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Estado de Minas CONFLITO ARMADO

Rússia invade Ucrânia: 10 questões para entender a crise

O que você precisa saber sobre as disputas políticas e a invasão russa da Ucrânia: das demandas russas às intenções dos EUA e seus aliados.


26/02/2022 09:18 - atualizado 26/02/2022 10:00


Prédio de Kiev destruído
Prédios de Kiev foram destruídos por ataques da Rússia (foto: EPA)

A Ucrânia foi invadida no dia 24 de fevereiro por comboios russos chegando de todas as direções. Desde então, há relatos de ataques à infraestrutura militar ucraniana em todo o país.

Após meses negando qualquer intenção de atacar seu vizinho, o presidente Vladimir Putin ordenou o ataque militar em larga escala e adentrou as fronteiras ucranianas por terra, mar e ar.

À medida em que o número de mortos aumenta, Putin é acusado de colocar em risco a paz no continente europeu.

A seguir, a BBC News Brasil reuniu os principais tópicos necessários para entender o conflito e as perguntas que ainda precisam ser respondidas nos próximos dias.

1. Quais as justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia?

Vladimir Putin anunciou uma "operação militar" na região de Donbas, no leste da Ucrânia, em um pronunciamento televisionado na manhã do dia 24 de fevereiro.

O presidente russo disse que estava intervindo como um ato de legítima defesa. Segundo ele, a Rússia não queria ocupar a Ucrânia, mas sim proteger a população local de um genocídio e desmilitarizar e "desnazificar" o país.

Putin afirma com frequência que a Ucrânia está sendo tomada por extremistas desde que seu presidente pró-Rússia, Viktor Yanukovych, foi deposto em 2014 após meses de protestos contra seu governo.

Após a queda do chefe de Estado ucraniano, a Rússia invadiu e anexou a região da Crimeia, no leste do país. A movimentação desencadeou uma rebelião separatista nas regiões de Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes apoiados por Moscou lutam desde então, em uma guerra que já custou 14.000 vidas.

No final do ano passado, Putin passou a enviar tropas para as regiões de fronteira com a Ucrânia e no dia 21 de fevereiro — três dias antes da invasão — reconheceu a independência das duas regiões separatistas.

O líder russo ainda afirmou que os acordos de Minsk, acordados em 2014 e 2015 entre Ucrânia e Rússia para estabelecer um cessar-fogo, já não estava mais válido.

Para além das acusações de extremismo, Putin há muito resiste ao movimento da Ucrânia de aproximação com instituições controladas pelos americanos e europeus, como a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Ele exige garantias que a Ucrânia se desmilitarize e se torne um Estado neutro e, ao anunciar a invasão da Rússia, acusou a Otan de ameaçar "nosso futuro histórico como nação".

Putin quer ainda que a Otan abandone totalmente sua presença militar no leste europeu, que inclui também exercícios militares regulares na Lituânia, Letônia e Estônia. Esses ex-estados soviéticos passaram a fazer parte da aliança militar comandada pelos Estados Unidos e Europa, ampliando ainda mais os temores de Moscou de perder o controla sobre a região.


Poderio militar
(foto: BBC)

2. Por que a invasão ocorreu agora?

É difícil saber exatamente qual a estratégia do governo russo nesse momento. Mas a resposta para entender por que Putin escolheu agir agora pode passar pelo equilíbrio de poder.

Enquanto se aproxima cada vez mais da Otan e da União Europeia, a Ucrânia vem se fortalecendo lentamente e conseguiu reconstruir seu exército desde a anexação da Crimeia em 2014.

O conflito há oito anos e as lutas separatistas desde então também serviram como uma valiosa experiência no combate contra as forças russas.

Ao mesmo tempo, as Forças Armadas russas também se encontram em sua melhor forma desde a Guerra Fria.

As finanças públicas de Moscou estão equilibradas, com as reservas do Banco Central atingindo 640 bilhões de dólares, segundo a revista Forbes. O total é um recorde para o país e equivale a 17 meses de receita integrais obtidas com as exportações nacionais.

Dessa forma, é possível que Putin acredite que este é o melhor momento para agir do ponto de vista militar. O líder russo também parece acreditar que tem condições de arcar com os custos do conflito e das inevitáveis %u200B%u200Bsanções.


mapa com relatos de explosões em cidades ucranianas
(foto: BBC)

3. O que a Ucrânia diz sobre o ataque?

Desde que a Rússia deslocou suas primeiras tropas para a fronteira com a Ucrânia, o governo do presidente Volodymyr Zelensky tem protestado contra os avanços e pedido apoio da Otan e outros aliados.

Pouco antes do anúncio de Putin sobre a invasão, o líder ucraniano foi enfático ao afirmar que um ataque ao seu território poderia "marcar o início de uma grande guerra no continente europeu".

Zelenski disse que tentou entrar em contato com Putin, mas o líder russo se recusou a atendê-lo. O ucraniano rejeitou as alegações do Kremlin de que seu país está tomado por extremistas ou representaria alguma ameaça à Rússia, e disse que uma possível invasão iria custar milhares de vidas.

"Você diz que somos nazistas, mas como um povo pode apoiar os nazistas sendo que demos mais de oito milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo?", questionou Zelensky em um discurso televisionado, fazendo referência às disputas da Segunda Guerra Mundial.

Quando o ataque se tornou uma realidade incontestável, a Ucrânia decretou lei marcial — o que significa que os militares assumem o controle temporariamente — e cortou relações diplomáticas com a Rússia.

O presidente Zelensky instou os russos a protestar contra a invasão e disse que armas seriam distribuídas a qualquer pessoa na Ucrânia que desejasse.

Com o avanço de forças russas na direção da capital Kiev, autoridades locais pediram à população que faça todo o possível para resistir às tropas invasoras.

Os ministérios da Defesa e do Interior passaram a pedir a moradores de Kiev que "nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo".

Um folheto com instruções, passo a passo, sobre como produzir bombas de gasolina improvisadas foi publicado na conta do Ministério do Interior nas redes sociais.

Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, implorou ao mundo que imponha sanções devastadoras à Rússia, incluindo excluir o país do sistema internacional de transferência bancária Swift.


Vladimir Putin
Putin quer que a Otan interrompa sua expansão e retorne ao tamanho que tinha em 1997 (foto: MIKHAIL KLIMENTYEV/Getty Images)

4. Quais os interesses russos nas Províncias separatistas?

O decreto de reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk permite que a Rússia construa bases militares e envie tropas russas em "missões de paz" para as duas regiões. Os líderes dessas separatistas solicitaram apoio militar russo depois do reconhecimento de sua independência.

Tecnicamente, os militares russos agora têm sinal verde para entrar na área disputada, que além de ser historicamente ligada a Moscou por laços culturais e políticos, também representa um ganho do ponto de vista econômico e estratégico para Rússia.

Ambas as províncias estão localizadas no chamado "cinturão da ferrugem" da Ucrânia, uma área rica em minerais, principalmente aço. Donetsk e Luhansk também fazem parte de uma região conhecida como bacia de Donbass, na fronteira com a Rússia, que abriga vastas reservas de carvão.

Devido à sua localização geográfica, a área ainda constitui uma via natural de acesso à Crimeia, península anexada pelo Kremlin em 2014.

Grande parte da população da região fala russo, fato que é um dos principais argumentos do Kremlin para justificar seu apoio aos insurgentes da região.


Areas rebeldes
(foto: BBC)

5. Há risco de uma 3ª Guerra Mundial?

A resposta para essa pergunta é: não. Por pior que seja a situação entre Rússia e Ucrânia neste momento, não se imagina um confronto militar direto entre a Otan e a Rússia.

Ao que parece até o momento, a linha vermelha para a Otan é se a Rússia ameaçar algum de seus Estados membros.

De acordo com o Artigo 5o da organização, a aliança militar é obrigada a defender qualquer Estado membro que seja atacado.

A Ucrânia não é membro da Otan, embora tenha dito que quer se juntar à aliança militar — algo que Putin está determinado a impedir.

Países do Leste Europeu como Estônia, Letônia, Lituânia ou Polônia — que já fizeram parte da órbita de Moscou nos tempos soviéticos — são todos membros da Otan.

Esses governos estão claramente temerosos de que as forças russas possam não parar na Ucrânia e usar algum pretexto de "ajudar" minorias étnicas russas no Báltico para continuar invadindo outros países.

Por isso, a Otan recentemente enviou reforços a seus membros do Leste Europeu.

Mas quão preocupado você deve estar? Segundo especialistas que estudam o tema, enquanto não houver conflito direto entre a Rússia e a Otan, não há razão para que essa crise, por pior que seja, vire uma guerra mundial em grande escala.

"Putin não está prestes a atacar a Otan. Ele só quer transformar a Ucrânia em um Estado vassalo como Belarus", disse uma importante fonte militar britânica na terça-feira (22/2) à BBC.

6. Quais as chances do conflito se transformar em disputa nuclear?

A Rússia e os EUA têm, entre eles, mais de 8 mil ogivas nucleares, o que desperta temores em todo o mundo de um conflito violento.

A apreensão em torno dessa questão se tornou ainda maior depois que Moscou organizou um exercício militar com armas nucleares na última semana e as forças armadas russas avançaram contra a planta nuclear desativada de Chernobyl, próximo à cidade fantasma de Pripyat, nesta quinta-feira.

"É impossível dizer que a usina nuclear de Chernobyl esteja segura após um ataque completamente sem sentido dos russos", disse o conselheiro do gabinete presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak

Mas segundo especialistas em segurança e política nuclear, não há motivos para pânico no momento. Como já dito anteriormente, o conflito atual não deve escalar para uma guerra envolvendo outras potências tão facilmente, e a Ucrânia não possui um arsenal nuclear próprio.

"Putin disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça nuclear", diz Alexander Lanoszka, professor de Relações Internacionais da Universidade de Waterloo e especialista em segurança nuclear.

"Mas há um interesse comum de todas as partes de restringir esse conflito à Ucrânia, então eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste momento".

Segundo o especialista, as armas nucleares estão sendo usadas pela Rússia neste contexto apenas como ameaças para barrar qualquer intenção dos Estados Unidos ou outra potência de interferir no confronto.

A Rússia, assim como outros países que têm apoiado a Ucrânia como os EUA, o Reino Unido, e a França, assinaram no início deste ano um tratado em que se comprometem na prevenção de uma guerra nuclear e contra a corrida armamentista. Essas nações também são signatárias do Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP), válido desde 1970.


O presidente Volodymyr Zelensky com soldados ucranianos
O presidente Zelensky, que tem visitado suas tropas, pede sações imediatas contra a Rússia (foto: EPA)

7. O que a população russa pensa sobre a invasão?

A invasão é recente e é difícil saber exatamente como a população russa enxerga os últimos acontecimentos na Ucrânia.

Mas desde que a tensão começou a escalar na região, a popularidade de Vladimir Putin cresceu na Rússia. Levantamento do centro independente Levada Center mostra que atualmente cerca de 69% dos russos aprovam o governo do presidente, contra 61% em agosto de 2021.

E se 29% dos russos desaprovam o governo de Putin hoje, 37% o reprovavam há cerca de seis meses.

Uma outra pesquisa divulgada também pelo Levada Center na última terça-feira (22/02) mostrou ainda que 45% dos russos apoiam a decisão do presidente de reconhecer a independência das Províncias de Donetsk e Luhansk.

Nas redes de televisão e jornais estatais, controlados pelo Kremlin, a invasão também é retratada com tons positivos.

Já entre ativistas e jornalistas independentes se multiplicam as expressões de rejeição e revolta. Uma petição organizada pela repórter Elena Chernenko, do jornal local Kommersant, reuniu assinaturas de 100 outros jornalistas que condenam a operação militar russa.

Mais de 140 deputados e funcionários municipais de Moscou, São Petersburgo, Samara, Ryazan e outras cidades assinaram uma carta aberta aos cidadãos russo, exortando-os a não apoiar de nenhuma forma a invasão e se pronunciarem ativamente para condenar os atos de Putin.

Celebridades, organizações em prol dos direitos humanos e da democracia e ativistas contrários ao atual governo também se mostraram insatisfeitos com os últimos acontecimentos e usaram as redes sociais para protestar.

Nas ruas de Moscou, capital da Rússia, repórteres do serviço russo da BBC ouviram relatos de jovens que descrevem seus sentimentos atuais com termos como choque, horror e perplexidade. Mas há uma divisão de opiniões sobre se as ações do presidente Vladimir Putin devem ser condenadas ou aplaudidas.

Diversas cidades da Rússia também foram palco de protestos contra a invasão nesta quinta-feira. A polícia russa reprimiu as manifestações e dezenas de ativistas foram detidos.


Mapa
(foto: BBC)

8. Que países condenaram e que países apoiaram a Rússia?

A invasão russa provocou reações fortes na Europa e nos Estados Unidos — com a interrupção de negociações diplomáticas e o anúncio de diversas sanções.

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Putin "escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano".

Em um pronunciamento no primeiro dia da invasão, o americano ainda anunciou novas sanções contra a Rússia que atingem as transações do governo russo em moedas estrangeiras e bloqueiam os ativos dos quatro grandes bancos russos.

Biden também reiterou que as forças dos EUA "não estão e não estarão" envolvidas no conflito entre Rússia e Ucrânia.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou estar "chocado com os eventos horríveis na Ucrânia" e que Putin "escolheu um caminho de derramamento de sangue e destruição ao lançar este ataque sem provocação".

Johnson anunciou ainda as sanções que o Reino Unido aplicará à Rússia, entre elas o congelamento de ativos de indivíduos e de bancos russos e a exclusão destas instituições do sistema financeiro britânico, veto a financiamentos ou empréstimos a empresas russas, proibição de que a companhia aérea Aeroflot pouse no Reino Unido, suspensão das licenças de exportação de itens que podem ser usados para fins militares, de alta tecnologia e de refinamento de petróleo, além de outras medidas.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, condenou o "ataque irresponsável" da Rússia, dizendo que "coloca em risco inúmeras vidas de civis".

Jessica Parker, correspondente de política da BBC, informou que a União Europeia (UE) poderia, em represália à Rússia, suspender parte de seu acordo de facilitação de vistos com o país como parte de seu novo pacote de sanções.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Rússia corre o risco de um "isolamento sem precedentes" por sua ação militar na Ucrânia. "Condenamos veementemente o ataque injustificado da Rússia à Ucrânia", disse.

França, Alemanha, Itália, Polônia, Espanha e outras nações europeias também condenaram a ação. Japão e Austrália classificaram a ação como uma violação das normas internacionais.

Mas apesar dos muitos posicionamentos contrários, a Rússia possui aliados que manifestaram apoio direto e indireto à Moscou.

Os principais parceiros russos pertencem a um bloco chamado de Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que além da própria Rússia inclui Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

Belarus concordou em receber milhares de soldados russos em seu território a partir de 2020, e essas tropas apoiaram a ofensiva contra a Ucrânia na manhã desta quinta-feira, usando suas posições para fogo de artilharia.

Os governos da Síria, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Irã também se pronunciaram de forma favorável à Rússia, fazendo coro às acusações de Moscou contra a Otan.

A China, por sua vez, vem se aproximando cada vez mais da Rússia, apesar de nunca ter apoiado diretamente uma incursão na Ucrânia.

Em uma coletiva de imprensa nesta quinta, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, evitou usar a palavra invasão. O diplomata disse ainda que Pequim entende as preocupações de segurança da Rússia.


Putin conversa com Biden em dezembro de 2021
Putin conversou algumas vezes com Joe Biden, sem chegar a um acordo (foto: Reuters)

9. Qual foi a reação do Brasil?

No Brasil, as respostas oficiais do Executivo à invasão começaram com manifestações do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e do vice-presidente, Hamilton Mourão. O presidente Jair Bolsonaro se limitou ate o momento a manifestar apoio aos brasileiros que estão na região. "Estou totalmente empenhado no esforço de proteger e auxiliar os brasileiros que estão na Ucrânia", escreveu em uma rede social.

O Itamaraty divulgou uma nota em que não condena explicitamente as ações russas, mas afirma que o país acompanha as operações militares na região com "grave preocupação" e pede a "suspensão imediata das hostilidades".

"O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil", diz um trecho da nota divulgada pelo MRE.

Além da nota divulgada pelo Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Kiev divulgou orientações aos brasileiros que vivem no país.

O vice-presidente, Hamilton Mourão, por sua vez, usou um tom mais crítico ao comentar o assunto. Ele comparou as ações russas na Ucrânia às ações da Alemanha nazista comandada por Adolf Hitler entre os anos 1930 e 1940.

"Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo será a Bulgária, depois os Estados bálticos, e assim sucessivamente, assim como a Alemanha hitlerista fez nos anos 30", disse Mourão, segundo o jornal O Globo.

A reação comedida do Brasil condiz com a tradição da diplomacia nacional de tentar se manter sempre o mais neutra possível. Apesar disso, segundo especialistas, o país precisará se posicionar agora que assumiu um assento não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas no início de janeiro.

"A tradição brasileira em casos como esse sempre foi de manter uma posição 'neutra', então é de se esperar que o Brasil não se posicionaria de maneira clara apesar da atuação russa obviamente representar uma violação do direito internacional e da soberania da Ucrânia", diz o professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel "Porém, como membro do Conselho de Segurança, o país não pode ficar de fora do radar".

A primeira grande manifestação no Conselho aconteceu na noite desta sexta-feira (25/02), quando o Brasil apoiou uma resolução apresentada pelo governo dos EUA que condena a invasão.

Apesar do documento ter sido rejeitado pela Rússia, membro permanente do órgão com poder de veto, a iniciativa é considerada importante do ponto de vista diplomático.

O embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse que o Conselho de Segurança deve agir urgentemente diante da agressão da Rússia. "O enquadramento do uso da força contra a Ucrânia como um ato de agressão, precedente pouco utilizado neste Conselho, sinaliza ao mundo a gravidade da situação", afirmou.

Segundo o analista, a posição que o Brasil adotar nas próximas semanas influenciará muito mais sua percepção pela comunidade internacional do que qualquer comentário feito pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua visita a Moscou na semana passada.

Em pronunciamentos após seu encontro com Vladimir Putin no Kremlin na última terça-feira (16/02), Bolsonaro evitou mencionar a Ucrânia, mas enfatizou o compromisso do Brasil e da Rússia com a paz. Em outro momento, o presidente brasileiro ainda ressaltou a proximidade de valores cultivados pelas duas nações.

As declarações de Bolsonaro foram na contramão de governos como o dos Estados Unidos e, segundo analistas, a própria visita em um momento de tanta tensão pode ter causado desconforto.

Na sexta-feira (18/2), a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, chegou a afirmar que o Brasil "parece estar do lado oposto à maioria da comunidade global" em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.

10. Como o Brasil pode ser afetado?

Segundo especialistas consultados pela BBC News Brasil, os principais efeitos da crise na Ucrânia serão sentidos na economia brasileira. Esse impacto pode chegar aqui na forma de um aumento na inflação e na alta nos preços do petróleo e seus derivados.

A Rússia é atualmente um dos maiores produtores de petróleo do mundo e o conflito militar e a imposição de sanções podem paralisar a produção e a exportação da commodity.

"Uma invasão deve ser respondida com sanções mais graves do que as que já estão sendo aplicadas atualmente. Isso impacta diretamente na subido dos preços do petróleo e, consequentemente, no aumento dos preços dos combustíveis no Brasil", afirmou o economista e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, à BBC News Brasil.

Por sua vez, o aumento no preço do petróleo impacta diretamente na inflação mundial e, consequentemente, na brasileira, que já vem sofrendo uma alta desde o ano passado.

Economistas apontam ainda que a imposição de sanções contra a Rússia pode prejudicar indiretamente o mercado nacional, em especial o agronegócio brasileiro, que tem a Rússia como sua principal fonte exportadora de fertilizantes.

"Com as sanções ou até a perda de capacidade de exportação russa, os fertilizantes se tornam mais caros e a rentabilidade dos produtores brasileiros cai, afetando sua capacidade de continuar a ampliar a oferta nos próximos anos", avalia Maílson da Nóbrega.

Tudo isso pode ainda impactar diretamente no resultado das eleições presidenciais, marcadas para outubro, já que o peso de problemas econômicos e inflação alta costuma sempre cair sobre o chefe de Estado atual.

Nos últimos três dias, o conflito ucraniano ainda gerou um impacto na cotação do dólar em relação ao real. A moeda americana atingiu seus menores valor desde junho do ano passado, fechando a R$ 5,004 na quarta-feira (23/2), antes da concretização da invasão.

O movimento, segundo analistas, foi consequência não só do aumento da taxa Selic pelo Banco Central, mas também da entrada de capital estrangeiro no país em tempos de alto risco.

Nesta quinta, porém, a tendência foi revertida e os rumos da taxa de câmbio deram um salto diante da onda global de incerteza.

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