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Estado de Minas CHECAMOS

Vídeo antigo da execução de uma mulher circula associado ao Afeganistão em 2021

De forma enganosa, imagens sugerem que ação ocorre em meio às mudanças impostas pelo Talibã, na retomada do poder


18/08/2021 18:54 - atualizado 19/08/2021 09:48

Um vídeo da execução de uma mulher com véu foi visualizado mais de 3,8 mil vezes nas redes sociais com a alegação de que mostra as novas medidas sociais impostas no Afeganistão após o retorno do Talibã ao poder em 15 de agosto de 2021. No entanto, a gravação circula desde pelo menos 2014 relacionada a eventos ocorridos na Síria.
“CENA FORTE!!! Cabul sob poder do Talibã Mulher é executada por estar sem burca, que até ontem não se usava mais no Afeganistão”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2) e no Twitter (1, 2).

O vídeo, que também circulou em espanhol e inglês, mostra um grupo de homens armados que, após ajoelhar uma mulher em praça pública e discursar em árabe, a executa com um tiro na cabeça.

A gravação voltou a ser compartilhada depois que o Talibã assumiu o controle de grande parte do território afegão e tomou o palácio do governo em Cabul em 15 de agosto de 2021.

Esse movimento islamita radical governou o Afeganistão de 1996 a 2001. Seu regime foi caracterizado pela imposição estrita da "sharia", a lei islâmica, pela realização de execuções públicas e amputações, e pela violação dos direitos humanos, especialmente das mulheres.

No entanto, o vídeo não é recente nem corresponde ao Afeganistão.

Uma busca reversa no Google de um dos fragmentos do vídeo, usando a ferramenta InViD-WeVerify*, resultou em uma notícia publicada em 15 de janeiro de 2015 pelo jornal inglês The Independent com as capturas de tela da gravação e o título "Vídeo da Al-Qaeda mostra a execução pública de uma mulher acusada de adultério".

A nota detalha que o vídeo “foi filmado com um celular por um membro da Frente Al Nusra, afiliado à Al-Qaeda” e cita o Observatório Sírio de Direitos Humanos, que informou que a execução ocorreu na cidade de Idlib, na Síria .

Diferentes pesquisas no Google usando as palavras-chave "Idlib", "execução" e "mulher", levaram a uma publicação de 14 de janeiro de 2015 no site do Comitê Sírio para os Direitos Humanos. Nela consta que o episódio ocorreu em “uma praça pública em Maarat Misrin [...] em frente a uma ampla parede com a frase 'Organização da Al Qaeda no Levante: Frente Al Nusra'”.

A AFP constatou, por meio de várias fotos nas redes sociais e em uma agência de notícias local (1, 2, 3), que a rotatória, os prédios e alguns ornamentos de rua correspondem à cidade síria de Maarat Misrin, no norte de Idlib:
Captura de tela feita em 18 de agosto de 2021 de uma publicação no Facebook
Captura de tela feita em 18 de agosto de 2021 de uma publicação no Facebook

Da mesma forma, o registro mais antigo encontrado pela AFP das capturas do vídeo viralizado data de 25 de novembro de 2014 no site de uma agência de notícias afegã. A descrição também se refere à execução de uma mulher em Maarat Misrin pela Frente Al Nusra.

Originalmente chamado de "Frente Al Nusra", o grupo nasceu em 2012 na esteira do conflito na Síria e fez um juramento de lealdade à Al-Qaeda após se recusar a ingressar no Estado Islâmico (EI). Em 2016, eles anunciaram o rompimento de sua aliança com a Al-Qaeda.

Esse grupo jihadista, atualmente denominado Hayat Tahrir al Sham (HTS) e que, junto com outros grupos rebeldes, controla parte da província de Idlib (no norte da Síria), celebrou a vitória do Talibã no Afeganistão.

* Uma vez instalada a extensão InVid-WeVerify no Chrome, clique com o botão direito do mouse na imagem e o menu que aparece oferecerá a possibilidade de procurá-la em vários navegadores.


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