Um vídeo em que banhistas expulsam guardas municipais da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, tem circulado desde o último 27 de março nas redes sociais, com mais de 71 mil compartilhamentos, como se fosse um protesto contra as medidas restritivas da pandemia de covid-19. No entanto, essas imagens foram feitas em outubro de 2012 durante uma confusão desencadeada pela repressão à prática de altinho, um esporte tradicional nas areias cariocas.
“URGENTE Rio de Janeiro nessa manhã, com diversos conflitos Expulsão da praia de fiscais da prefeitura, marca o início da desobediência civil!”, diz uma das publicações postadas no Facebook (1, 2) e no Twitter (1, 2), que indicam que o fato teria acontecido no dia 26 de março deste ano.
O vídeo também circula com legendas que não definem a sua data, mas sugerem a desobediência civil (1, 2, 3).
As publicações afirmam que o vídeo mostra o começo da desobediência civil contra as medidas de restrição adotadas para tentar conter o avanço da covid-19. Mas com uma busca reversa no Google é possível verificar que as imagens são, na verdade, de 9 de outubro de 2012, como mostram reportagens (1, 2) da época.
Segundo essas notícias, as imagens mostram uma confusão na praia de Ipanema depois que guardas municipais agiram para coibir a prática de altinho - um esporte popular nas areias cariocas que consiste em tocar uma bola entre os jogadores sem utilizar as mãos - na beira do mar em horário não permitido, entre 8h00 e 16h00.
Um vídeo feito de outro ângulo do mesmo tumulto foi postado pelo usuário Micael Hocherman no YouTube em 9 de outubro de 2012 com o título “Praia de ipanema 2 dias depois da eleição do eduardo paes”.
Na descrição do vídeo, Hocherman conta que “quando os guardas municipais quiseram levar um jovem, aplicando uma ‘gravata’ no seu pescoço, as pessoas espontaneamente se rebelaram contra aquilo que elas julgavam uma injustiça, ou pelo menos, uma ação totalmente desmedida. Eram côcos voando pelo alto e cadeiras e barracas sendo arremessadas em direção aos guardas. Estes, por sua vez, revidaram com cacetetes, mas não conseguiram resistir ao poder da fúria da multidão e foram obrigados a ‘fugir’ em direção ao calçadão”.
Essas imagens circulam em um contexto de ampliação das medidas restritivas impostas desde 20 de março passado pela prefeitura do Rio de Janeiro, que incluíram a proibição de permanência nas praias para a prática de esportes coletivos.
No dia 9 de abril, a prefeitura flexibilizou parte das restrições, como a abertura de bares e restaurantes, mas manteve a proibição de esportes coletivos nas praias.
O Brasil atravessa um momento crítico da pandemia de covid-19, somando mais de 13,4 milhões de casos e 353 mil mortes, segundo o balanço da AFP. Ainda assim, tem havido protestos por todo o país (1, 2, 3) contra as medidas restritivas implementadas na tentativa de conter a circulação do novo coronavírus.