Uma foto do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e de sua filha circula como suposta prova de que a advogada teria participado de negociações para a compra da vacina AstraZeneca. As postagens, com mais de 2.300 compartilhamentos em redes sociais desde o dia 30 de junho de 2021, passaram a circular após uma nova denúncia de corrupção durante as negociações do imunizante. Mas a imagem das publicações foi tirada em 2019 durante um congresso de planos de saúde. Uma organização da qual Marina Mandetta faz parte, e que integra o grupo Unido pela Vacina, disse à AFP que o movimento não se envolveu na negociação de imunizantes contra a COVID-19.
“Será que o Mandetta teve coragem de usar a própria filha como operadora junto à AstraZeneca? Até o Renan ficou surpreso”, disse um usuário no Twitter (1). A alegação também circulou no Facebook (1, 2, 3)
“Porque a filha do Mandetta íntegra grupos de Unidos pela Vacina?”, questiona a legenda de outra publicação compartilhada no Twitter e no Facebook.
O imunizante tem sido usado no Brasil desde 23 de janeiro de 2021.
Em agosto de 2020, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Ministério da Saúde, e o laboratório AstraZeneca assinaram um documento que baseou o acordo para transferência de tecnologia e produção da vacina contra a COVID-19 no Brasil.
No entanto, Luiz Henrique Mandetta foi demitido como ministro da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2020, por conta de divergências sobre o combate à pandemia de COVID-19.
Reunião com AstraZeneca?
A partir de uma busca reversa da imagem feita no Microsoft Bing*, o AFP Checamos identificou que a foto que viralizou nas redes sociais foi feita em um congresso da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) em agosto de 2019, quando o vírus da COVID-19 ainda não havia sido identificado em nenhum país.
A consulta dos metadados da imagem confirmou a data:
O evento contou com a presença do então ministro da Saúde (2019-2020), que participou da palestra de abertura, na qual discursou sobre as operadoras de planos de saúde e sua relação com o sistema de saúde pública.
A pessoa em destaque na imagem viralizada foi retratada em outras fotos do evento (1, 2). Ali pode-se perceber a semelhança com a advogada Marina Mandetta, filha do então ministro.
A assessoria da Abramge confirmou ao Checamos que Marina Mandetta assistiu à conferência na época e que o evento não contou com a presença de nenhum representante da farmacêutica AstraZeneca, nem de qualquer outra organização estrangeira.
Unidos pela Vacina
Algumas publicações também questionam o fato de a advogada participar do movimento Unidos pela Vacina, um grupo formado em fevereiro de 2021 por empresários, ONGs, especialistas e organizações da sociedade civil.
O movimento teve sua origem a partir do Grupo Mulheres do Brasil, que confirmou ao AFP Checamos que Marina Mandetta “integra o grupo das mais de 91 mil participantes voluntárias”. De acordo com o site da organização, a advogada atua em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
A assessora do Mulheres do Brasil também assegurou que “o Movimento Unidos pela Vacina não se envolveu em compras de vacinas, como também em nenhum tipo de negociação, e desde o começo deixou isso bem claro”.
O objetivo do grupo, segundo ela, é “a união da sociedade para a vacinação de todos o mais rápido possível. Para isso, o principal trabalho é oferecer equipamentos e insumos às UBS dos mais de 5 mil municípios do país para que a vacina chegue ao braço de todos”.
O AFP Checamos entrou em contato com Marina Mandetta, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.