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Estado de Minas FACT-CHECKING

Checamos: Publicações usam foto de empresa privada para acusar Correios de negligência e pedir privatização

Imagens foram compartilhadas milhares de vezes em redes sociais mas são fake news; foto de veículos em mau estado não são dos Correios


21/08/2020 20:23 - atualizado 23/08/2020 08:15

“Qual a chance de uma empresa privada deixar os equipamentos dela nesse estado?”, questionam usuários ao publicar quatro imagens que supostamente mostram a negligência dos Correios com seus veículos de entrega.

No entanto, uma das fotos, compartilhadas mais de 20 mil vezes em redes sociais desde meados de agosto, é, na verdade, de uma empresa privada e não da companhia federal cuja privatização é defendida pelo atual governo.

Com hashtags como #Privatizacorreios e #PrivatizaJá, as postagens acompanham quatro imagens de vans, bicicletas e motos amarelas - cor dos veículos de transporte utilizados pelos Correios - aparentemente abandonadas.

“Uma empresa privada deixaria seus equipamentos de trabalho nessas condições? Resposta: não! Empresário valoriza tudo que conquistou com muito suor e sacrifício. Mas como esses equipamentos são adquiridos com o dinheiro do contribuinte pagador de imposto, as responsabilidades para com eles são mínimas”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), Twitter e Instagram desde o último dia 20 de agosto.

Dois dias antes, a secretária do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Ministério da Economia, Martha Seillier, indicou que o governo vai encaminhar ao Congresso “nas próximas semanas” um projeto de lei necessário para a desestatização dos Correios.

Desde a campanha eleitoral, a equipe do presidente Jair Bolsonaro sinaliza uma possível privatização da empresa federal responsável pelo envio de correspondências no país.

Depósito de bicicletas Yellow


Uma busca reversa no Google pela primeira foto que compõe as publicações viralizadas - na qual dezenas de bicicletas amarelas são vistas enfileiradas, com plantas crescendo ao seu redor - leva a uma reportagem publicada pelo jornal Tribuna do Paraná em janeiro deste ano sobre um depósito a céu aberto de bicicletas da startup Yellow que estava incomodando moradores de Curitiba.

Uma comparação entre uma das imagens que ilustram o artigo, feitas pelo fotógrafo Hedeson Alves, e a foto compartilhada nas redes sociais permite concluir que se trata do mesmo local, como demonstrado abaixo:
Captura de tela feita em 21 de agosto de 2020 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 21 de agosto de 2020 de uma publicação no Facebook

Além disso, uma análise da foto utilizando o recurso de ampliação de imagem da ferramenta InVID-WeVerify permite identificar o logo da startup de aluguel de bicicletas por aplicativo no registro compartilhado nas redes.
Comparação feita em 21 de agosto de 2020 entre foto compartilhada no Facebook (esquerda) e foto publicada no site do jornal Tribuna do Paraná
Comparação feita em 21 de agosto de 2020 entre foto compartilhada no Facebook (esquerda) e foto publicada no site do jornal Tribuna do Paraná

De acordo com a reportagem do Tribuna do Paraná, as bicicletas armazenadas no local haviam sido recolhidas pela empresa para manutenção e para evitar o vandalismo contra o equipamento que, normalmente, ficaria estacionado na rua até ser alugado por alguém através de seu smartphone.

Ainda segundo o veículo, moradores vizinhos ao depósito teriam reclamado com órgãos públicos sobre a forma de armazenamento, alegando poluição visual e falta de limpeza.

Em janeiro de 2019, a Yellow realizou uma fusão com a empresa mexicana de patinetes elétricos Grin, formando a Grow Mobility. Em janeiro deste ano, a empresa encerrou parte de suas atividades no Brasil, recolhendo suas bicicletas das ruas.

Na mesma época, outras imagens de bicicletas da startup em mau estado foram compartilhadas em redes sociais. A equipe de checagem da AFP tentou procurar a Grow, mas não conseguiu localizar um contato em funcionamento.

Fotos dos Correios


As outras três imagens que compõem as publicações viralizadas são, realmente, de equipamentos dos Correios.
Captura de tela feita em 21 de agosto de 2020 de imagem compartilhada no Facebook ampliada na ferramenta InVID & WeVerify
Captura de tela feita em 21 de agosto de 2020 de imagem compartilhada no Facebook ampliada na ferramenta InVID & WeVerify

Uma busca reversa no Google pela imagem de vans aparentemente abandonadas leva a um artigo do G1 de fevereiro de 2017, segundo o qual o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos do Acre (Sintect-AC) havia protocolado um pedido para que fosse investigado o suposto sucateamento de veículos dos Correios no estado.

Na reportagem, a foto viralizada é creditada ao Sintect. “Veículos do CDD Seis de Agosto estariam sucateados no pátio da agência”, diz a legenda, em referência a um centro de distribuição domiciliar localizado na capital do Acre.

Ao G1, os Correios negaram que os veículos fotografados estivessem abandonados.

A segunda imagem, de bicicletas amontoadas em um pátio, foi publicada em 30 de setembro de 2017 pelo jornal Estado de S. Paulo. Segundo o meio de comunicação, os equipamentos estavam em uma unidade dos Correios em São José do Rio Preto para ser vendidos, de acordo com a empresa federal.

Buscas pela terceira imagem, de motos armazenadas em um local onde crescem plantas, não permitiu localizar a sua origem. É possível identificar nos veículos, no entanto, o logo dos Correios, idêntico ao compartilhado na conta oficial da companhia no Pinterest.

Procurado pelo AFP Checamos, os Correios confirmaram que as fotos viralizadas mostram equipamentos da companhia, destacando que “tratam-se de imagens antigas”.

“Trata-se de uma frota que estava fora de operação, em que os veículos já foram alienados”, continua o posicionamento.

Em resumo, uma das imagens compartilhadas nas redes sociais para acusar os Correios de negligência e pedir a privatização da companhia é, na verdade, de uma empresa privada.


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