Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

A história por trás da foto: jovens guepardos aprendiam com sua mãe como capturar presas


 

“Esta foto ganhou o prêmio de ‘Melhor Foto da Década’ e levou o seu fotógrafo a uma grande depressão”, começam postagens amplamente compartilhadas de 2019 a 2021. As legendas indicam que a fotografia retrata como uma mãe cervo se entregou a guepardos para proteger os seus filhotes. Contudo, a história da imagem é bem diferente: segundo declarou a fotógrafa responsável à AFP, a imagem mostra guepardos aprendendo com sua mãe como capturar presas, neste caso uma impala e não um cervo. Embora tenha sido premiada, ela não foi catalogada como a “Melhor Foto da Década”.





A descrição que acompanha as imagens continua: “Os guepardos perseguiram uma mamãe cervo e seus dois filhotes (bebês cervos). A mãe poderia ter escapado facilmente dos guepardos, mas, no lugar disso, se ofereceu, mansamente, a eles para que seus filhos pudessem escapar com completa segurança. Na foto, ela é vista olhando seus bebês correndo a salvo bem longe, enquanto ela estava a ponto de ser destroçada em pedaços pelos guepardos... ‘O sentimento de amor e sacrifício de uma mãe não é só um sentimento humano’”.

 

As publicações, que já haviam circulado amplamente em 2019, inclusive em inglês, continuaram a ser compartilhadas no Facebook e no Instagram ao longo de 2020 (1, 2, 3) e de 2021 (1, 2).


Por meio de uma busca reversa foi possível encontrar uma matéria publicada no site DNA India em fevereiro de 2017 sobre a fotografia e o contexto em que foi tirada. Intitulado “A história real por trás da foto viral de guepardos atacando um impala”, em tradução livre do inglês, o artigo cita a fotógrafa - e não o fotógrafo, como dizia a postagem viralizada - que fez o clique: Alison Buttigieg, nascida em Malta. 



No texto é explicado que o site entrou em contato com a responsável pela imagem questionando se ela sabia sobre a viralização, ao que ela respondeu: “Sim, eu sei. Centenas de pessoas estão me enviando mensagens sobre a minha falsa depressão e o porquê eu não salvei o veado. Foi horrível. Eu não tenho ideia de quem começou isso, eu gostaria de saber”.

No site de Alison é possível ver a fotografia e o seu verdadeiro contexto: tirada na reserva nacional Masai Mara, no Quênia, em 2013, o registro - que integra uma série de fotos - mostra uma mãe guepardo ensinando seus filhotes a capturar presas. 

Na descrição da imagem pode-se ler, em tradução livre do inglês: “O que é incomum nessa sequência de fotos é o quão calma está a impala. Está, provavelmente, em choque e, portanto, paralisada pelo medo. É perturbador como parece estar posando em algumas fotos (...) como se estivesse determinada a ficar bonita e orgulhosa até o fim”.  

Em 2019, o AFP Checamos entrou em contato com Buttigieg, que mora em Helsinque, na Finlândia, que contou que, já naquele ano, a fotografia viralizava “há mais de dois anos e meio - sempre com a mesma história falsa. Apesar de esclarecer muitas vezes qual é a verdadeira história, as pessoas preferem espalhar a versão falsa - já que sensacionalista - e receber um monte de ‘curtidas’”.



Em fevereiro de 2017, a fotógrafa, cujo trabalho é focado em registrar o comportamento animal, explicou em seu perfil no Facebook que a imagem estava sendo usada erroneamente. 

Buttiegieg ainda disse à AFP: “Tenho sido assediada por algumas destas páginas quando me atrevi a denunciá-las para que a imagem fosse retirada. Vergonhoso”.

Ela também confirmou que não sofreu de depressão após fazer as fotografias, como dizem as postagens virais: “Sobre a depressão, não tenho palavras para isso. Usar uma falsa declaração de doença mental para tornar uma história viral é insensível comigo (isso me causou problemas no meu local de trabalho) e com as pessoas que sofrem desta doença”.

Anteriormente, pelo Twitter, a fotógrafa já havia desmentido algumas afirmações de que teria sofrido de depressão e, em sua conta no Instagram, publicou a fotografia juntamente com a explicação.





 
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Em 2020, a fotografia fez parte do Remembering Cheetahs, um projeto em fotolivro com o objetivo de arrecadar fundos para a conservação dessa espécie.

A publicação viralizada também fala da suposta “mãe cervo” vista na foto, mas se trata de um impala. As duas espécies têm diferenças consideráveis, começando pelo fato de que a primeira faz parte da família Cervidae e a segunda, da Bovidae. Os cervos também costumam ser chamados de veados e os impalas genericamente de antílopes.

Em 2016, Alison ganhou o prêmio “Remarkable Award” no Siena International Photo Awards pela foto que viralizou. Segundo contou em seu site, ela concorreu com mais de cinco mil inscritos e a categoria na qual venceu foi a de “Vida selvagem”.

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