A imagem de uma mulher coberta por um véu, acorrentada e conduzida por um homem foi compartilhada mais de 100 mil vezes em redes sociais desde o último dia 17 de agosto.
Segundo as publicações, o registro foi feito no Afeganistão após a chegada dos talibãs a Cabul, capital do país.
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Foto em Cabul não mostra explosão em 26 de agosto, foi tirada dias antesA fotografia de estudantes de minissaia foi tirada no Irã, não no AfeganistãoO Foro de São Paulo não consta como organização terrorista no site da CIAEste vídeo retrata um protesto de mulheres no Irã, não no Afeganistão“A derrota da humanidade... numa foto. Medieval - Afeganistão”, dizem as publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), Instagram e Twitter. A legenda acompanha a imagem de uma mulher vestindo um niqab (um tipo de véu muçulmano que só deixa os olhos visíveis) e com as mãos presas por uma corrente, que é puxada por um homem.
Publicações semelhantes foram compartilhadas outras milhares de vezes em inglês, espanhol e árabe.
Um protesto em Londres
Uma busca reversa pela imagem viralizada levou a dois tuítes publicados em outubro de 2014 por usuários da Turquia.O primeiro tuíte diz: “#Londres Ação simbólica do ‘mercado de mulheres escravas’ para chamar a atenção sobre as mulheres sequestradas e vendidas pelo #ISIS”.
No segundo, lê-se: “Para chamar a atenção para as mulheres sob as mãos do ISIS, ação simbólica do ‘mercado de mulheres escravas’ #OCoraçãodaHumanidadeBateEmKobane”.
O Estado Islâmico (EI), também conhecido como ISIS ou Daesh, é uma organização jihadista que proclamou, em junho de 2014, um “califado” em um amplo território que abrangia o oeste da Síria e o leste do Iraque. O grupo, responsável por numerosos atentados na Europa, Oriente Médio e África, realizou uma grande ação de propaganda para recrutar militantes de todo o mundo e difundiu amplamente suas execuções públicas.
Sob seu regime, que terminou em 2019, as mulheres foram confinadas ao lar ou condenadas à escravidão sexual, especialmente as da minoria religiosa yazidi, no Iraque.
Cobertura na mídia
A partir das informações dos tuítes de 2014, a equipe de checagem da AFP realizou buscas por palavras-chave no Google, o que permitiu identificar diversas reportagens sobre o protesto na capital britânica.Este artigo do Newsweek, publicado em 15 de outubro de 2014, é intitulado: “Ativistas curdos organizam um mercado de escravas sexuais do ISIS no centro de Londres”.
No texto, é detalhado que o protesto aconteceu na frente do Palácio de Westminster e que os manifestantes estimulavam os transeuntes a oferecerem dinheiro para levar uma das mulheres. “Isso acontece todos os dias no Iraque e na Síria”, gritavam os manifestantes.
Em 20 de outubro do mesmo ano, a BBC também publicou uma nota sobre o episódio e entrevistou o ativista e realizador Ari Murad, que disse que a intenção da encenação era gerar conscientização sobre a situação das mulheres sob o regime do Estado Islâmico.
Na conta de Murad no Facebook é possível ver um vídeo de três minutos da simulação, publicado em março de 2016.
Entre 1996 e 2001, o regime talibã que governava o Afeganistão impediu que as mulheres estudassem, trabalhassem e saíssem de casa sem um acompanhante homem de sua família. Além disso, as mulheres também eram obrigadas a utilizar a burca (véu integral) em público. Com a volta dos talibãs, muitas afegãs temem o retorno a essa realidade.