais de fronteira.

As regras de fronteira da Austrália proíbem estrangeiros de entrar no país se eles não tiverem recebido duas doses de vacina ou algum tipo de atestado médico.

Djokovic, que é conhecido por ser contra a vacinação contra covid, solicitou um visto de "atividade temporária", que permite a entrada de estrangeiros para grandes eventos. Esse é o mesmo visto usado pela maioria dos jogadores que competem no Aberto da Austrália.

Ele recebeu das autoridades do tênis um atestado médico para jogar no torneio endossada pelo governo do Estado de Victoria — que seus advogados dizem ter sido dado com base no fato de ele ter tido covid, confirmado em um teste de PCR em 16 de dezembro. No entanto, esse atestado foi rejeitado pelas autoridades de fronteira, que pertencem ao governo federal.





Após oito horas no controle de imigração, Djokovic foi transferido para uma zona de detenção para ser deportado. Ele passou o fim de semana em um hotel de detenção de imigrantes que tem sido frequentemente criticado por refugiados por suas péssimas condições.

Nesta segunda-feira, Djokovic ganhou na Justiça o direito de entrar na Austrália. Mas o jogador ainda pode vir a ser deportado nos próximos dias, caso o ministro da imigração da Austrália use seu poder para cancelar novamente o visto.

Centenas de torcedores sérvios em Melbourne estão apoiando Djokovic (foto: Reuters)

A polêmica na Austrália é mais uma de uma série envolvendo um dos tenistas mais bem-sucedidos da história do esporte.

Como um menino que precisou se abrigar durante o bombardeio da Otan em Belgrado em 1999 se tornou um jogador de ponta — e uma figura tão polêmica no esporte?

'Você não pode fazer as pessoas te amarem'

Quando Djokovic enfrentou o suíço Roger Federer na final de Wimbledon de 2019, o encontro épico foi marcado por vaias ao sérvio.





Cada erro seu foi comemorado, e ele foi xingado em um ambiente que mais parecia com um estádio de futebol. Comentaristas chegaram a pedir aos torcedores que mostrassem mais respeito pelo jogador.

Djokovic foi impedido de entrar na Austrália na semana passada (foto: Reuters)

Djokovic salvou match points e acabou vencendo a final clássica.

É difícil saber exatamente por que Djokovic foi tão vaiado. É verdade que ele estava enfrentando Federer, um dos jogadores mais populares do esporte, que possui um grande número de fãs. Mas Djokovic também é um dos maiores atletas da história do tênis.

"Você não pode fazer as pessoas te amarem e esse tem sido o problema dele", disse seu ex-técnico Boris Becker à BBC.

"Ele é um ótimo jovem esportista com a atitude certa e o caráter certo, ele só tem uma visão diferente da vida. Ele tem uma visão diferente sobre como ele come, como bebe, como ele dorme. É aí que você não pode criticá-lo. Talvez seja por isso que ele é tão bem sucedido, mas ele não vai agradar a todos — eu entendo."





Seu jeito de celebrar irrita as pessoas? Ou seria alguma outra coisa de seu comportamento na quadra?

Ele tem sido acusado por jogadores de exagerar nas lesões. Em 2008, o tenista Andy Roddick zombou de Djokovic, sugerindo que entre as muitas doenças que incomodam o sérvio no Aberto dos EUA estão a gripe aviária, o antraz e a SARS.

Ou são seus flashes de raiva? O mais famoso deles terminou com uma desclassificação no Aberto dos EUA de 2020, quando ele acidentalmente acertou uma bola em um juiz de linha.

Suas críticas aos árbitros e gandulas ao longo dos anos também contrastaram com os comportamentos mais serenos de seus dois rivais mais próximos, Federer e Nadal, e a palavra "arrogante" nunca está longe dos lábios de seus críticos.

Pode ser uma mistura de tudo isso, mas também vale a pena considerar o que aconteceu com sua vida fora da quadra.

'Boas intenções' ou 'egoísta'?

Djokovic atraiu muitas críticas no início da pandemia, quando esteve entre vários jogadores que testaram positivo para covid-19 em seu evento do Adria Tour, onde os jogadores não precisaram se distanciar socialmente e foram vistos se abraçando na rede.





Embora as regras de lockdown na Croácia estivessem mais relaxadas naquele momento, ainda não existia vacina contra a doença. O britânico Dan Evans disse que o torneio foi "um mau exemplo" e o australiano Nick Kyrgios disse que o evento foi uma "decisão estúpida".

Djokovic mais tarde se desculpou, dizendo que era "ainda muito cedo" para realizar o evento, mas que a decisão de realizar o torneio havia sido motivada por "um coração puro" e "boas intenções".

Ele voltou a ser alvo de críticas no ano passado, quando pediu ao diretor do torneio do Aberto da Austrália que relaxasse regras de quarentena, reduzindo os períodos de isolamento e transferindo os jogadores em quarentena para casas particulares com quadras de tênis.

Mais uma vez, Djokovic apontou para "boas intenções" e disse que sua sugestão foi "mal interpretada como sendo egoísta, difícil e ingrata".

Um sérvio espiritual e cheio de paixão que quer ser amado

Boas intenções são o princípio por trás de sua Fundação Novak Djokovic, que constrói pré-escolas e apoia o treinamento de professores na Sérvia para dar "às crianças de áreas pobres a chance de aprender e brincar em um ambiente seguro, criativo e estimulante", e ele foi inspirado por sua infância marcada pela guerra.





Seu país está no centro de sua motivação. Ele diz que jogar pela seleção nacional da Sérvia é tão importante quanto disputar Grand Slams. Ele também adora distribuir raquetes para jovens torcedores.

Novak Djokovic ficou detido em hotel após entrar na Austrália (foto: Getty Images)

Os fãs de Djokovic — e você só precisa estar em uma eliminatória da Copa Davis da Sérvia para saber que há milhares deles e que eles fazem bastante barulho — comemoram o fato de ele ser bem-sucedido em uma época com outros dois grandes, Federer e Nadal.

Uma pessoa altamente espiritual que pratica ioga e meditação e segue uma dieta baseada em legumes, Djokovic uma vez disse que um de seus retornos à forma, que culminou em títulos consecutivos de Grand Slam, foi resultado de uma trilha de cinco dias em uma montanha com sua esposa.

Apelidado de "The Joker" ("O Palhaço") no início de sua carreira, quando costumava fazer imitações bem-humoradas de seus colegas atletas, ele faz muito esforço para ser adorado.

Djokovic nunca teve o nível de apoio da torcida dado a Federer e Nadal, especialmente nos Grand Slams, e particularmente no Aberto dos EUA, onde às vezes foi vaiado.





Embora muitas vezes tenha ignorado as vaias, ele não conseguiu esconder as lágrimas na final do Aberto dos EUA do ano passado, quando disse que, embora tivesse perdido a partida, ele era "o homem mais feliz do mundo" por causa do amor que recebia da multidão.

O jornalista sérvio Sasa Ozmo diz à BBC que Djokovic recebe "tratamento injusto" há anos, mas que o tenista "frequentemente cometeu erros que deram munição às críticas".

"Mas às vezes as coisas que ele fez que são muito positivas simplesmente não são mencionadas com frequência", disse ele.

'Novax' Djokovic

O amor que ele conquistou em Nova York pode ter evaporado esta semana na Austrália. Muitos ficaram furiosos porque Djokovic, que disse ser contra a vacinação contra covid-19, recebeu permissão médica para disputar o Aberto da Austrália de dois painéis independentes organizados pela entidade nacional de tênis e pelo Estado australiano de Victoria.





Os australianos tiveram que aguentar algumas das restrições mais rígidas do mundo — muitos ainda não podem viajar entre estados ou internacionalmente. Para muitos, Djokovic está recebendo tratamento especial.

Na semana passada, Djokovic ficou detido por várias horas no aeroporto de Melbourne antes que as autoridades de fronteira anunciassem que ele não cumpria as regras de entrada relacionadas à isenção.

O debate sobre a participação dele no torneio na Austrália dominou a pré-temporada e, embora muitos tenham questionado sua oposição à vacinação, a maneira como ele anunciou que jogaria o torneio aumentou ainda mais o tom das críticas.

Djokovic publicou em suas mídias sociais que havia recebido a permissão médica sem nenhuma outra explicação, levando australianos, torcedores, políticos e outros jogadores a exigir respostas.

Djokovic entrou com recurso contra a deportação e conquistou o direito de ficar no país. Caso consiga disputar o torneio, que será realizado entre os dias 17 e 30 de janeiro, o sérvio buscará seu décimo título do Aberto da Austrália e 21º título Grand Slam. Ele provavelmente será vaiado pelos torcedores que o apelidaram de "Novax" ("Sem vacina") — mas aplaudido pelos que foram mostrar apoio ao atleta no hotel onde ele ficou detido.






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