Jornal Estado de Minas

FACT-CHECKING

Checamos: Imagem de caixão desenterrado é de 2017, não da pandemia de COVID-19

Um vídeo em que um caixão vazio é desenterrado foi compartilhado dezenas de milhares de vezes em redes sociais desde o início de maio para colocar em dúvida o registro de mortes por COVID-19 no estado do Amazonas, um dos mais afetados pela doença no país.


As imagens não têm, contudo, qualquer relação com a pandemia de coronavírus: a gravação é de maio de 2017 e mostra uma investigação sobre um golpe de seguro de vida no município de São Carlos (SP).

“PF descobre o segredo da pandemia no Amazonas. Até agora, 26 caixões cheios de pedras”, diz a legenda de uma das publicações, compartilhada mais de 35 mil vezes no Facebook desde o último dia 2 de maio. O texto acompanha um vídeo no qual três pessoas abrem um caixão, demonstrando que há apenas uma almofada e uma pedra onde deveria haver um corpo.

A gravação ilustra múltiplas postagens semelhantes no Facebook (1, 2, 3, 4), Twitter (1, 2, 3) e YouTube, somando mais de 84 mil compartilhamentos. O vídeo também foi enviado ao WhatsApp do AFP Checamos para ser verificado. 



Nos comentários, muitos associaram às imagens a uma suposta fraude no registro de de mortes por coronavírus no Amazonas.

“Q tristeza, no lugar de serem solidários com a população, estão implantando o terror , escreveu um usuário. “Será q são os enterros do covid , questionou outro.

O vídeo não tem, contudo, qualquer relação com as mortes pela COVID-19.

É possível identificar, no canto inferior direito da gravação, a logo do portal de notícias G1. De fato, uma busca no Google por uma captura de tela do vídeo localiza as mesmas imagens publicadas em 30 de maio de 2017 - mais de dois anos antes da detecção do coronavírus na China, em dezembro de 2019 - em uma reportagem deste site.

Segundo a matéria do G1, o vídeo mostra uma operação da Polícia Civil de São Carlos que investigava, na época, uma fraude de seguro de vida. Como parte do golpe, os suspeitos teriam feito diversos seguros em nome de uma mulher e depois simulado a sua morte, enterrando o caixão visto no vídeo. 


Captura de tela feita em 5 de maio de 2020 mostra vídeo publicado em maio de 2017 em reportagem do site G1

As fotos que ilustram a matéria são creditadas ao jornalista Fabio Rodrigues.

“As fotos e o vídeo fui eu que fiz. Eu estava lá no momento que o delegado mandou abrir o caixão”, confirmou Rodrigues à equipe de checagem da AFP.

Questionada pelo Checamos, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), onde fica localizado o município, confirmou que “o vídeo citado pertence à diligência realizada em São Carlos pela Polícia Civil da região”.

Fotos desta mesma investigação também foram compartilhadas recentemente para questionar os registros de mortes por coronavírus no Brasil. Este conteúdo foi checado pelo Comprova, projeto de verificação colaborativa integrado pelo AFP Checamos, e por outros sites de checagem, como o Aos Fatos e o Fato ou Fake.


26 caixões “cheios de pedras”?


As publicações viralizadas garantem, ainda, que a Polícia Federal teria descoberto “26 caixões cheios de pedras” no estado do Amazonas, o quinto com maior número de casos confirmados de coronavírus no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

Uma busca na página da agência de notícias da Polícia Federal não localiza, contudo, qualquer registro de tal operação. Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Polícia Federal 26 caixões pedras” leva, por sua vez, apenas a publicações que incluem o vídeo tirado de contexto.

Procurada pela equipe de checagem da AFP, a Superintendência da Polícia Federal no Amazonas afirmou que as alegações são “inverídicas”. “A Polícia Federal no Amazonas jamais realizou diligências ou apreensões de tais objetos (urnas funerárias) nas condições descritas, bem como não há relatos sobre fraudes no número de vítimas da COVID-19 no Amazonas”, acrescentou.


Denúncias sobre supostas fraudes no registro de mortes pelo novo coronavírus têm sido frequentes no Brasil. Em 5 de maio deste ano, a Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito policial para apurar a origem de um outro vídeo no qual uma mulher afirma que caixões estariam sido enterrados com “pedras e paus” no lugar de corpos de vítimas da COVID-19 em Belo Horizonte. A alegação foi negada tanto pela Polícia Civil, quanto pela Prefeitura da cidade.

Até o último dia 6 de maio, haviam mais de 125 mil casos confirmados de COVID-19 no Brasil, dos quais mais de 8.500 faleceram. Apenas no Amazonas, o número de casos era de 9.243, com 751 mortes.

Em resumo, é falso que o vídeo viralizado mostre um caixão vazio sendo desenterrado no estado do Amazonas em meio à pandemia do novo coronavírus. As imagens são de maio de 2017 e mostram uma investigação de um golpe de seguro de vida realizada em São Carlos.