Publicações compartilhadas centenas de vezes em redes sociais desde o último dia 8 de julho asseguram que Albert Bourla, diretor executivo da farmacêutica Pfizer, “não tomou a própria vacina” contra a covid-19. A alegação se baseia, no entanto, em uma entrevista concedida em dezembro de 2020, quando Bourla explicou que aguardaria a vez de sua faixa etária para ser imunizado. O executivo assegurou ter recebido a segunda dose da vacina contra a doença em 10 de março de 2021.
“Presidente da Pfizer não tomou a própria vacina; ‘tenho boa saúde’, alegou”, diz o título de um artigo de 8 de julho de 2021, cuja captura de tela circula amplamente no Facebook (1, 2, 3) e Twitter.
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Outras versões das publicações (1, 2) compartilham o vídeo onde o diretor executivo da Pfizer, Albert Bourla, dá declarações semelhantes às citadas no título e subtítulo do artigo do Brasil Sem Medo.
Vídeo antigo
Na gravação de 29 segundos compartilhada nas redes, uma apresentadora pergunta a Bourla quando ele vai se vacinar, ao que o executivo responde, em inglês: “Assim que puder, eu irei”.Bourla desenvolve a resposta, assegurando: “A única sensibilidade aqui é que eu não quero dar o exemplo de que estou furando a fila. Eu tenho 59 anos, com boa saúde. Eu não estou trabalhando na linha de frente. Então, para o meu perfil, não é recomendado”.
A fala do executivo não é, contudo, atual. Uma busca no Google mostra que o trecho viralizado faz parte de uma entrevista concedida ao canal norte-americano CNBC e publicada no YouTube em 14 de dezembro de 2020.
Na entrevista completa, na qual foi perguntando sobre as dúvidas que o público poderia ter sobre o imunizante, Bourla explicou que, segundo uma pesquisa realizada pela Pfizer, mais pessoas aceitariam a vacina se vissem que o diretor executivo e a equipe da empresa também a haviam recebido.
“Com isso em mente, estou tentando encontrar uma maneira de ser vacinado mesmo que não seja meu momento, apenas para demonstrar a confiança da empresa Mas, nenhum dos executivos ou membros do conselho irão furar a fila, eles tomarão quando for o momento de acordo com sua idade e ocupação”, disse.
As declarações de Bourla também foram tiradas de contexto em publicações em inglês e espanhol.
Em outra entrevista ao canal de televisão CNN, também publicada em 14 de dezembro, apenas três dias após as autoridades norte-americanas aprovarem o uso de emergência da vacina da Pfizer, Bourla reiterou que ainda não havia se vacinado e que estava seguindo as recomendações do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), que prioriza determinados grupos de risco.
Segundo o CDC, as vacinas contra o SARS-CoV-2 devem ser administradas primeiro aos profissionais de saúde e aos moradores de centros de cuidado de longo prazo, depois aos trabalhadores essenciais da linha de frente -, como por exemplo bombeiros ou policiais, - e a pessoas com 75 anos ou mais.
As pessoas de 65 a 74 anos seriam as próximas, junto com as pessoas de 16 a 64 anos com condições médicas de risco e outros trabalhadores essenciais.
Em 10 de março de 2021, Bourla tuitou uma foto em que era vacinado. “Animado por receber minha 2ª dose da vacina Pfizer/BioNtECH. Não há nada que eu queira mais do que que meus entes queridos e as pessoas ao redor do mundo tenham a mesma oportunidade. Embora a jornada esteja longe de terminar, estamos trabalhando incansavelmente para derrotar o vírus”, diz o tuíte, em inglês.
Excited to receive my 2nd dose of the Pfizer/BioNTech #COVID19 vaccine. There's nothing I want more than for my loved ones and people around the world to have the same opportunity. Although the journey is far from over, we are working tirelessly to beat the virus. pic.twitter.com/ES05WPBLJA
— AlbertBourla (@AlbertBourla) March 10, 2021
Durante a primeira semana de março, alguns meios de comunicação (1, 2) reportaram que o executivo já havia recebido a primeira dose. A equipe de checagem da AFP não encontrou nenhum registro do momento em que foi administrada.
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