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Estado de Minas CHECAMOS

A foto em que aparece a filha do então ministro da Saúde Mandetta é de 2019

Publicações começaram a ser compartilhadas nas redes afirmando erroneamente que a filha do ex-ministro participou das negociações para comprar AstraZeneca


02/07/2021 21:08 - atualizado 04/07/2021 17:46

Uma foto do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e de sua filha circula como suposta prova de que a advogada teria participado de negociações para a compra da vacina AstraZeneca. As postagens, com mais de 2.300 compartilhamentos em redes sociais desde o dia 30 de junho de 2021, passaram a circular após uma nova denúncia de corrupção durante as negociações do imunizante. Mas a imagem das publicações foi tirada em 2019 durante um congresso de planos de saúde. Uma organização da qual Marina Mandetta faz parte, e que integra o grupo Unido pela Vacina, disse à AFP que o movimento não se envolveu na negociação de imunizantes contra a COVID-19.

 

“Será que o Mandetta teve coragem de usar a própria filha como operadora junto à AstraZeneca? Até o Renan ficou surpreso”, disse um usuário no Twitter (1). A alegação também circulou no Facebook (1, 2, 3)

“Porque a filha do Mandetta íntegra grupos de Unidos pela Vacina?”, questiona a legenda de outra publicação compartilhada no Twitter e no Facebook.


As publicações começaram a circular nas redes sociais um dia após a denúncia de um suposto novo caso de corrupção. Segundo a acusação feita pelo representante da empresa Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, o Diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria pedido a ele em 25 de fevereiro de 2021 uma propina de 1 dólar por dose durante uma negociação para venda da vacina AstraZeneca.

O imunizante tem sido usado no Brasil desde 23 de janeiro de 2021

Em agosto de 2020, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, e o laboratório AstraZeneca assinaram um documento que baseou o acordo para transferência de tecnologia e produção da vacina contra a COVID-19 no Brasil.

No entanto, Luiz Henrique Mandetta foi demitido como ministro da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2020, por conta de divergências sobre o combate à pandemia de COVID-19.

Reunião com AstraZeneca?

A partir de uma busca reversa da imagem feita no Microsoft Bing*, o AFP Checamos identificou que a foto que viralizou nas redes sociais foi feita em um congresso da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) em agosto de 2019, quando o vírus da COVID-19 ainda não havia sido identificado em nenhum país.

A consulta dos metadados da imagem confirmou a data:

Captura de tela feita em 2 de julho de 2021 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 2 de julho de 2021 de uma publicação no Twitter

O evento contou com a presença do então ministro da Saúde (2019-2020), que participou da palestra de abertura, na qual discursou sobre as operadoras de planos de saúde e sua relação com o sistema de saúde pública.

A pessoa em destaque na imagem viralizada foi retratada em outras fotos do evento (1, 2). Ali pode-se perceber a semelhança com a advogada Marina Mandetta, filha do então ministro. 

A assessoria da Abramge confirmou ao Checamos que Marina Mandetta assistiu à conferência na época e que o evento não contou com a presença de nenhum representante da farmacêutica AstraZeneca, nem de qualquer outra organização estrangeira.

Unidos pela Vacina

Algumas publicações também questionam o fato de a advogada participar do movimento Unidos pela Vacina, um grupo formado em fevereiro de 2021 por empresários, ONGs, especialistas e organizações da sociedade civil. 

O movimento teve sua origem a partir do Grupo Mulheres do Brasil, que confirmou ao AFP Checamos que Marina Mandetta “integra o grupo das mais de 91 mil participantes voluntárias”. De acordo com o site da organização, a advogada atua em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

A assessora do Mulheres do Brasil também assegurou que “o Movimento Unidos pela Vacina não se envolveu em compras de vacinas, como também em nenhum tipo de negociação,  e desde o começo deixou isso bem claro”.  

O objetivo do grupo, segundo ela, é “a união da sociedade para a vacinação de todos o mais rápido possível. Para isso, o principal trabalho é oferecer equipamentos e insumos às UBS dos mais de 5 mil municípios do país para que a vacina chegue ao braço de todos”

O AFP Checamos entrou em contato com Marina Mandetta, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.


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