Publicações que afirmam que autoridades sanitárias dos Estados Unidos estão revogando a autorização de uso de testes RT-PCR por serem imprecisos foram compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais desde pelo menos 27 de julho. Mas isso é falso: uma das agências disse que não fez este anúncio e que o teste é considerado o “estandarte de ouro” para o diagnóstico da covid-19, enquanto outra indicou que uma mudança citada em algumas publicações não decorreu de um mau desempenho dos testes. Especialistas apoiaram as declarações de ambas as agências de saúde e disseram à AFP que as publicações viralizadas deturpam as declarações oficiais.
“Órgão confessa ineficácia de teste e pede adoção de método mais especifico que diferencie o Sars-cov2 dos vírus da família Influenza. Alerta lança suspeita sobre casos e óbitos por covid em 2020”, diz uma mensagem publicada no Twitter. No Facebook, uma imagem com o texto “Um ano e meio depois, CDC alerta para ineficácia de teste PCR para diagnóstico de covid” foi compartilhada mais de 460 vezes.
Afirmações similares viralizaram em inglês (1, 2, 3) e em espanhol (1, 2).
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Há dois tipos de exames para detectar uma infecção atual ou antiga: um teste viral ou um de anticorpos. O teste RT-PCR é do tipo viral e está incluído pelos Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos na primeira linha da sua lista atualizada em 16 de junho de 2021.
Existem dezenas de testes RT-PCR aprovados para detectar a covid-19, e os CDC estão apenas descontinuando o uso de um deles, e não de todos, como viralizou nas redes sociais.
A entidade indicou em 21 de julho de 2021 que retirará uma solicitação de autorização de uso de emergência (EUA, na sigla em inglês) de um teste RT-PCR que os CDC desenvolveram no início da pandemia, explicou à AFP sua porta-voz, Jade Fulce.
Mas a medida não decorreu de problemas de rendimento, e sim à demanda do teste dos CDC, que diminuiu com o surgimento de procedimentos de alta tecnologia, detalhou.
“Depois de 31 de dezembro de 2021, os CDC retirarão a solicitação à Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) para a Autorização de uso de emergência (EUA) do Painel de diagnóstico de RT-PCR em tempo real dos CDC 2019-Novel Coronavirus (2019-nCoV), o teste apresentado pela primeira vez em fevereiro de 2020 para a detecção do SARS-CoV-2 unicamente”, afirma a nota.
“Os CDC estão proporcionando este aviso antecipado para que os laboratórios clínicos tenham tempo suficiente para selecionar e implementar uma das muitas alternativas autorizados pela FDA”, aponta.
Várias publicações se baseiam neste anúncio para afirmar falsamente que os “CDC retiram o uso do PCR porque este não pode distinguir entre o SARS-CoV-2 e a influenza”. No entanto, o aviso indica que os CDC “incentivam os laboratórios a considerar a adoção de um método multiplex que possa facilitar a detecção e diferenciação do SARS-CoV-2 e do vírus da influenza”.
Fulce explicou que a agência se referia a testes que podem identificar o SARS-CoV-2 e o vírus da gripe ao mesmo tempo, e que isso não significa que os testes anteriores os tenham confundido ou combinado.
Muitas das publicações viralizadas difundem relatos céticos sobre os CDC e a covid-19, como a falsa narrativa de que somente 6% das mortes atribuídas ao SARS-CoV-2 nos Estados Unidos haviam sido causadas pelo vírus, enquanto as 94% restantes ocorreram por outras doenças.
Jim McKinney, porta-voz da FDA, disse à AFP em 27 de julho que os testes RT-PCR são considerados a melhor maneira de detectar o SARS-CoV-2.
“A FDA não emitiu nenhuma declaração que questione a confiabilidade dos resultados dos testes RT-PCR de forma geral”, afirmou McKinney.
No mesmo sentido, a chefe de comunicações para assuntos em espanhol da assessoria de imprensa internacional da FDA, Gloria Sánchez-Contreras, se pronunciou à AFP em outra verificação sobre o uso de testes RT-PCR nos Estados Unidos.
“Até hoje, a FDA autorizou mais de 300 testes e kits de coleta de amostras para diagnosticar a covid-19, muitas das quais são testes RT-PCR. Os testes PCR geralmente são considerados o ‘estandarte de ouro’ para o diagnóstico da covid-19”, indicou a agência dos Estados Unidos.
Ana Santos Rutschman, professora assistente do Centro de Estudos de Direito da Saúde da Universidade de Saint Louis, no Missouri, disse que as autorizações de uso de emergência (EUA) são feitas para serem temporárias.
“A revogação em si é apenas um meio técnico para dar ao produto um status diferente. (...) Os CDC endossam um tipo diferente de teste, mas não dizem nada sobre os testes RT-PCR” em geral, explicou Rutschman.
Jennifer Piatt, pesquisadora do Centro de Leis e Políticas de Saúde Pública da Universidade Estadual do Arizona, concordou:
“Nada na declaração dos CDC indica que seu teste confunda a covid-19 com a influenza, ou que os testes RT-PCR em geral façam isso. Os argumentos em sentido contrário expressam erroneamente a linguagem dos CDC”.
“A declaração simplesmente indica o apoio dos CDC aos testes que podem detectar tanto a influenza quanto a covid-19, com a finalidade de economizar tempo e recursos”, disse Piatt, que também é integrante da Rede para a Lei de Saúde Pública.
O AFP Checamos verificou outras declarações imprecisas ou falsas relacionadas aos testes RT-PCR.
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