Após ser amplamente criticado por não usar máscara apesar da pandemia de COVID-19, o presidente Jair Bolsonaro compartilhou em sua conta no Twitter um vídeo de 23 de junho em que o papa Francisco também aparece sem a proteção em público. Logo depois, usuários passaram a denunciar uma suposta ausência de reações negativas à atitude do pontífice.
As postagens ignoram, contudo, os diferentes contextos que separam a Itália, onde fica localizado o enclave do Vaticano, e o Brasil. Além disso, não é verdade que o papa não tenha sido criticado por não utilizar o equipamento de proteção.
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- BOM DIA A TODOS! pic.twitter.com/ycdVg9MQfV
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 23, 2021
O presidente compartilhou o vídeo dois dias após ser questionado por uma repórter sobre o porquê de ter chegado sem máscara a uma cerimônia.
Em resposta, Bolsonaro tirou novamente a proteção, mandou a jornalista calar a boca e disse: “Eu chego como eu quiser, onde eu quiser, eu cuido da minha vida”. As duas atitudes foram amplamente criticadas.
Em postagens no Facebook (1, 2, 3), Twitter e Instagram, usuários exigiram a mesma reação ao comportamento do papa Francisco no vídeo: “O papa cumprimentando os fiéis sem máscara é genocida? Ou a narrativa só vale para o presidente Bolsonaro?”.
Assim como Bolsonaro, o papa Francisco desrespeitou a orientação vigente sobre o uso de máscaras em seu país. Os usuários ignoram, contudo, os diferentes estágios da pandemia de COVID-19 nos dois locais.
Pouca circulação do vírus, vacinação avançada
Um enclave murado dentro de Roma, o Vaticano tem seguido as orientações de saúde da Itália, como explicou ao Checamos a equipe da AFP na capital italiana.
O país europeu, que já foi um dos mais afetados pela doença, enfrenta hoje uma situação muito mais branda, com a menor incidência do vírus desde outubro de 2020.
Em 23 de junho, todas as regiões do país, com exceção de uma, eram classificadas como “zonas brancas”, ou seja, com pouca circulação do coronavírus.
Também no dia 23, foram registrados 951 novos casos e 30 mortes por COVID-19 na Itália. Especificamente no Vaticano, não são confirmadas novas infecções desde novembro de 2020 e os visitantes devem cumprir uma série de medidas como respeitar o distanciamento social, usar máscaras e ter a temperatura aferida.
No Brasil, por sua vez, foi registrado o recorde de mais de 115 mil novos casos, além de 2.392 mortes em 23 de junho, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde.
O próprio papa Francisco já está completamente vacinado contra a COVID-19 desde fevereiro de 2021. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, diz que não tomou nem a primeira dose, apesar de já poder se vacinar desde o último mês de abril.
O fato de uma pessoa estar vacinada não impede que ela se contagie ou transmita a COVID-19, mas diminui a probabilidade e os sintomas da doença, especialmente quando grande parte da população local também já foi imunizada.
Frente à melhora da situação da pandemia na Itália, o ministro da Saúde, Roberto Speranza, anunciou que irá suspender a obrigatoriedade do uso de máscara ao ar livre a partir de 28 de junho, quando estima-se que todas as regiões do país serão classificadas como “zonas brancas”.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro chegou a pedir uma medida semelhante ao Ministério da Saúde neste mês de junho, mas o chefe da pasta deixou claro que a vacinação precisa avançar no país para que isso possa acontecer.
Críticas ao papa
Essa não é a primeira vez que o papa Francisco é visto em público sem máscara. No passado, a atitude do pontífice foi tema de diversas matérias internacionais (1, 2, 3), que destacaram que o líder religioso estava sendo alvo de críticas de católicos proeminentes.
O Vaticano não respondeu, contudo, a pedidos de comentários das reportagens.
A equipe de checagem da AFP já verificou diversas outras alegações (1, 2, 3) sobre o uso de máscaras durante a pandemia de COVID-19.