Uma tabela que compara os supostos salários mínimos de países da América do Sul foi compartilhada milhares de vezes em redes sociais desde meados de outubro.
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“No Brazil de Bolsonaro o salário mínimo cresce para baixo igual rabo de cavalo”, diz uma das publicações, compartilhadas mais de 12 mil vezes no Facebook (1, 2, 3) e Twitter, desde o último dia 8 de outubro.
“Vergonha absoluta!”, escreveu outro usuário ao publicar a tabela, segundo a qual a ordem de países com maior salário mínimo da América do Sul seria: Argentina, Venezuela, Equador, Uruguai, Colômbia, Bolívia, Paraguai, Peru, Chile, Suriname, Guiana e Brasil.
Na parte inferior da tabela é indicada a suposta fonte dos dados: “Banco Mundial, outubro 2020”. No entanto, uma busca no site da organização financeira internacional não localiza qualquer levantamento do tipo.
O AFP Checamos consultou fontes oficiais de cada um dos países listados e concluiu que apenas o salário mínimo brasileiro está correto na tabela viralizada. Confira abaixo os valores, convertidos para real em 22 de outubro de 2020, utilizando a ferramenta do Banco Central do Brasil.
Salários mínimos
Longe dos R$ 2.826 mencionados nas redes sociais, o salário mínimo da Argentina é de 18.900 pesos, ou R$ 1.351. Como definido em resolução do Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência Social, publicada neste mês de outubro, esse valor irá aumentar gradualmente ao longo dos próximos meses, chegando a 21.600 em março de 2021. Em reais, isso corresponde a R$ 1.544, ainda inferior ao número viralizado.
Em segundo lugar na tabela compartilhada nas redes, com suposta renda mínima de R$ 2.593, a Venezuela possui, na verdade, salário mínimo de 400.0000 bolívares soberanos, ou R$ 4,88, segundo anunciado pelo governo em abril deste ano.
A este valor, é somado um benefício de alimentação obrigatório também de 400.0000 bolívares soberanos, elevando a renda básica a R$ 9,76, ainda muito inferior ao salário listado na tabela.
A remuneração mínima do Equador também não está correta. Como informou o Ministério do Trabalho do país em 27 de dezembro de 2019, o salário mínimo vigente em 2020 é de 400 dólares, ou R$ 2.232, um pouco a menos do que os R$ 2.497 do ranking viralizado.
No caso do Uruguai, o valor verdadeiro é maior do que o mencionado nas redes. Desde 1º de janeiro de 2020, o salário mínimo uruguaio é de 16.300 pesos, o equivalente a R$ 2.130, mais do que os R$ 2.050 listados na tabela.
Na Colômbia, ao invés de R$ 1.977, é paga uma remuneração mínima de 877.802 pesos, ou cerca de R$ 1.293, como informou o Ministério do Trabalho no final de 2019.
Já na Bolívia, o salário mínimo de 2020 é de 2.122 bolivianos, como lista o Instituto Nacional de Estatística do país. Em reais, o valor é equivalente a R$ 1.699, menos do que os R$ 1.905 das redes.
No Paraguai, o valor não foi reajustado em 2020 devido à pandemia de coronavírus, sendo ainda válido o salário mínimo de 2.192.839 guaranis, anunciado em julho de 2019. O valor em reais é equivalente a cerca de R$ 1.733 e não R$ 1.880, como visto na tabela.
Já o salário mínimo do Peru é de 930 soles, ou pouco mais de R$ 1.440, número inferior aos R$ 1.877 citados nas redes. A remuneração atribuída ao Chile também é incorreta: ao invés de R$ 1.733, são pagos 320.500 pesos, que equivalem a cerca de R$ 2.295.
No Suriname, o salário mínimo é estabelecido por hora. Segundo informou o Ministério do Trabalho, Emprego e Juventude em julho de 2019, o valor definido para os dois anos seguintes era de 8,4 dólares do Suriname por hora, ou 1.428 por mês, como afirmou o ministro do Trabalho do país segundo reportado por veículos locais (1, 2). Em reais, isso equivale a pouco mais de R$ 557 e não R$ 1.682.
Na Guiana, o salário mínimo foi fixado em 70.000 dólares da Guiana em novembro de 2019, o equivalente a cerca de R$ 1.856, e não R$ 1.171.
Por fim, o salário mínimo do Brasil em 2020 é realmente de R$ 1.045. Listamos, abaixo, a ordem correta dos países por remuneração mínima vigente este ano, em reais:
Em resumo, é falsa a tabela que compara os salários mínimos de países da América do Sul. Apenas a remuneração básica do Brasil está correta e, consequentemente, a ordem dos salários viralizada nas redes é incorreta.