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Estado de Minas BBC

Como COVID longa pode afetar apetite e deixar crianças 'chatas para comer'

Guia elaborado por profissionais orienta pais a como reduzir os efeitos da parosmia, distúrbio que muda a percepção da pessoa sobre o odor de alimentos


18/01/2022 21:15 - atualizado 18/01/2022 21:15

Refeição em família
Crianças que não comem mais alimentos que adoravam podem estar com parosmia (foto: Getty Images)
Crianças que recentemente ficaram "chatas para comer" podem estar exibindo um distúrbio pós-covid ligado ao paladar e ao olfato, segundo especialistas.

 

A parosmia, problema que faz com que pessoas a experimentem estranhas distorções de olfato, é um efeito colateral já bem documentado em adultos que tiveram a covid-19 e parte do que ficou conhecido como "covid longa".

 

Agora a Universidade de East Anglia (UEA), no Reino Unido, e a entidade beneficente Fifth Sense criaram um guia para reconhecer o fenômeno também em crianças.

 

"Eu imagino que haja muitos pais intrigados and realmente preocupados", disse o professor Carl Philpott, da UEA. "Em muitos casos, a condição está afastando crianças da comida, e muitas podem estar tendo dificuldades em comer qualquer coisa."

Pacientes adolescentes

Segundo Philpott, estima-se que a parosmia tenha afetado 25 mil adultos no Reino Unido como resultado da covid-19. O distúrbio pode fazer com que pessoas sintam um odor desagradável vindo de alimentos, como o de carne estragada ou elementos químicos.

 

Philpott, otorrinolaringologista na escola de medicina da universidade, na cidade inglesa de Norwich, disse que começou a atender pacientes adolescentes com parosmia pela primeira vez em sua carreira.

 

"É algo que até agora não foi realmente reconhecido por profissionais de medicina, que apenas acham que as crianças estão sendo difíceis para comer, sem perceber o problema por trás disso", afirma.

 

"Para algumas crianças - e particularmente aquelas que já têm dificuldades com a alimentação ou outras condições, como autismo - pode ser bem difícil."

'Ele simplesmente parou de comer'

Desde que pegou covid em setembro de 2021, Malisse Kafi, de 11 anos, passou a ter dificuldades em comer ou beber porque tudo tem "gosto de cocô ou ovo podre".

 

Sua mãe, Dawn Kafi, de Liverpool, norte da Inglaterra, disse que a comida voltava e o fazia engasgar. Em dois meses, ele foi levado às pressas ao hospital sofrendo de desidratação, tendo perdido 2 quilos. "Foi horrível", disse ela.

 

"Foi realmente difícil saber o que fazer. Tentamos de tudo para fazer com que ele se alimentasse, cozinhamos seus pratos prediletos, mas tudo o deixava realmente enjoado."

 

Malisse foi diagnosticado com parosmia e recebeu um spray nasal de esteroide, mas isso não ajudou. No hospital, ele precisou ser alimentado por meio de um tubo.

 

"Nós nunca tínhamos ouvido falar de parosmia", afirmou Dawn Kafi. "Foi de partir o coração vê-lo deteriorar. Ele parou de vez de comer."

 

Segundo sua mãe, Malisse estava "extremamente cansado e frio, o tempo todo" e tinha problemas de saúde. Agora ele recebe alimentos seguros, incluindo salmão e Dairylea (uma espécie de queijo).

Alimentos seguros e treinamento

Duncan Boak, da Fifth Sense, uma entidade beneficente para pessoas afetadas por distúrbios de olfato e paladar, disse ter ouvido falar de muitos casos de crianças com muita dificuldade com sua alimentação depois de terem contraído a covid-19.

 

"Ouvimos de alguns pais, cujos filhos têm enfrentado problemas nutricionais e perderam peso, mas médicos dizem que se trata apenas de crianças chatas para comer", disse ele. "Nós estamos muito dispostos a compartilhar mais informação sobre essa questão com o setor de saúde, para que eles estejam cientes de que existe um problema maior aqui."

 

O guia, elaborado pelo professor Philpott e a Fifth Sense, mostra como pais podem ajudar seus filhos mantendo um diário com uma relação de alimentos seguros e outros que podem disparar os sintomas da parosmia.

 

As crianças deveriam ser incentivadas a experimentar comidas com gosto mais leve, para verificarem o que elas conseguem comer ou gostar e mesmo tentar comer com um pregador de roupa no nariz, para bloquear sabores.

 

O guia também defende uma técnica simples de "treinamento do olfato". Ela consiste em ficar cheirando pelo menos quatro odores diferentes, duas vez ao dia, durante vários meses, para auxiliar na recuperação da criança.

 

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