Em pronunciamento em vídeo transmitido em Nova York para abrir uma Assembleia Geral da ONU adaptada à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre os incêndios que afetam a Amazônia e o Pantanal e defendeu a atuação de seu governo durante a crise de saúde provocada pela COVID-19.
Leia Mais
Checamos: Vídeo não mostra brigadistas causando incêndio no Pantanal, mas técnica de combate a chamasChecamos: chamas afetam biomas brasileiros em 2020, mas algumas imagens não são atuais Checamos: Ministro Ricardo Salles não sofreu tentativa de envenenamento em agosto deste anoChecamos: Fotos antigas de chamas em outros países circulam como sendo do Pantanal em 2020Checamos: Lula participou de evento com relatora especial, que não é funcionária contratada da ONUPandemia de Covid-19
“Desde o princípio alertei, em meu país, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos tinham que ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade”: Falso
Apesar de realmente ter demonstrado preocupação com as consequências da pandemia para a economia brasileira desde o início do surto de covid-19, não é verdade que o presidente Jair Bolsonaro alertou “desde o princípio” para a necessidade de combater o novo coronavírus.
No dia em que o Brasil registrou a primeira morte pela doença, em 17 de março, Bolsonaro indicou ver “histeria” em algumas medidas implementadas para reduzir a propagação da doença.
Em pronunciamento à população em 24 de março, quando o Brasil registrava 46 óbitos e mais de 2.200 casos confirmados de COVID-19, o presidente se referiu à doença como uma “gripezinha”. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”, afirmou.
Alguns dias depois, em 27 de março, colocou em dúvida os dados de mortes pela doença no estado de São Paulo, que registrava 58 óbitos no momento.
“Não pode ser um jogo de números para favorecer interesses políticos. Não estou acreditando nesses números de São Paulo, até pelas medidas que ele tomou”, disse Bolsonaro em entrevista à Band TV.
No mesmo mês, saiu para passear em Brasília, provocando pequenas aglomerações - já desencorajadas na época, inclusive por seu ministro da Saúde - e disse que o vírus precisaria ser enfrentado mas “não como um moleque”. “Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia”, acrescentou.
“Por decisão judicial, todas as medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos 27 governadores das unidades da federação. Ao presidente coube envio de recursos e meios a todo o país”: Enganoso
O Supremo Tribunal Federal (STF) efetivamente julgou ações determinando a prerrogativa de estados e municípios no estabelecimento de medidas de combate à pandemia. As decisões não excluíam, contudo, a capacidade da União de adotar ações para enfrentar a crise.
Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6341, por exemplo, o STF julgou um pedido do Partido Democrático Trabalhista (PDT) pela suspensão de dispositivos da Medida Provisória 926/202, que previa, entre outros itens, que o presidente da República seria responsável por determinar os serviços e atividades considerados essenciais durante a pandemia e que, portanto, não seriam afetados por eventuais paralisações.
Na decisão, do final de março, a corte aceitou parte do pedido do PDT, solicitando que fosse explicitado que “as medidas adotadas pelo Governo Federal na Medida Provisória (MP) 926/2020 para o enfrentamento do novo coronavírus não afastam a competência concorrente nem a tomada de providências normativas e administrativas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios”.
Em entrevista em junho deste ano, a ministra do STF Cármen Lúcia explicou que a corte entendeu que tanto os estados e municípios, quanto a União, têm responsabilidade no enfrentamento da pandemia.
“O que o Supremo disse é que a responsabilidade é dos três níveis — e não é hierarquia, porque na federação não há hierarquia —- para estabelecer condições necessárias, de acordo com o que cientistas e médicos estão dizendo que é necessário, junto com governadores, junto com prefeitos”, afirmou a ministra.
“ concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente mil dólares para 65 milhões de pessoas”: Exagerado
Para ajudar os trabalhadores informais, os desempregados e aqueles que tiveram sua renda reduzida devido às paralisações impostas para combater a propagação do novo coronavírus no Brasil, o governo federal implementou o auxílio emergencial que, segundo dados oficiais, realmente foi entregue a mais 65 milhões de pessoas.
O valor do benefício em dólar foi, no entanto, exagerado pelo presidente. Desde abril, o governo pagou cinco parcelas de R$ 600 aos beneficiários. Em setembro, o auxílio foi prorrogado, e contará com mais quatro parcelas de R$ 300.
Somando todas as parcelas, incluindo as que ainda não foram pagas, o total é de R$ 4.200, pouco mais de U$ 773, segundo câmbio do Banco do Brasil. O valor é cerca de 20% menor do que o citado por Bolsonaro.
O valor supera, no entanto, o pago a mães solteiras provedoras da família, que tem direito a receber todas as parcelas em dobro, totalizando R$ 8.400, ou cerca de U$ 1.546. O governo não divulgou quantas mães solteiras receberam este benefício mas, segundo dados do IBGE, o Brasil possuía 11,6 milhões de famílias de mulheres sem cônjuge e com filhos em 2015.
“Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender os pacientes de COVID-19”: Falso
Não é verdade que não faltaram recursos nos hospitais brasileiros para atender pacientes de COVID-19 durante a pandemia.
Em abril deste ano, um informe do Ministério da Saúde destacava que o Brasil ainda não tinha a quantidade suficiente de respiradores, leitos de terapia intensiva, pessoal qualificado e testes diagnósticos para fazer frente à “fase mais aguda” da pandemia do novo coronavírus.
Logo, veículos de comunicação passaram a reportar as consequências destas carências.
Em abril, a médica Valdiléa Veloso, diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, contou à AFP que sua equipe, referência no combate da COVID-19 no Rio de Janeiro, já enfrentava falta de equipamentos de proteção.
No final do mesmo mês, um cirurgião-geral que trabalhava em uma emergência no Rio de Janeiro relatou à mídia que não havia respiradores para todos os pacientes, obrigando a equipe a escolher quais vidas salvar.
Cenário semelhante foi narrado por uma médica que trabalhava na linha de frente do combate à COVID-19 em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no Acre, em maio. Em junho, o Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte também denunciou a falta de respiradores em uma UPA da capital mineira.
Chamas na Amazônia e no Pantanal
“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde os caboclos e os índios queimam os seus roçados em busca de sua sobrevivência em áreas já desmatadas”: Falso
Para explicar os incêndios que afetam a floresta amazônica, onde foram registrados 71.673 focos ativos desde o início do ano, Bolsonaro sugeriu que as chamas são causadas por caboclos e indígenas que ateariam fogo na terra para prepará-la para a agricultura.
Embora essa seja uma técnica efetivamente empregada por povos indígenas brasileiros, um levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) de setembro do ano passado concluiu que uma grande proporção dos incêndios que afetam a região está atrelada ao desmatamento.
Para tal, o instituto analisou os locais onde foram registrados focos de calor no bioma Amazônia de 1º de janeiro a 29 de agosto, no período de 2011 a 2019. Os resultados indicaram que a maior parte dos focos de incêndio está concentrada em propriedades privadas (PP).
Além disso, ao contrário do que afirmou o presidente, o IPAM concluiu que as áreas protegidas por indígenas estavam, em grande parte, livres de desmatamento e longe das chamas.
“O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição”: Enganoso
Com 16.119 focos ativos de janeiro até 21 de setembro deste ano - contra 6.052 no mesmo período do ano passado-, o Pantanal enfrenta um número recorde de incêndios, que têm devastado sua fauna e flora.
Embora a seca seja, em parte, responsável pelo desastre, ela não é a única explicação, como já indicou à AFP o engenheiro florestal Vinícius Silgueiro, do Instituto Centro de Vida (ICV).
“A substituição de plantas nativas por pastagens exóticas” fragilizou a resistência da vegetação, afirmou o especialista, destacando, também, que queimadas para limpar o terreno geram incêndios e que essa prática persiste, devido à “sensação de impunidade” que prevalece pelo “enfraquecimento dos órgãos públicos de proteção ambiental e pelo corte de recursos”.
A Polícia Federal e órgãos do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul identificaram, de fato, indícios de que os incêndios que afetam o Pantanal podem ter em sua origem ações humanas. Entre as hipóteses investigadas, está a de que proprietários autorizados a queimar parte de sua vegetação para limpar as terras tenham perdido o controle das chamas.
Há, ainda, especialistas que apontam que os incêndios no Pantanal podem ser potencializados pelo desmatamento na Amazônia, já que isso afeta a umidade da atmosfera, interferindo no ciclo das chuvas, o que pode intensificar os períodos de seca e, por sua vez, propiciar mais incêndios.
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:
- O que é o pico da pandemia e por que ele deve ser adiado
- Veja onde estão concentrados os casos em BH
-
Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa
-
Animais de estimação no ambiente doméstico precisam de atenção especial
-
Coronavírus x gripe espanhola em BH: erros (e soluções) são os mesmos de 100 anos atrás