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Estado de Minas CHECAMOS

Imagens de ação da PF em Sergipe circulam como se fossem em Secretaria de Saúde no Maranhão

Com o aumento no número de casos e óbitos no Brasil, diversos estados voltaram a decretar medidas de restrição


15/03/2021 21:23 - atualizado 15/03/2021 21:23


 

Captura de tela feita em 15 de março de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 15 de março de 2021 de uma publicação no Facebook
Fotos e vídeos de quantias de dinheiro apreendidas pela Polícia Federal (PF) viralizaram nas redes sociais desde o último dia 3 de março com a afirmação de que retratavam uma operação contra desvio de verba pela Secretaria de Saúde de Imperatriz, município do Maranhão. Mas a maioria das imagens, compartilhadas mais de 1,6 mil vezes, foram registradas em Sergipe durante uma ação contra a prática de jogos de azar, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.


“PF na área. Estado do Maranhão.. Cidade Imperatriz MA. Estava na casa da secretaria da saúde. gavetas, sacos, muchilas, malas, caixas de dinheiro” e “LOCKDOWN significa: fica em casa enquanto roubamos o dinheiro da Saúde. PF encontra malotes e caixas de dinheiro desviado da Saúde no Maranhão”, são algumas das legendas que acompanham fotos e vídeos em publicações no Facebook (1, 2, 3), no Instagram e no Twitter (1, 2, 3).

Com o aumento no número de casos e óbitos no Brasil, que por três dias seguidos registrou mais de 2 mil mortes diárias, diversos estados voltaram a decretar medidas de restrição a fim de minimizar a propagação da covid-19. 

Um dos estados que implementou novamente as restrições foi o Maranhão, governado por Flávio Dino (PCdoB), indo na contramão da estratégia defendida pelo presidente Jair Bolsonaro para lidar com a pandemia.

Em 3 de março de 2021, a PF realizou a “Operação Recôndito” a fim de investigar supostas fraudes em licitações para contratos assinados pela Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz, no Maranhão, que tinham por objetivo o combate ao coronavírus.

Mas a maioria das imagens viralizadas não está relacionada a essa operação. Elas correspondem a uma ação da Polícia Federal no Sergipe ocorrida em 3 de março de 2021.

Operação Distração


Uma busca reversa pelas três primeiras imagens atribuídas nas redes sociais ao caso de Imperatriz, no Maranhão, - a de sacos pequenos e uma caixa com dinheiro, a de malas abertas sobre uma cama também com notas, e a de um grande saco e uma caixa de papelão, ambos com a identificação da Polícia Federal em cima - levou ao site da PF.

Em uma matéria sobre a Operação Distração, realizada em Sergipe “com o objetivo de obter provas para investigação que apura suposta prática de exploração de jogos de azar, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e organização criminosa envolvendo um site de apostas e seus proprietários”, estavam os três registros.

A ação apreendeu mais de 10 milhões de reais, ainda segundo a Polícia Federal.
Captura de tela feita em 15 de março de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 15 de março de 2021 de uma publicação no Facebook

Uma busca reversa pelas gravações também associadas ao caso no Maranhão também levou a publicações nas redes sociais da Polícia Federal, como Twitter e Facebook, divulgando imagens da Operação Distração, no Sergipe, que, segundo a força, tratou-se da “maior apreensão de dinheiro no ano de 2021”.

No vídeo publicado nas redes oficiais da PF e relacionado a Sergipe observa-se, aos 13 segundos, uma porta sendo aberta e uma série de itens empilhados - mesmo trecho que viralizou atribuído à cidade de Imperatriz.
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e as fotos publicadas no site da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e as fotos publicadas no site da Polícia Federal

Aos 21 segundos da gravação pode-se identificar um agente abrindo uma mala cheia de notas e uma bolsa com um conteúdo semelhante, sequência que também circula incorretamente como se retratasse a operação no Maranhão.
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal

Aos 30 segundos do mesmo vídeo, vê-se um outro agente mexendo em gavetas e retirando notas. Assim como nos casos anteriores, tratava-se da ação de combate aos jogos de azar, à lavagem de dinheiro e evasão de divisas, sem qualquer relação com a Secretaria de Saúde de Imperatriz.
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Instagram (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Instagram (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal

Aos 34 segundos do vídeo divulgado pela Polícia Federal, por sua vez, são vistas três imagens: duas do que parece ser uma máquina de lavar cheia de caixas e outra de malas com dinheiro em cima de uma cama. Embora tenha circulado atribuída ao caso de Imperatriz, a fotografia do eletrodoméstico com caixas também foi feita em Sergipe.
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal

Por fim, uma gravação em que um policial é visto abrindo uma caixa lotada de notas agrupadas circulou amplamente relacionada a uma apreensão na Secretaria de Saúde de Imperatriz. Mas o registro não foi feito nesta localidade: observando os elementos vistos na sequência e nas imagens divulgadas no site da PF é possível constatar que se trata da Operação Distração, ocorrida em Sergipe.
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e o vídeo publicado no Facebook da Polícia Federal

Em e-mail ao AFP Checamos, a assessoria da Polícia Federal no Maranhão indicou que “alguns vídeos que ora circulam nas redes sociais fazendo referência à Operação RECÔNDITO, deflagrada no último dia 03 de março, na cidade de Imperatriz, estão sendo usados de forma equivocada, visto que se tratam de imagens da Operação DISTRAÇÃO, deflagrada na mesma data, no estado de Sergipe”.

Operação Recôndito


Segundo a Polícia Federal, a “Operação Recôndito” tinha por objetivo apurar “supostas fraudes em procedimentos licitatórios e sobrepreço em contratos públicos firmados pela Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz – SEMU, no ano de 2020, com a utilização de recursos públicos federais destinados ao combate do novo Coronavírus”.

Apesar de muitas imagens terem sido incorretamente associadas a essa ação da Polícia Federal, no caso da foto em que se vê um carro com o logo da PF saindo por um portão pode-se identificar que se trata da Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz, no Maranhão. A foto associada à Imperatriz nas redes sociais foi o registro mais antigo encontrado pelo Checamos.

Abaixo, uma comparação entre a foto viralizada nas redes sociais e um registro do prédio da Secretaria de Saúde disponível no Google Maps:
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e a foto publicada no site da Polícia Federal
Comparação feita em 12 de março de 2021 entre a postagem viralizada no Facebook (esquerda) e a foto publicada no site da Polícia Federal

No próprio dia 3, a Prefeitura de Imperatriz se manifestou em sua página no Facebook para esclarecer que as “imagens da operação que a Polícia Federal apreendeu malas e pacotes cheios de dinheiro foram feitas em Sergipe”.

Sobre a Operação Recôndito, a Prefeitura divulgou uma nota de esclarecimento na qual afirmou que está colaborando com a PF e que seu sistema de auditoria foi acionado a fim de analisar a questão dos contratos emergenciais firmados em meio à pandemia de covid-19.

Um conteúdo semelhante foi verificado pelas equipes do Aos Fatos, da Agência Lupa e do Boatos.org.


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