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Estado de Minas CHECAMOS

Vídeo mostra uso de fogo para uvas não congelarem na França, não no Rio Grande do Sul

Campo em chamas é técnica usada por produtores de vinho no Europa, mas imagens compartilhadas em redes sociais afirmam falsamente que é no Brasil


29/07/2021 20:36 - atualizado 30/07/2021 08:56

Publicações compartilhadas mais de 110 mil vezes desde 27 de julho de 2021 mostram a filmagem de uma plantação de uvas em um campo montanhoso repleto de chamas.
Nas legendas, usuários alegam que a técnica está sendo usada por viticultores em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, para que as uvas não congelem com o frio.

Mas isso é falso. As imagens são, na verdade, de plantações em Chablis, na França, em 6 de abril de 2021, durante uma onda de geadas.
“Para não congelar as uvas RS é trabalho meu povo!!! #repost”, afirma uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2)

“NO RIO GRANDE DO SUL PRODUTORES DE UVA TOMAM MEDIDAS PARA EVITAR A GEADA. Conforme informações do diário da informação em Bento Gonçalves para não congelar as uvas  os produtores estão utilizando o fogo em tonéis, a técnica já é usada há alguns anos no Brasil e em outros países”, escreveu uma usuária no Twitter (1, 2, 3). 

A publicação também foi compartilhada em espanhol (1, 2).

O conteúdo começou a circular quando uma massa de ar polar chegou ao país no  último 28 de julho, levando as temperaturas na região sul a menos de 0ºC, especialmente na Serra Gaúcha, onde a sensação térmica atingiu -20ºC. Apesar disso, não há registros de que a técnica retratada no vídeo viral tenha sido aplicada na região de Bento Gonçalves para evitar o congelamento de uvas.

A partir de uma busca reversa por capturas de tela do vídeo viralizado, usando a extensão InVID-WeVerify*, a equipe de checagem da AFP chegou até o perfil no Instagram do fotógrafo Titouan Rimbault, que postou a filmagem no último 6 de abril. Trata-se da publicação mais antiga encontrada da gravação.

Na época, o fotógrafo compartilhou uma série de fotos e filmagens (1, 2) de vinhedos em Chablis, conhecida pela produção de vinhos e localizada ao norte da região da Borgonha, na França.

Rimbault confirmou ao Checamos que os vídeos são de sua autoria e que foram filmados em vinhedos em Chablis em abril de 2021. 

“E mais uma série de fotos da geada da primavera (...) Este espetáculo é grandioso, este momento é magnífico, mas não podemos esquecer a delicada situação de todos os viticultores que lutam contra a mãe natureza”, escreveu Rimbault no Instagram, em tradução livre do francês.
 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Titouan Rimbault Photographe (@titouanrimbaultphotographe)


Um trecho do vídeo foi compartilhado também no YouTube e em outros perfis do Instagram, em russo, e por um blogueiro de vinhos, em francês. As publicações reafirmam que a cena foi registrada na França.

Uma imagem capturada por Rimbault também foi compartilhada pelo presidente Emmanuel Macron em seu perfil no Facebook. O mandatário francês expressava solidariedade com a situação dos viticultores.

Além disso, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) do Rio Grande do Sul desmentiu em seu site o conteúdo viralizado. "Não temos videiras em brotação, com folhas [agora], que é quando elas precisam ser protegidas das geadas", afirmou a pesquisadora Amanda Junges, do Centro de Pesquisa Carlos Gayer, da SEAPDR.

Produções afetadas


O fotógrafo Titouan Rimbault explicou ao Checamos que a técnica retratada na gravação é feita “por causa das temperaturas muito baixas para a estação. Os viticultores acendem ‘velas’ para aquecer o ar e evitar que os botões [que são colhidos posteriormente] não congelem”.


As geadas ocorridas na França em abril deste ano foram históricas por conta da intensidade e do tamanho das áreas afetadas, afirmou à AFP em abril de 2021 Ludivine Griveau, gestora dos 60 hectares de vinha do monumento histórico Hospices de Beaune (Côte d´Or).
Captura de tela feita em 28 de julho de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 28 de julho de 2021 de uma publicação no Facebook
Água é espalhada em vinhedo próximo a Chablis após temperaturas abaixo de 0ºC, em 7 de abril de 2021 ( AFP / Jeff Pachoud)
Água é espalhada em vinhedo próximo a Chablis após temperaturas abaixo de 0ºC, em 7 de abril de 2021 ( AFP / Jeff Pachoud)

 

 

François Labet, presidente do Gabinete Interprofissional de Vinhos da Borgonha (BIVB, na sigla em francês), disse à AFP também em abril deste ano que era esperado que, pelo menos, 50% da produção da Borgonha fosse afetada. Em Chablis, a perda estimada foi entre “80 e 90%”, segundo Frédéric Gueguen, do escritório da Federação de Defesa da denominação Chablis. 

Este conteúdo também foi checado pelo R7, Aos Fatos e G1.

*Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da foto em vários buscadores.


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