viralizadas indicam que as mortes dos chefes de Estado de Haiti, Tanzânia e Burundi são “suspeitas” e estariam relacionadas às supostas recusas às vacinas contra a covid-19. Mas isso é falso. Embora não se saibam os motivos do assassinato do mandatário haitiano, Jovenel Moise, ele não se opunha às vacinas. O presidente da Tanzânia, John Magufuli, que realmente era contra, morreu por um problema cardíaco, o que também aconteceu com o de Burundi, Pierre Nkurunziza.
Desde o último dia 9 de julho circula no Facebook (1, 2) no Twitter (1, 2) e no Telegram a afirmação de que Tanzânia, Haiti e Burundi “recusaram a vacina do Covid” e que “agora todos os 3 têm seus presidentes mortos inexplicavelmente”.
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Jovenel Moise, presidente do Haiti
Na madrugada de 7 de julho de 2021, um esquadrão armado entrou na residência presidencial de Porto Príncipe e alvejou o presidente haitiano, Jovenel Moise. No ataque, sua esposa, Martine, também ficou ferida e foi levada para um hospital em Miami.
Uma semana depois a polícia haitiana prendeu 18 homens de nacionalidade colombiana e três haitianos ligados ao crime. As causas do homicídio ainda estão sendo investigadas.
O Haiti vive uma profunda crise institucional há décadas. A oposição nunca reconheceu a vitória de Moise nas eleições de novembro de 2016 e não há Parlamento desde janeiro de 2020 por não terem sido realizadas eleições legislativas.
A gestão para a obtenção de vacinas contra a covid-19 no Haiti, o país mais pobre das Américas, teve avanços e retrocessos, mas Moise não se opunha à vacinação da população.
Em abril de 2021, o governo recusou um envio inicial de 756 mil doses da AstraZeneca, alegando preocupação com os efeitos colaterais associados ao imunizante e solicitando vacinas de outros laboratórios. Contudo, posteriormente, voltou atrás na decisão.
Em 18 de maio, durante o discurso comemorativo da Bandeira do Haiti, Moise disse: “Teremos vacinas contra o coronavírus”. E pediu à população que, até que chegassem as doses, todos mantivessem as medidas para evitar o contágio. “Usem máscara, respeitem o distanciamento social, lavem as mãos, não abracem”, recomendou.
De acordo com um artigo publicado no último 6 de julho no Haitian Times, o país estava aguardando 130 mil doses da AstraZeneca, que deveriam ter sido entregues em 14 de junho como parte do mecanismo Covax.
Mas foi apenas em 14 de julho que o Haiti recebeu o primeiro carregamento de vacinas contra a covid-19 como parte de uma doação do governo dos Estados Unidos para países com baixa renda, cuja distribuição é feita mediante o Covax.
O Ministério da Saúde haitiano também é favorável à vacinação. Em sua página no Facebook, onde atualiza diariamente as cifras de casos e óbitos, publicou em 20 de junho de 2021 um vídeo a favor da imunização.
Além disso, no final de junho a pasta autorizou o setor privado a comprar vacinas.
John Magufuli, presidente da Tanzânia
O presidente da Tanzânia, John Magufuli, morreu aos 61 anos, em março de 2021, devido a problemas cardíacos, de acordo com autoridades do Estado. A oposição, no entanto, afirma que ele faleceu em decorrência da covid-19, embora não tenha sido provado.
Antes de sua morte, o chefe de Estado havia minimizado a pandemia e era um forte opositor às vacinas.
“Temos que ser firmes. As vacinas são perigosas. Se o homem branco pudesse inventar vacinas, deveria ter encontrado uma vacina contra a aids; encontraria uma vacina contra a tuberculose; encontraria uma vacina contra a malária; encontraria uma vacina contra o câncer”, disse Magufuli em janeiro de 2021.
As autoridades da Tanzânia não culparam a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou qualquer outra instituição internacional pela morte do presidente.
No último mês de junho, a nova presidente da Tanzânia, Samia Suluhu, até então vice-presidente, tomou medidas para combater a propagação do novo coronavírus e incentivou a população a respeitar o distanciamento social.
A Tanzânia, que havia parado de divulgar dados sobre a covid-19 em abril, retomou o processo em maio. No início de julho, porém, ainda não havia lançado uma campanha de vacinação contra a doença.
No último 22 de julho, o primeiro-ministro, Kassim Majaliwa, finalmente anunciou a chegada das vacinas, após aderir ao mecanismo Covax.
Pierre Nkurunziza, presidente do Burundi
O presidente Pierre Nkurunziza, ex-professor de educação física, morreu aos 55 anos após um ataque cardíaco, segundo informações oficiais, em 8 de junho de 2020, meses antes da aprovação do uso emergencial das primeiras vacinas contra a covid-19.
Assim como Magufuli, Nkurunziza se mostrava cético em relação à pandemia de covid-19 e não encorajava medidas para conter a circulação do vírus, pois considerava que o país estava protegido da doença “pela graça divina”. Em maio de 2020, o governo ordenou que o representante da OMS e outros especialistas da organização fossem expulsos do país.
Alguns meios de comunicação especularam que Nkurunziza havia morrido em decorrência da covid-19.
Um porta-voz do Ministério da Saúde Pública e Luta contra a aids falou com a AFP em 17 de julho de 2021 sobre a situação atual no Burundi com relação à pandemia:
“O Burundi ainda não lançou uma campanha de vacinação, apesar de permitir o uso da vacina à equipe da ONU e a algumas embaixadas. O governo prefere esperar antes de tomar uma decisão até ter um bom conhecimento dos efeitos dessas vacinas, sobretudo porque não há nenhuma emergência, já que a pandemia tem sido contida até agora no país”, explicou.
Em 1º de julho, durante a comemoração da independência do Burundi, o agora presidente Evariste Ndayishimiye anunciou a política de “Ndakira, Sinandura kandi Sinandukiza Coronavirus” (“Curarei, não infectarei nem espalharei o coronavírus”), que consiste em detectar os casos positivos de covid-19 o quanto antes e prevenir outros por meio das medidas sanitárias.
Embora Ndayishimiye não tenha introduzido a vacinação, considera a covid-19 como o “maior inimigo” de seu país.
O Burundi não culpou nenhuma organização internacional pela morte de Nkurunziza, que, assim como o presidente da Tanzânia, faleceu de causas naturais, de acordo com as próprias autoridades.
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