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Algumas variantes do SARS-CoV-2 apareceram antes do que indica um "cronograma de cepas"


 

Um cronograma com a suposta ordem de aparecimento de novas variantes do SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19, entre junho de 2021 e fevereiro de 2023, com os logotipos da Fundação Bill e Melinda Gates, e da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outros, foi compartilhado por dezenas de usuários desde 8 de julho de 2021. No entanto, as variantes surgem de forma imprevisível, explicaram especialistas à AFP, e algumas delas o fizeram antes da data indicada na tabela. Além disso, os referidos órgãos negaram qualquer vínculo com as publicações.





“VAZA FUTURAS CEPAS COVID-19 E LETALIDADE É PRORROGADA ATÉ 2023. Radialista americana Michele Moore vazou o cronograma das futuras CEPAS de Covid-19”, diz uma das publicações no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).

À direita da tabela estão os logotipos da OMS, do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), da Universidade Johns Hopkins e da Fundação Bill e Melinda Gates. Várias dessas organizações têm sido alvo de teorias (1, 2) segundo as quais a pandemia de covid-19 é um “plano” para o controle global.

O cronograma circulou e gerou comentários em postagens em francês, romeno, inglês,indonésio, espanhol, georgiano, vietnamita, russo, árabe e alemão.



A OMS, o Fórum Econômico Mundial e a Fundação Bill e Melinda Gates negaram à AFP que tenham participado da elaboração dessa tabela. Por sua vez, a Universidade Johns Hopkins não respondeu às consultas da AFP até o momento.

"Nunca tínhamos visto essa publicação e não estivemos envolvidos em sua criação", disse Chloe Laluc, porta-voz do Fórum Econômico Mundial, à AFP em 28 de julho.

Tarik Jašarevic, porta-voz da Organização Mundial da Saúde, informou que o cronograma "não é um documento da OMS".

A Fundação Gates, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que "essas alegações são falsas".

Além dos logotipos, chama a atenção que a OMS costuma listar, por um lado, as variantes de interesse (VOI, na sigla em inglês) do novo coronavírus e, por outro, as variantes de preocupação (VOC, na sigla em inglês). No caso do calendário que circula nas redes sociais, elas são inseridas na suposta ordem de aparição, passada e futura, a começar pela mais conhecida, a variante delta.



A lista oficial da OMS inclui em agosto de 2021 quatro variantes de preocupação (alfa, beta, gama e delta) e quatro variantes de interesse (eta, iota, kappa e lambda).

De acordo com o cronograma publicado nas redes sociais, a variante delta estava programada para ser “lançada” em junho de 2021. Porém, essa variante, uma das mais contagiosas, foi detectada pela primeira vez em outubro de 2020, na Índia, conforme indicado pela OMS em seu site. Em abril de 2021 foi considerada como uma "variante de interesse" e em maio como uma "variante preocupante". No calendário viralizado não aparecem as variantes alfa, beta e gama, anteriores à delta.

Em setembro de 2021 seria o “lançamento” da eta; em novembro, da iota; em dezembro, da kappa; e em janeiro de 2022, da lambda, conforme o cronograma. Mas essas variantes de interesse foram detectadas no final de 2020. Em março, eta e iota foram classificadas como "variantes de interesse", enquanto a kappa foi classificada como tal em abril, e a lambda, em junho.

Mutações dos vírus

Os vírus sofrem mutações regularmente, então o surgimento de novas variantes não é uma surpresa. Além disso, elas surgem ao acaso, disseram os cientistas entrevistados pela AFP.




Ao entrar em uma célula, um vírus se replica: ele copia a si mesmo para se propagar. Cada vez que ele se replica, ocorrem erros na cópia do genoma do vírus, como um "erro" em um computador, mas isso pode ou não ter um impacto maior ou menor no seu comportamento.

“O vírus sofre mutação involuntariamente e há sistemas de seleção que significam que, se uma variante tem uma vantagem, especialmente se for mais contagiosa, ela ganha terreno”, explicou à AFP Catherine Hill, epidemiologista do Instituto Gustave-Roussy de Villejuif, na França, no último 14 de julho.

A OMS observa: “Todos os vírus mudam com o tempo, assim como o SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19. A maioria das mudanças tem pouco ou nenhum efeito nas propriedades do vírus. No entanto, algumas alterações podem influenciar algumas delas, como a facilidade de propagação, a gravidade da doença associada ou a eficácia das vacinas, medicamentos para o tratamento, ferramentas de diagnóstico ou outras medidas de saúde pública e social”.



A organização internacional de saúde garante que "suas redes internacionais de especialistas" monitoram de perto a evolução dos vírus a fim de "informar os países e o público sobre quaisquer mudanças que possam ser necessárias para lidar com a variante e prevenir sua propagação".

*Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.

 

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