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Checamos: Vídeo não mostra 'farsa' da vacina chinesa contra a COVID-19, mas simulação para registro de imagens

Um vídeo que supostamente prova que a primeira voluntária brasileira a testar a vacina contra a COVID-19 da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech não recebeu de verdade a CoronaVac foi compartilhado milhares de vezes em redes sociais desde o último dia 22 de julho.



A gravação mostra, contudo, uma simulação realizada para produção de imagens devido aos protocolos segurança. A voluntária efetivamente recebeu a vacina, mas em outro momento, como comprovam fotos e vídeos oficiais.

“Me conta aí sobre essa armação desgraçada. A mão não sai a frente do braço, quase 1 minuto para ser aplicada, e o líquido da vachina entra no seu braço por Wi-Fi, nem precisa tirar a tampa”, diz publicação compartilhada mais de 4 mil vezes no Facebook.

A legenda acompanha um vídeo em que o governador do estado de São Paulo, João Doria, assiste enquanto um profissional de saúde parece aplicar uma vacina em uma mulher. Ao final da gravação, é possível ver que a tampa que protege a agulha da seringa não havia sido removida. 




Postagens semelhantes circulam amplamente no Facebook (1, 2, 3), Twitter (1, 2, 3) e Instagram (1, 2, 3), somando mais de 20 mil compartilhamentos e de 750 mil visualizações em menos de 24 horas.

“No fim do procedimento a agulha está com o protetor? Eu vi isso? E cadê o algodão? Me parece mais uma farsa”, afirma uma das postagens.

Uma das vacinas em estudo para prevenir o novo coronavírus, a CoronaVac começou a ser testada no Brasil no último dia 21 de julho, como parte de um acordo entre o Instituto Butantan, ligado ao governo do estado de São Paulo, e o laboratório chinês Sinovac Biotech.

Anunciado em 11 de junho, o acordo prevê a realização da terceira fase clínica da vacina em 9 mil voluntários brasileiros e uma futura produção nacional caso a imunização se prove eficaz e segura.



O vídeo viralizado não mostra, contudo, uma farsa nesse processo de testes.

Simulação para registro de imagens


Como explicou à AFP a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, as imagens compartilhadas nas redes mostram uma simulação realizada no último dia 21 de julho para permitir a produção de imagens de divulgação dos testes respeitando, ao mesmo tempo, “os protocolos de segurança e de prevenção à COVID-19”.

“A médica Stefania Teixeira Porto realmente foi a primeira voluntária a tomar a vacina no Hospital das Clínicas, seguindo as normas técnicas de preparo e aplicação”, disse uma porta-voz da Secretaria ao AFP Checamos.

“Considerando os protocolos de segurança e de prevenção à COVID-19, por se tratar de ambiente hospitalar e considerando o volume de veículos de comunicação participantes na coletiva realizada no HC , a visita não foi aberta para a imprensa”, continuou. “Assim, foi organizada uma simulação para os respectivos registros audiovisuais”.



Como explica o Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação do Ministério da Saúde, a sala de vacinação é classificada como uma “área semicrítica” e deve ser destinada exclusivamente à administração dos imunobiológicos para reduzir o “risco de contaminação para os indivíduos vacinados e também para a equipe de vacinação”.

Uma foto publicada no Flickr oficial do governo de São Paulo mostra que a vacina efetivamente foi aplicada na voluntária após ser reduzido o número de pessoas presentes na sala. 

Um vídeo divulgado pelo governo de São Paulo e publicado pela AFP também mostra a agulha da vacina sendo inserida no braço da voluntária. 



A CoronaVac não é a única candidata à vacina contra a COVID-19 que está sendo testada no Brasil. No último dia 21 de junho, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) recebeu 15 voluntários que testarão a eficácia da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, que  firmou uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Com mais de 2,2 milhões de casos confirmados e de 82 mil óbitos pelo novo coronavírus, o Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes provocadas pela COVID-19. Globalmente, são mais de 15 milhões de infectados e de 627 mil mortos.

Em resumo, o vídeo compartilhado nas redes sociais não prova que a primeira voluntária brasileira a testar a vacina desenvolvida na China para prevenir o novo coronavírus não recebeu de verdade a dose. A gravação mostra uma simulação realizada para produção de imagens de divulgação. Outras imagens mostram a vacina sendo aplicada na voluntária.

Uma outra simulação de vacinação já foi alvo de desinformação nas redes e foi verificada pela AFP.