Jornal Estado de Minas

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Não há registro de uma pesquisa em que o governador de São Paulo tivesse 98% de rejeição


 

Publicações que afirmam que o governador de São Paulo, João Doria, é rejeitado por 98% da população somaram mais de 15,3 mil interações nas redes sociais ao menos desde abril de 2020. Apesar disso, não há qualquer registro de uma pesquisa com esse resultado relacionada a Doria. Análises de institutos como Ibope e Datafolha mostram a rejeição do governador consideravelmente distante dos 98%.





 

“Doria já e rejeitado por 98% da população. Se você também rejeita compartilhe”, diz o texto sobreposto a uma imagem do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em postagens no Facebook (1, 2, 3) que circulam ao menos desde abril de 2020, que também foram encontradas no Instagram (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).


Uma busca no Google pelos termos “Doria %2b 98% %2b rejeição”, contudo, não levou a nenhuma ocorrência de uma pesquisa com esse resultado ou a publicações na imprensa de um levantamento que tivesse tido um percentual tão alto.

Ibope e Datafolha

Uma segunda pesquisa, feita no site do instituto de pesquisa Datafolha, pelo termo “João Doria” e selecionando o intervalo de tempo de 1º de abril de 2020 - mês em que as postagens começaram a circular - até a data de hoje, tampouco levou a análises que mostrassem uma rejeição de 98% do governador de São Paulo.





 

Em abril de 2020, um levantamento sobre o desempenho do governador paulista no combate ao coronavírus revelou que 19% dos entrevistados o consideravam ruim ou péssimo.

 

Em setembro do mesmo ano, uma avaliação geral do governo Doria revelou que 39% das pessoas questionadas viam a sua gestão como ruim ou péssima.

 

Em outubro, uma nova pesquisa foi feita a respeito do trabalho de Doria na pandemia de coronavírus, quando 34% responderam que o viam como ruim ou péssimo.





 

Em janeiro de 2021, o Datafolha perguntou quem estava fazendo mais pelo Brasil durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro ou o governador João Doria. Nesse levantamento, por sua vez, 46% apontaram que era o governador de São Paulo.

 

Uma terceira busca, dessa vez pelos termos “João Doria” e “Ibope”, instituto de pesquisa que encerrou as suas atividades de análise de opinião pública no fim de janeiro deste ano, selecionando o mesmo intervalo de tempo de abril de 2020 até o dia de hoje, igualmente não levou a qualquer resultado próximo a 98% de rejeição.

 

Com o fim do Ibope, a pesquisa foi feita por meio do Google e da repercussão das análises na imprensa. Em abril, um levantamento feito com entrevistados das classes A, B e C de São Paulo mostrou que 21% desaprovavam as ações de Doria em relação à pandemia.





 

Em maio, o instituto revelou que 36% dos moradores da capital desaprovavam as ações do governador no combate ao covid-19.

 

Em setembro, a gestão de Doria foi avaliada como ruim ou péssima por 39% dos entrevistados. Em meados de outubro, esse número aumentou para 44% e no final do mesmo mês chegou a 49%, percentual mantido  no início de novembro. No dia 26 de novembro, contudo, esse índice alcançou os 51%, mas ficou distante dos 98% mencionados nas publicações viralizadas.

 

A disputa entre Doria e Bolsonaro

O Brasil registrou o primeiro caso confirmado de covid-19 em 26 de fevereiro de 2020, de um morador de São Paulo que havia voltado da Itália.





 

O governador de São Paulo declarou a primeira quarentena no estado quase um mês depois, a partir de 24 de março, impondo o fechamento de estabelecimentos comerciais que não fossem considerados essenciais. Inicialmente, a medida, cujo objetivo era diminuir a disseminação do vírus, duraria 15 dias.

 

A decisão, contudo, foi prorrogada algumas vezes (1, 2, 3), quando as publicações viralizadas contra o governador começaram a circular, juntamente com muitas críticas, e o Brasil já registrava mais de 23 mil casos de covid-19, com cerca de mil mortes.

 

Desde então, o governador de São Paulo e o presidente Jair Bolsonaro travam uma disputa política. João Doria chegou a afirmar que “nenhum governador” iria aceitar a indicação de Bolsonaro “de não fazer isolamento ou de romper o isolamento”. Enquanto isso, o presidente pedia aos empresários que “jogassem pesado” com Doria pela flexibilização do confinamento. 

 

Um conteúdo semelhante também foi verificado pelas equipes da Agência Lupa, do Aos Fatos e do Estadão Verifica.





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