Jornal Estado de Minas

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Homem agredido por manifestantes a quem perseguia com uma faca não morreu, ficou inconsciente

Um vídeo de um homem sendo agredido por diversas pessoas foi compartilhado mais de 20 mil vezes em redes sociais desde o fim de maio.

Segundo as publicações, a vítima era um comerciante que morreu enquanto defendia sua loja de um saque em meio aos protestos antirracismo realizados atualmente nos Estados Unidos.


Na verdade, segundo a polícia, o homem ficou momentaneamente inconsciente após esta gravação, quando foi espancado por manifestantes a quem perseguia com uma faca em Dallas. Por outro lado, nada indica que ele fosse proprietário de um comércio.

“Vamos protestar contra o policial que matou o rapaz negro. Como faremos isso? Matando um rapaz, branco, inocente, que defendia seu comércio dos saqueadores em Dallas”, diz o texto que acompanha o vídeo em publicações compartilhadas milhares de vezes no Facebook (1, 2, 3), Instagram (1, 2, 3) e Twitter desde o último dia 31 de maio.

Alegação semelhante foi publicada no Facebook pela deputada federal Bia Kicis (PSL), acumulando mais de 15 mil compartilhamentos.

“Os manifestantes parecem ter matado um homem que defendia sua loja de saqueadores em Dallas. Nos comentários alguns dizem que ele tinha uma faca, outros dizem que não. Mas o que estarrece é a violência. Morto a chutes e pontapés. A verdade há de ser esclarecida mas é mais uma vida que se foi e não voltará”, diz a legenda. 



As imagens, acompanhadas da mesma afirmação, também circularam em espanhol, inglês e holandês, no momento em que eram realizadas manifestações antirracismo nos Estados Unidos, e no mundo, devido à morte de George Floyd, um homem negro que faleceu durante uma detenção violenta no último dia 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota).

Os atos têm sido em sua maioria pacíficos, mas alguns terminaram em distúrbios, incluindo saques de estabelecimentos comerciais.

Registros do incidente


Uma busca no Google pelas palavras-chave “Dallas shop owner beaten” (em português, “Dallas dono de loja agredido”) - uma vez que as publicações viralizadas afirmam que o vídeo foi gravado nesta cidade norte-americana - demonstra que a agressão aconteceu em 30 de maio deste ano, como reportado pela mídia.


Os artigos levam a um tuíte, publicado neste dia às 21h52 em Dallas, por um homem identificado como Elijah Schaffer, repórter e produtor da Blaze TV.

No tuíte, um vídeo de 24 segundos mostra várias pessoas chutando e socando um homem. “URGENTE: homem severamente ferido nos distúrbios em Dallas. Parece que ele estava tentando defender uma loja com uma grande espada”, diz a publicação, em inglês.

Um pouco mais de uma hora depois, o mesmo usuário publicou um segundo vídeo do acontecimento, desta vez com 41 segundos. Esta gravação mostra o homem fugindo de um grupo de pessoas que parecem lançar objetos contra ele. Em seguida, a vítima começa a perseguir uma pessoa com o que parece ser uma grande faca. É neste momento que ele é agredido por diversos indivíduos.


Um vídeo gravado de um ângulo diferente e publicado no Instagram também mostra os momentos que antecederam a perseguição dos manifestantes.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

If you see this video on twitter the story is skewed, not the full truth, and narrative turned against the protestors, this was NOT the owner of the store as the DPD Confirmed. This was a “vigilante” outside a store who pulled a sword on a teen skating ahead of the protestors and threaten him when there was no violence or looting of any kind and people witness stepped in to protect him. The kid had a huge slash in his hand, under no circumstances does anyone deserve to get beat like this but this is his fault. Do not believe the story of “looters attacked innocent white man” when the Twitter video was cropped to make protestors look bad. stay safe stay woke.

A post shared by Yoel (@zople) on May 30, 2020 at 9:09pm PDT

Consciente após a agressão


As publicações virais garantem que este homem faleceu, mas a polícia de Dallas confirmou à AFP que ele foi levado a um hospital e sobreviveu, apesar da gravidade dos golpes recebidos.

Em e-mail enviado no último dia 4 de junho, a porta-voz da polícia de Dallas Melinda Gutiérrez, afirmou: “Segundo as testemunhas, o indivíduo se aproximou do protesto, apontando uma faca/machete enorme contra vários manifestantes. Um deles tentou brigar com o homem usando seu skate, e recebeu um corte na mão, mas conseguiu desarmar o indivíduo. Então um grupo de manifestantes começou a atacar o homem”.


“O indivíduo que carregava a grande faca foi levado ao hospital e o último que se sabe é que permanece estável”, continuou a agente.

Segundo Gutiérrez, a polícia de Dallas não fornece mais atualizações dos dados médicos de vítimas ou suspeitos ao menos que eles faleçam. Atualmente há uma investigação policial em curso sobre o acontecido.

Uma busca no Twitter pelas palavras-chave “machete Dallas” levou a este tuíte que mostra o homem sentado no chão enquanto é atendido por socorristas, o que indica que ele recuperou a consciência no próprio local do ataque. 

Breaking in Dallas: this man just tried to attack a crowd with a machete. Only one person was slightly cut on the hand. pic.twitter.com/ey6BVU4ZA9
— Austen Holland (@realtor_austen) May 31, 2020


Por outro lado, não há evidências de que ele fosse dono de um comércio, como afirmam as publicações viralizadas em diversos idiomas. Os tuítes mencionados acima, fonte original das imagens, dizem que o homem “parecia defender uma loja” mas que não é possível “confirmar que ele fosse o dono do estabelecimento”.


O incidente aconteceu na cidade do estado do Texas, mais precisamente no edifício 2200 de N. Lamar Street, afirmou a polícia à AFP. O local exato pode ser visto no Google Street View, como confirma esta comparação: 
Comparação entre captura de tela do vídeo viralizado (esquerda) e imagem de satélite disponível no Google Street View (direita)

Em resumo, o homem agredido por diversas pessoas nas imagens viralizadas não faleceu como consequência dos golpes; segundo a última informação fornecida pela polícia, ele permanecia estável no hospital. Além disso, não há evidências de que ele fosse proprietário de uma loja e que a estivesse defendendo de um saque.