Publicações compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde o início de agosto minimizam as mortes provocadas pela pandemia de COVID-19 no Brasil, afirmando que foram registrados mais óbitos no país em julho de 2019 do que no mesmo mês em 2020.
“Atualizando… Mortes no Brasil: Julho 2019 - 119.390 (sem pandemia) . Julho 2020 - 113.475 (com pandemia). Fonte: transparencia.registrocivil.org.br… Agora vão falar o que????”, diz texto compartilhado mais de 4.500 vezes no Facebook (1, 2, 3), Instagram e Twitter desde o último dia 3 de agosto.
Algumas postagens afirmam, ainda, que a fonte destes dados é a única “que não mente, pois emite diariamente todos os atestados de óbito, por todos os motivos”.
“Esta fonte não pode ser contestada por ninguém. Só eles podem afirmar com certeza, quantas pessoas morrem por dia, e o motivo da morte. O resto é Fake News”, terminam as publicações.
Mantido desde 2018 pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN), o portal de Transparência do Registro Civil efetivamente reúne dados sobre óbitos, nascimentos e casamentos coletados de cartórios por todo o país.
A comparação viralizada nas redes é, no entanto, enganosa.
Dados parciais
O número compartilhado desde o último dia 3 de agosto não representa todas as mortes registradas no Brasil em julho deste ano, uma vez que estes dados ainda estão em atualização.
O próprio portal de Transparência explica que uma morte pode demorar até 14 dias para ser contabilizada no site, uma vez que “a família tem até 24h após o falecimento para registrar o óbito em Cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito, e depois até oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza esta plataforma”.
Procurada pelo AFP Checamos, a assessoria de imprensa da ARPEN confirmou esse prazo.
“Os números do Portal da Transparência são dinâmicos, e estão públicos. Eles são atualizados automaticamente à medida que os cartórios vão lançando seus registros”, informou um representante da associação. “Recomendamos observar o delay do prazo legal, que corresponde sempre a 14 dias anteriores à data em que foi feita a consulta”, acrescentou.
Desta maneira, o número de mortes registradas no Brasil em julho deste ano ainda será atualizado até 14 de agosto.
Mais óbitos em 2020
Como os números do portal da Transparência do Registro Civil são frequentemente atualizados, não é possível confirmar quando os dados divulgados nas redes foram coletados, nem se efetivamente foram publicados nesta plataforma.
Uma consulta ao site neste dia 11 de agosto mostra, contudo, que as mortes registradas no país em julho deste ano já superam as contabilizadas no mesmo mês do ano passado: 121.172 óbitos ocorridos em julho de 2020, contra 119.553 no mesmo mês de 2019.
Questionada pela equipe de checagem da AFP sobre a discrepância entre os dados de julho de 2019 compartilhados nas redes - 119.390 - e o disponível neste dia 11 de agosto - 119.553 -, a assessoria de imprensa da ARPEN explicou que cartórios que estão “em atraso com as obrigações legais” podem eventualmente enviar dados fora do prazo, explicando algumas alterações.
Os números de óbitos registrados nos outros meses de 2020 também são superiores aos de 2019, como demonstrado no gráfico abaixo.
No total, até 11 de agosto, foram contabilizados 796.967 óbitos de janeiro a julho de 2020, 65.885 a mais do que no mesmo período do ano anterior.
Com os primeiros casos do novo coronavírus confirmados no final de fevereiro, o Brasil - segundo país do mundo com mais vítimas da COVID-19 - soma mais de 101 mil mortos e de 3 milhões de contaminados.
O AFP Checamos já verificou outras publicações que colocavam em dúvida a gravidade da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Em resumo, são enganosas as publicações que afirmam que foram registrados mais óbitos no Brasil em julho de 2019, quando não havia a pandemia de COVID-19, do que em julho deste ano. As postagens utilizam números parciais de 2020 que, atualizados até 11 de agosto, indicam que houve mais mortes em julho deste ano do que no ano anterior.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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