Um vídeo de manequins em sacos plásticos e colocados dentro de um caminhão de lixo foi compartilhado mais de 113 mil vezes nas redes sociais desde o último 29 de março com a alegação de que eles seriam usados na montagem de uma cena “terrível” de mortos com o objetivo de gerar medo na população em meio à pandemia de covid-19. No entanto, os bonecos foram usados no videoclipe do rapper russo Husky, filmado na Rússia e lançado em setembro de 2020.
“Preparando a cena terrível de mortos para gravar e gerar medo na população. Só não esperavam um dos mortos da fraudemia fumando…”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), no Instagram (1, 2) e no Twitter (1, 2).
Em uma busca reversa pelas capturas de tela do vídeo no Google foi encontrada uma postagem da mesma cena na rede social de compartilhamento de vídeos Tik Tok. A legenda, escrita em russo, indica: "Gravando o vídeo Husky - 'Never ever'". O dono do perfil é Vasya Ivanov, que na descrição se apresenta como diretor de arte e disponibiliza o link de seu canal na plataforma de vídeos Vimeo.
No canal do diretor de arte, entre outros trabalhos, há o videoclipe da música “Never Ever”, do rapper russo Husky (em russo se escreve %u0425%u0430%u0441%u043A%u0438). Ao final do clipe, lançado no último 26 de setembro, é possível ver um caminhão laranja carregando sacos pretos, como se fossem cadáveres, passando por uma parede de tijolos brancos, como aparece nas imagens postadas.
Em seu perfil no Instagram, Ivanov mostrou nos stories os bastidores da filmagem do videoclipe. A sequência foi salva como “Husky N-E” e, entre os vídeos postados, se vê a de um homem usando uma camisa estampada e um boné azul arrumando os sacos pretos. Um pouco mais acima na imagem aparece um outro homem, dentro de um saco preto, fumando um cigarro, em cena idêntica à das publicações viralizadas.
Embora nos stories de Ivanov as imagens não sejam acompanhadas por qualquer som, nas postagens compartilhadas milhares de vezes se ouve a música “Never Ever”, de Husky.
O clipe mostra o rapper cantando em um local ensaguentado e repleto de homens mortos por tiros. Na segunda parte, esses corpos aparecem em sacos pretos içados pelo lado de fora de um prédio de tijolos brancos até serem armazenados na caçamba de um caminhão laranja. Não há qualquer referência à pandemia nas imagens.
As alegações de “fraudemia”, em referência a uma pandemia mentirosa do novo coronavírus, são feitas no auge de casos e mortes pela covid-19 no Brasil. No último dia 31 de março, o país registrou mais de 12,7 milhões de casos da doença, ultrapassando 321 mil óbitos, segundo balanço da AFP.
Uma outra checagem da AFP, em inglês, mostra que as imagens do videoclipe circularam com a alegação de que 200 corpos de vítimas da covid-19 foram jogados em um caminhão de lixo na Rússia.
Esse conteúdo também foi checado pela Agência Lupa e pelo Fato ou Fake.