Publicações compartilhadas mais de 11,2 mil vezes nas redes sociais desde o último dia 7 de agosto afirmam mostrar uma cápsula de cloroquina aberta, aparentemente vazia, distribuída por alguns prefeitos para “provar” que este medicamento não funciona contra o novo coronavírus.
Leia Mais
Checamos: Publicações usam dados parciais de mortes registradas em julho de 2020Checamos: crianças não estão grávidas: elas têm doenças que fazem barriga incharChecamos: princípios ativos da cloroquina e ivermectina não estão nas cascas de laranja e limãoChecamos: Vídeo mostra gravação de filme, sem relação com a decisão do STF contra ações policiais na pandemiaChecamos: Imagens mostram João Doria tomando vacina contra gripe, não contra COVID-19Checamos: fotos mostram doenças de pele; só duas têm relação com máscarasChecamos: Políticos de diversos países e níveis morreram de COVID-19Checamos: Nanochip não passa por agulha de seringa e 5G não carrega vírus“A canalhice de alguns prefeitos: Comprimidos de Cloroquina esvaziados só para tentar ‘provar’ que a terapia não funciona”, diz o texto que acompanha a imagem do medicamento aberto, que viralizou no Facebook (1, 2, 3), Twitter (1) e Instagram (1, 2, 3) desde o início de agosto.
Por vezes, algumas postagens são acompanhadas de uma captura de tela em que se vê nome do usuário @blogdojefferson, sugerindo que a publicação seria de Roberto Jefferson, presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com a seguinte legenda: “Abram, chequem e se possível, guardem uma pequenina amostra. Caso sintam que algo está errado, procurem a Polícia Federal e entreguem a amostra do conteúdo”.
A imagem viralizada é na verdade, um fragmento de um vídeo sobre um caso ocorrido no município de Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. A gravação foi feita por uma mulher que diz ter recebido ivermectina – não cloroquina – no hospital privado Vale do Guaporé, na cidade mato-grossense, que fechou uma parceria com empresários locais para a distribuição deste medicamento como profilaxia da COVID-19, embora não tenha eficácia comprovada.
Ivermectina, não cloroquina
Uma pesquisa inicial no Google por “cápsula %2b vazia” mostrou que uma história semelhante à da suposta cápsula de cloroquina vazia havia acontecido em Pontes e Lacerda, mas com a ivermectina. A partir desta informação, o Checamos buscou publicações que mencionassem a “ivermectina esvaziada”, chegando a três postagens. Nelas, havia um vídeo, com uma qualidade superior às das fotos viralizadas nas redes sociais, possibilitaram a identificação do nome do medicamento: ivermectina de 6mg.
No vídeo, uma mulher diz: “Eu fui na Santa Casa pegar uma ivermectina para poder tomar mais a minha filha. E hoje era a data certa de tomar a segunda dose, com 15 dias. Ela tomou um comprimido e o outro, por curiosidade, eu acredito, ela foi e abriu. Olha o que tinha dentro da cápsula. Nada!”.
A imagem viralizada nas redes sociais corresponde a um fragmento do vídeo em que a mulher mostra a cápsula de ivermectina vazia.
A partir da informação do local onde isso teria ocorrido e o nome da coordenadora do projeto mencionado, Eliana Matsuda, o Checamos fez uma busca no Facebook e encontrou uma transmissão ao vivo realizada em 2 de julho de 2020 pela página Lacerda 24 horas com Matsuda em frente ao Hospital Vale do Guaporé (HVG).
Segundo a descrição do vídeo, tratava-se de um grupo de empresários que montou uma campanha para o “bloqueio da COVID-19” em Pontes e Lacerda e que distribuiria 10 mil doses de ivermectina gratuitamente.
Com início em 6 de julho, a campanha, segundo Eliana Matsuda, era uma parceria entre empresas, o Hospital Vale do Guaporé e médicos. O protocolo de medicação, por sua vez, foi feito pela doutora Jaqueline Margonato, do HVG.
A coordenadora do projeto e a doutora Jaqueline ressaltaram que, embora existam médicos que defendem o uso do medicamento, não há comprovação científica da sua eficácia na profilaxia da COVID-19.
Em contato telefônico, Eliana Matsuda ressaltou que a iniciativa foi firmada entre empresários e o hospital sem “cunho político nem dinheiro público”.
Também por telefone, a administradora do HGV Claudenice Luiza Lima assinalou que a mulher que gravou o vídeo com a cápsula de ivermectina não entrou em contato com a instituição e que o laboratório onde os medicamentos foram comprados disse “não haver possibilidade de a cápsula ter ficado vazia porque o processo é automatizado”.
Por fim, relatou que a equipe “abriu outras caixas de medicamento e não encontrou cápsulas com defeito”.
O Checamos também entrou em contato por telefone com a prefeitura de Pontes e Lacerda, que afirmou não ter ingerência sobre o tema, e com a Secretaria de Saúde do município, que acrescentou que o Hospital Vale do Guaporé é privado.
A equipe de checagem da AFP conversou com o presidente do Conselho Municipal de Saúde de Pontes e Lacerda, Elizeu Almeida, que assinalou que soube do ocorrido pelas mídias sociais e, por se tratar de um caso isolado e sem notificação formal, não deliberou sobre o tema.
A ivermectina industrializada é produzida em forma de comprimido, mas é possível encontrar o medicamento em cápsulas em farmácias de manipulação. Em nota, o Hospital Vale do Guaporé informou que recorreu a um laboratório de manipulação local porque “não havia na indústria, nos distribuidores e no comércio a ivermectina industrializada”.
Roberto Jefferson
Algumas imagens viralizadas nas redes têm como base uma suposta publicação feita pelo ex-deputado Roberto Jefferson, atual presidente nacional do PTB. Nas redes sociais dele, porém, não há nenhum registro de tal publicação.
O ex-deputado e outros aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) são alvo de um inquérito sobre disseminação de notícias falsas e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na imagem em questão, é possível ver que o nome do usuário é “blogdojefferson”, o mesmo que Roberto Jefferson usava para publicar tuítes. Contudo, a conta dele na rede social está suspensa desde 24 de julho, após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Desde que sua conta foi bloqueada, Roberto Jefferson passou a usar o Twitter pelo usuário “@bobjeffhd”, como se pode confirmar em sua página verificada no Facebook, no qual não consta nenhuma publicação sobre cápsulas esvaziadas de cloroquina. Também não há registros nas contas no próprio Facebook e no Instagram. Na rede social Parler, por sua vez, não foi encontrado nenhum perfil de usuário @blogdojefferson.
Em contato com a equipe de checagem, a assessoria do político negou que ele tenha feito a postagem.
A cloroquina e seu derivado, hidroxicloroquina, tem estado em evidência desde o início da pandemia, principalmente pela defesa de seu uso no tratamento contra a COVID-19 por parte do presidente Bolsonaro. Após testar positivo para a doença no início de julho, o chefe de Estado divulgou um vídeo em que aparecia supostamente tomando hidroxicloroquina e disse “estar se sentindo muito bem”. Cerca de duas semanas depois, anunciou que seu teste havia dado negativo.
A cloroquina e a hidroxicloroquina não têm comprovação de eficácia no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. A agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) revogou a autorização de uso de emergência destes remédios, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu seus estudos com a droga segue sem indicar qualquer medicamento específico.
Em resumo, é falso que a imagem viralizada de uma cápsula aberta e aparentemente vazia seja de cloroquina e tenha sido distribuída por prefeitos para “provar” que ela não funciona contra a COVID-19. Na verdade, trata-se do fragmento de um vídeo no qual uma mulher faz uma denúncia sobre uma cápsula supostamente vazia de ivermectina, entregue em uma ação de empresários do município de Pontes e Lacerda (MT), com a parceria de um hospital privado.
Esta investigação faz parte do Projeto Comprova. Participaram jornalistas da AFP, Estadão e UOL.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:
- O que é o pico da pandemia e por que ele deve ser adiado
- Veja onde estão concentrados os casos em BH
-
Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa
-
Animais de estimação no ambiente doméstico precisam de atenção especial
-
Coronavírus x gripe espanhola em BH: erros (e soluções) são os mesmos de 100 anos atrás