Publicações compartilhadas mais de 4,4 mil vezes nas redes sociais desde 23 de junho afirmam que um estudo feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, já mostra que o uso antecipado da ivermectina pode diminuir a carga viral do novo coronavírus. As postagens, no entanto, desconsideram o fato de que o estudo ainda está na fase inicial e que não há resultados definitivos sobre o medicamento e a COVID-19.
“Negacionismo da ivermectina promovido pela esquerda pode ter matado milhares de brasileiros” e “Ivermectina reduz replicação do vírus da Covid, afirma Universidade de Oxford”, são alguns das legendas que acompanham as publicações viralizadas no Facebook (1, 2, 3), no Instagram (1, 2, 3) e em sites (1, 2).
No Twitter (1, 2) alguns usuários se mostraram ainda mais enfáticos: “A própria Universidade de Oxford se obrigou hoje a assumir o sucesso que está tendo nos testes com ivermectina. Agora imaginem se esses políticos e juízes, que fazem uma oposição cega ao presidente, não tivessem impedido nosso povo de usa-la… Quantas vidas teríamos salvado?”.
Uma busca no Google pelos termos, em inglês, “Oxford University + ivermectin” levou a uma publicação de 23 de junho de 2021 no próprio site da instituição onde é informado que a ivermectina, um antiparasitário que combate diferentes tipos de parasitas em diversas fases de desenvolvimento, será analisada como um possível tratamento contra a COVID-19.
Segundo a Oxford, a partir de 23 de junho, o antiparasitário começará a ser investigado na Plataforma de Ensaio Randomizado de Tratamento na Comunidade para Doenças Epidêmicas e Pandêmicas (PRINCIPLE, na sigla em inglês).
Sob a liderança da universidade, esse estudo busca analisar tratamentos para pessoas com maior risco de formas graves da COVID-19 que possam acelerar a recuperação, reduzir a gravidade dos sintomas e prevenir a necessidade de internação hospitalar.
Até então, mais de 5 mil voluntários foram recrutados em todo o Reino Unido.
Poucas evidências
No site do PRINCIPLE é explicado que a ivermectina demonstrou reduzir a replicação do SARS-CoV-2, vírus causador da COVID-19, em laboratório. De fato, este remédio mostrou um bom resultado in vitro, mas isso significa que os testes não foram realizados dentro de um organismo vivo, como explicou o AFP Checamos nessa verificação.
Há, contudo, uma ressalva feita pelo PRINCIPLE: apesar de alguns pequenos estudos-piloto terem mostrado que o uso antecipado da ivermectina pode diminuir a carga viral e a duração dos sintomas em pacientes com formas leves da COVID-19, “há poucas evidências de ensaios clínicos randomizados em grande escala para demonstrar que ela pode acelerar a recuperação da doença ou reduzir a internação hospitalar”.
Para participar do teste é necessário ter idade igual ou superior a 65 anos ou no caso de pessoas mais novas (entre 18 e 64 anos), ter falta de ar como parte dos sintomas da covid-19, ou alguma das comorbidades listadas no folheto explicativo.
Este não é o primeiro estudo feito pelo PRINCIPLE para encontrar tratamentos contra a doença causada pelo novo coronavírus que evitem a ida de pacientes ao hospital.
Um caso semelhante a esse foi o de um estudo argentino publicado na revista Lancet que, segundo as publicações viralizadas, constataria a eficácia da ivermectina na redução da carga viral de pacientes com COVID-19.
Nesta verificação da AFP, os autores explicam que além do tamanho da amostra utilizada, mais testes são necessários para, de fato, determinar se o antiparasitário pode prevenir ou tratar a doença causada pelo novo coronavírus.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ivermectina seja empregada apenas em ensaios clínicos. A Agência de Medicamentos e Alimentos (FDA) dos Estados Unidos e a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) advertiram que o medicamento não funciona como tratamento contra o novo coronavírus, mas que apoiam a realização de estudos com o objetivo de encontrar tratamentos para a doença.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por sua vez, assinalou que não existem “estudos conclusivos” que comprovem ou refutem o uso da ivermectina contra a doença causada pelo Sars-CoV-2 e que “não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da COVID-19 no Brasil. Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”.