Uma sequência em que se vê manifestantes atirando pedras e gritando para policiais foi compartilhada mais de 2,1 mil vezes desde o final de março de 2021 nas redes sociais acompanhada da afirmação de que se trata da situação atual na Argentina. O vídeo, que foi registrado em Buenos Aires, no entanto, é de dezembro de 2017 e mostra um protesto contra a reforma previdenciária, quando o presidente Mauricio Macri ainda estava no poder.
“Enquanto isso na Argentina tudo indo normalmente… Por isso somos @jairbolsonaro @BolsonaroSP @CarlosBolsonaro @FlavioBolsonaro @gilsonmachadont @mfriasoficial” e “Vejam o resultado do locdown prolongado na Argentina, governada por comunistas. Tá tudo normal lá, né?!”, são algumas das legendas do vídeo compartilhado milhares de vezes em postagens no Facebook (1, 2, 3), no Twitter (1, 2) e no YouTube.
O conteúdo faz referência ao governo de Alberto Fernández e sua vice, que também é ex-presidente do país, Cristina Kirchner, eleitos em 2019, e, principalmente, à sua gestão da pandemia de covid-19, que contou com medidas de confinamento total e restrição da mobilidade.
O mesmo vídeo, no qual manifestantes gritam, insultam e atiram objetos contra policiais, que se protegem com escudos, circulou anteriormente com a alegação de que havia sido registrado na Espanha ou na Costa Rica e foi verificado pela equipe da AFP.
Uma busca no Google pelos termos em espanhol “polícia contra distúrbios” e “polícia de la” - frase vista nos escudos dos policiais - mostrou entre os resultados fotografias de agentes na Argentina com equipamentos de proteção semelhantes aos vistos no vídeo, nos quais se lê a frase completa: “Policía de la ciudad”.
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Um percurso virtual por ambos os locais usando a ferramenta “Street View” do Google Maps permitiu que a equipe de verificação da AFP encontrasse o ponto exato onde o vídeo foi gravado: em um dos lados da Praça do Congresso.
A reforma previdenciária, origem dos protestos
Uma segunda pesquisa no Google, dessa vez pela frase, em espanhol, “brigas entre manifestantes e policiais em Buenos Aires na Praça do Congresso” levou a um vídeo datado de 18 de dezembro de 2017 que mostra o mesmo fato, mas de outro ângulo.
Em 2017, o presidente ainda era Mauricio Macri (2015-2019), que deixou o cargo após Alberto Fernández ser eleito no primeiro turno nas presidenciais de 2019.
A sequência viralizada foi registrada em frente ao edifício do Congresso argentino durante o debate da lei de reforma previdenciária naquele dia.
Na data, a AFP informou que o conflito durou cerca de quatro horas: “Ativistas lançavam pedras, garrafas e rojões. Os batalhões policiais fizeram eles recuarem com gás lacrimogêneo e balas de borracha, deixando vários feridos dos dois lados”. O confronto também foi gravado em vídeo pela AFP.
Uma busca pelos termos “incidente”, “Congresso” e “Polícia de Buenos Aires” no site da agência de notícias argentina Télam da Argentina levou a uma galeria de fotos com algumas imagens que correspondem a momentos-chave do vídeo.
Uma das fotografias, que coincide com a cena vista aos 49 segundos da gravação viralizada, mostra um policial atirado no chão. Um companheiro o ajuda enquanto um manifestante o atinge com uma bandeira vermelha e amarela. Junto a eles, um homem de short vermelho joga um objeto.
O AFP Checamos já verificou (1, 2) outros conteúdos a respeito da suposta situação atual na Argentina.