Publicações nas redes sociais sugerindo que a “Universidade de Oxford” mostrou que a ivermectina reduz em 56% as mortes por covid-19 foram compartilhadas mais de 2,1 mil vezes desde o último 7 de julho. Elas também afirmam que óbitos poderiam ter sido evitados se a Rede Globo não tivesse feito “propaganda contrária”. Entretanto, essas postagens omitem que a metanálise publicada pelo Open Forum Infectious Diseases, uma plataforma de publicação de estudos científicos ligada à universidade britânica, não foi conclusiva sobre a eficácia desse tratamento. Apesar de o uso da ivermectina ter se revelado promissor, os próprios autores reconheceram as limitações do estudo e alertaram que os resultados positivos ainda precisam ser confirmados em ensaios maiores.
“Globo genocida! Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se vocês não estivessem feito tanta propaganda contrária?”, diz o texto da imagem compartilhada no Facebook e no Instagram.
“Ivermectina reduz mortes por COVID-19 em 56%, mostra estudo da Universidade de Oxford. Segundo a pesquisa, a utilização do medicamento possibilita a recuperação clínica favorável do paciente e reduz a hospitalização”, complementa.
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Outra limitação apontada pelos autores diz respeito à problemática “comparabilidade dos dados”, na medida em que os ensaios clínicos analisados utilizaram diferentes dosagens por diferentes períodos de tempo, além de tratamentos distintos no grupo de controle. Alguns, por exemplo, compararam a ivermectina com placebos, enquanto outros fizeram a comparação com remédios, como hidroxicloroquina - medicamento originalmente usado para tratar malária - ou lopinavir/ritonavir, usados no tratamento de HIV.
Os autores também informaram que, em três dos estudos clínicos analisados, a ivermectina foi administrada junto com outro medicamento, a doxiciclina, indicada para tratar malária. Além disso, alertaram que “a maioria dos estudos foi realizada em populações com apenas infecção leve/moderada”, e que “alguns estudos excluíram pacientes com múltiplas comorbidades”.
O texto da metanálise ressalta, ainda, que medicamentos usados para tratamentos de outras doenças se mostraram promissores em estudos iniciais com grupos menores de pacientes, mas que esse resultado não foi verificado posteriormente em ensaios maiores. Por isso, os autores esclarecem que o benefício demonstrado na metanálise - de 56% de sobrevida para pacientes que receberam a ivermectina em comparação com os grupos de controle - “precisa ser validado em estudos confirmatórios maiores”.
Em sua conta no Twitter, Andrew Hill, um dos autores da metanálise, foi cauteloso ao afirmar, no dia em que ela foi publicada, que existem pesquisas com grupos muito maiores em andamento e que “os ensaios clínicos randomizados devem ser continuados”.
A suposta eficácia da ivermectina na prevenção e tratamento da covid-19 começou a ser debatida desde que um estudo australiano publicado em abril de 2020 observou a eficácia in vitro (laboratório) da ivermectina contra o vírus SARS-CoV-2.
Até o momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselha seu uso, uma vez que faltam dados conclusivos e, tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto no Brasil, o medicamento é aprovado apenas como antiparasitário.
O AFP Checamos já verificou outras alegações relacionadas à suposta eficácia da ivermectina (1, 2, 3).
No Brasil, o debate científico ganhou contornos políticos durante a pandemia. A ivermectina, assim como a hidroxicloroquina, foi reiteradamente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (1, 2, 3).
O mandatário também critica a forma como a mídia repercute as notícias relacionadas à covid-19 e já se referiu à Rede Globo mais de uma vez como a “TV Funerária” (1, 2).
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