A história de uma voluntária que faz parte de um dos testes de vacina contra o novo coronavírus no Brasil viralizou nas redes sociais em pouco mais de dois dias.
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Junto com essa imagem há legendas como: “Coronovac da china ”, “Reação da Vacina do Dória, alguém mais aí se dispõe a ser cobaia ?! ” e “Tem otário pra TUDO, até pra aceitar ser cobaia de vacina Ching ling. Cadê o governo brasileiro que não proíbe esse caos? ”.
A fotografia com o texto também circulou em publicações no Instagram (1, 2) e Twitter (1).
Na imagem é possível ver o endereço do site da revista Marie Claire, no site da Editora Globo, onde está a mesma fotografia da mulher vista nas postagens viralizadas. Trata-se de Jackeline Desiderrio, que foi aceita como voluntária dos testes da vacina de Oxford, e não da desenvolvida pela farmacêutica chinesa.
Na matéria publicada no mesmo dia 25 de julho, Jackeline conta como foi o processo de candidatura aos testes, aceitação, o momento da vacina e suas reações.
De fato, o texto visto nas postagens viralizadas narra as suas reações - “Comecei a me sentir indisposta, com uma enorme moleza no corpo, muito sono, cansaço e febre de 38 graus. Em seguida, meu corpo inteiro começou a doer; e os olhos, a lacrimejar. Fora a dor no braço que é absurda, mal posso levantá-lo” - está no depoimento.
Contudo, o teste do qual Jackeline faz parte é o da vacina de Oxford, que assinou um compromisso com a Fiocruz para a sua produção, não da vacina da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan - a chamada “CoronaVac”.
A voluntária especifica que a equipe lhe deu um termômetro para acompanhar a sua temperatura e “comprimidos de paracetamol, para caso tivesse febre”, uma reação esperada nestes testes.
A matéria da revista ainda faz uma ressalva de que “os participantes desse estudo da Universidade de Oxford não sabem se tomaram a vacina feita para combater a COVID-19. Isso acontece porque o grupo de vacinados é dividido em dois, os que recebem a vacina para a COVID-19 e os que recebem o placebo”.
Este procedimento de divisão em dois grupos é semelhante ao realizado pelo Instituto Butantan, ligado ao governo estadual de São Paulo, como explicou a assessoria da instituição ao Checamos: “Nessa fase, de aplicação da vacina propriamente dita, uma parte irá receber a vacina e outra parte vai receber apenas um placebo” e apenas um grupo restrito saberá quem recebeu a vacina, ou o placebo, para o acompanhamento dos resultados.
Para que uma vacina seja produzida, em uma de suas etapas são criados os chamados “grupos de controle” com voluntários para avaliar a eficácia. Isso significa que uma parte das pessoas receberá a vacina em questão, e a outra, uma vacina placebo, o que é definido aleatoriamente e restrito a um grupo de pesquisadores.
A AFP também conversou com uma voluntária dos testes da vacina de Oxford, Mônica Levi, que citou alguns dos efeitos que podem existir - “mal-estar, calafrio, dor de cabeça, febre”. Ela disse ter sentido “dor de cabeça e calafrio” e para isso tomou “paracetamol”. “Mas nem sei se eu tomei a vacina, ou a vacina placebo, 50% dos voluntários recebam a vacina placebo. Mas a gente não vai saber durante o estudo que vacina que recebemos”.
E completou: “Depois de tomar a vacina a gente tem que voltar em 28 dias, três meses, seis meses e um ano. Nesses retornos eles vão recolher exame de sangue. É Oxford que vai analisar o nosso sangue”.
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) é a instituição responsável pelos testes do estudo da Universidade de Oxford, em parceria com o laboratório AstraZeneca, que conta com 5 mil voluntários brasileiros.
Em resumo, é falso que a mulher que relatou à imprensa possíveis sintomas a uma vacina contra o novo coronavírus seja voluntária dos testes da “CoronaVac”, da farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e que tem sido testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. Jackeline Desiderrio é, na verdade, voluntária dos testes da vacina da Universidade de Oxford, e não sabe se tomou de fato a vacina, ou um placebo.