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Estado de Minas CHECAMOS

Não existem ligações entre Manuela D'Ávila e Adélio no dia da facada

O conteúdo voltou a ser compartilhado no final de 2020, quando Manuela D'Ávila era candidata a prefeita de Porto Alegre, e, novamente, em maio de 2021


26/05/2021 21:04 - atualizado 27/05/2021 08:36


 

Captura de tela feita em 26 de maio de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 26 de maio de 2021 de uma publicação no Facebook
Publicações que asseguram que a ex-candidata à Vice-Presidência Manuela D’Ávila (PCdoB) ligou 18 vezes para Adélio Bispo no dia do atentado contra o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro em Juiz de Fora (MG) foram compartilhadas mais de 20 mil vezes em redes sociais desde setembro de 2018. Mas a alegação, que voltou a circular em 2021, é falsa. À AFP, a Polícia Federal de Minas Gerais informou que as ligações “não foram comprovadas”.


“Por que essa mulher ligou 18 vezes para Adélio no dia do esfaqueamento do Bolsonaro?”, diz o texto sobreposto a uma imagem de D’Ávila em publicações que começaram a circular logo após Adélio Bispo esfaquear Bolsonaro em um evento de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, em setembro de 2018. Na época, D’Ávila era vice da chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa pelo Palácio do Planalto.

O conteúdo voltou a ser compartilhado no final de 2020 (1, 2, 3), quando Manuela D’Ávila era candidata a prefeita de Porto Alegre, e, novamente, em maio de 2021 (1, 2, 3). 

Adélio Bispo foi detido no mesmo dia do atentado, em 6 de setembro de 2018, e submetido a dois inquéritos policiais. Mas, ao contrário do alegado nas redes, uma consulta a documentos públicos relacionados a essas duas investigações não localiza qualquer menção ao nome de D’Ávila.

Primeiro inquérito


Dois dias após a detenção de Adélio, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, autorizou a quebra de seu sigilo telefônico, permitindo que a Polícia Federal rastreasse ligações, mensagens e contatos feitos pelo agressor antes do ataque.

Essa análise foi conduzida já no primeiro inquérito policial sobre o caso, realizado nos 30 dias após a facada, como detalhado em relatório do juiz federal Bruno Savino, da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, que julgou a ação penal referente ao atentado.

No documento, são listados os elementos de interesse ao caso identificados no celular de Adélio, como imagens e vídeos que “comprovam que o réu [...] premeditou o crime”. Em nenhum momento são mencionados os telefonemas descritos nas redes.

Como reportado pela AFP, a PF concluiu neste inquérito que Adélio agiu sozinho, descartando, a partir das evidências colhidas, o envolvimento de terceiros no ataque. A Polícia também determinou, contudo, a abertura de uma segunda investigação para avaliar mais detalhadamente a existência de mandantes, idealizadores, instigadores, ou financiadores do crime.

Sem participação partidária


Em relatório parcial deste segundo inquérito, divulgado em maio de 2020 pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Polícia Federal forneceu mais detalhes sobre as diligências realizadas ao longo da investigação - incluindo a análise das ligações telefônicas de Adélio.

De acordo com o documento, foram analisados os extratos telefônicos de todos os terminais e chips relacionados ao investigado, assim como os extratos telefônicos de cinco pessoas “apontadas como de significativa importância à apuração”.

Esses dados foram comparados, ainda segundo o relatório, com os dados cadastrais “de dezesseis milhões e duzentos mil filiados a todos os partidos políticos registrados no Brasil” para averiguar se alguma dessas pessoas teria tido contato telefônico com Adélio “considerando os reflexos políticos do ato criminoso”.

Essa possibilidade foi descartada, no entanto, pela investigação: “Essa busca genérica decorreu da absoluta ausência de suspeitos concretos”, diz o relatório. Manuela D’Ávila é filiada ao PCdoB no Rio Grande do Sul. 
Captura de tela feita em 26 de maio de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 26 de maio de 2021 de uma publicação no Facebook

O documento indica, ainda, que as ligações efetivamente identificadas nos telefones de Adélio “nada carrearam de significante”, indicando que o “investigado utilizava seus terminais celulares para, em regra, comunicar-se com contratantes, para agendar entrevistas de trabalho e para efetuar acesso à rede social Facebook”.

Esse inquérito, arquivado provisoriamente em junho de 2020, também concluiu que Adélio atuou sozinho, “não contanto, a qualquer tempo, com o apoio de terceiros” e ressaltou que não foi comprovada a “participação de agremiações partidárias” no crime. 

Contactada pelo AFP Checamos em 26 de maio, a assessoria de imprensa da Polícia Federal de Minas Gerais, onde ocorreu o crime, informou que apurou essa alegação na época das investigações e que “não restou comprovado as referidas ligações”.

Retirada de publicações


Desde 2018, Manuela D’Ávila denuncia a falsidade dessa alegação, tendo entrado na Justiça duas vezes para solicitar a retirada das publicações viralizadas.

Em setembro de 2018, pouco antes do primeiro turno das eleições presidenciais, o ministro Carlos Horbach, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reconheceu a existência de “fundados indícios da ocorrência de ilícito” na publicação do conteúdo e pediu que o Facebook apresentasse os dados do usuário responsável pela divulgação inicial da alegação.

Em 2020, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul determinou a retirada de diversas publicações sobre Manuela D’Ávila, incluindo algumas das postagens que a relacionavam a Adélio Bispo, “visto que, sobretudo pela verificação realizada e constatação de sua inadequação, há o potencial de haver prejuízo eleitoral aos representantes, o que seria, no caso, decorrente de notícia não verdadeira”.

O AFP Checamos já verificou outras publicações sobre o atentado à faca sofrido por Bolsonaro em setembro de 2018 (1, 2, 3).

Conteúdo semelhante foi verificado pelo site Agência Lupa.


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