Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Mulher armada em vídeo não é a mãe de um dos mortos em operação policial no Jacarezinho

Após a operação policial que deixou 28 mortos na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, no último dia 6 de maio, usuários passaram a compartilhar um vídeo que supostamente mostra a mãe de uma das vítimas dançando enquanto segura um fuzil.



A mulher que aparece armada na gravação não é, no entanto, a mesma que perdeu o filho, como esta última confirmou em entrevistas a veículos de comunicação. Uma comparação entre imagens das duas permite identificar, de fato, diferenças significativas.
“Essa senhora está chorando lamentando a morte do filho, mas ela é tão traficante quanto ele, vejam o vídeo dela de arma na mão e dançando”, diz uma das publicações compartilhadas mais de 5 mil vezes no Facebook (1, 2, 3) e Instagram desde o último dia 7 de maio.

As postagens, que também foram enviadas ao WhatsApp do AFP Checamos para verificação, associam o vídeo da mulher armada a uma captura de tela de uma reportagem do programa RJ1, da TV Globo, na qual uma mãe lamenta a morte de seu filho em um protesto no Jacarezinho. 




Considerada por grupos de direitos humanos como a ação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, a operação contra o tráfico de drogas tem sido alvo de fortes críticas e denúncias de execuções sumárias. A atuação dos policiais foi, por outro lado, elogiada pelo presidente Jair Bolsonaro que descreveu os mortos como “traficantes que roubam, matam e destroem familías”, em retórica semelhante a das publicações viralizadas.

O vídeo compartilhado nas redes não retrata, no entanto, a mãe de uma das vítimas da operação do último dia 6 de maio.

Uma busca reversa pela gravação mostra que ela circula ao menos desde o final de abril de 2021 sem qualquer referência à favela do Jacarezinho ou ao local onde foi gravada.

Após viralizar novamente, desta vez associada à operação, a mulher vista na reportagem do RJ1 deu entrevistas aos canais Record e Globo negando ser a pessoa que aparece armada. “Jamais eu iria segurar um fuzil. Nunca nem peguei nisso. Quem me conhece sabe a mulher guerreira e batalhadora que eu sou”, disse a dona de casa identificada como Adriana Rodrigues.



Uma comparação entre imagens destas entrevistas e o vídeo publicado nas redes permite identificar, de fato, diferenças significativas entre as duas pessoas.

Nas imagens da Record TV, por exemplo, é possível ver que Rodrigues tem uma pinta perto de um dos olhos e uma tatuagem na parte superior de um dos braços, elementos que não são vistos na mulher que segura uma arma no vídeo viralizado, como demonstrado abaixo: 

Procurado pelo AFP Checamos, o setor de comunicação da Polícia Civil - responsável pela operação na favela carioca - informou que a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) está à disposição de Adriana Rodrigues “para realizar procedimento investigatório a respeito do caso”.

Conteúdo semelhante a este também foi checado pelos sites Estadão Verifica e Agência Lupa.

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