Jornal Estado de Minas

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Este vídeo retrata um protesto de mulheres no Irã, não no Afeganistão

Um vídeo de um grupo de mulheres vestidas de preto se manifestando com cartazes e uma bandeira afegã circula desde o último dia 17 de agosto como se o protesto tivesse sido realizado no Afeganistão, em oposição ao retorno do regime talibã. A sequência, visualizada dezenas de milhares de vezes, foi gravada, contudo, na cidade de Qom, no Irã. Na manifestação, mulheres gritavam “morte aos talibãs” em farsi.



“No Afeganistão as mulheres saem em protesto contra o talibã, não existe nada mais corajoso que mulheres em fúria”, diz uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), Twitter e Instagram.

“Milhares de mulheres saem às ruas do Afeganistão protestando contra a restrição de seus direitos pelo regime do Talibã: ‘Trabalho, educação e participação política são direitos de todas as mulheres’”, escreveu outro perfil ao publicar a sequência de 30 segundos.


Alegação semelhante também circula em espanhol, inglês e francês.



No entanto, após o retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão, no último dia 15 de agosto, alguns usuários (1, 2, 3) compartilharam o mesmo vídeo assegurando que as imagens foram registradas na cidade de Qom, no centro do Irã.

Com base nessa informação, uma busca por palavras-chave no Google e no Twitter levou a estas fotos feitas pela agência de notícias iraniana ISNA, com a legenda:

“Na manhã de segunda-feira, 16 de agosto, um grupo de mulheres afegãs se reuniu na Praça Astana, em Qom, perto do santuário de Hazrat Fatemeh Masoumeh. Seu protesto foi contra a ineficácia do governo afegão, o retorno dos talibãs ao poder e o apoio de alguns países”.

Correspondentes da AFP em Teerã detalharam que as mulheres gritavam “Morte aos talibãs!”, em farsi. Esse idioma é falado principalmente no Irã e no Afeganistão.

Além disso, sinalizaram que o lugar visto no vídeo poderia ser a rua Enghelab (Revolução, em farsi), localizada em Qom.



Embora não haja registros dessa rua no Google Street View, há fotografias disponíveis na internet, nas quais é possível identificar os mesmos elementos vistos no vídeo. Por exemplo, a fileira de bustos em tom dourado e a disposição de pequenos arbustos entre as esculturas:

Em um dos vídeos com maior qualidade também é possível identificar as mesmas lojas vistas em uma das fotos de Qom:
Comparação entre uma foto da rua Enghelab de Qom (E) e uma captura de tela do vídeo compartilhado nas redes sociais ( . / )

Uma busca pelas palavras-chave “Qom protesto talibãs”, em farsi, levou a ainda mais vídeos de mulheres vestidas de preto protestando com cartazes e a bandeira do Afeganistão (1, 2). O veículo Independent Persian, por exemplo, tuitou que durante a manifestação, “mulheres afegãs” gritavam: “Morte aos talibãs”.

As imagens começaram a circular após talibãs voltarem a controlar grande parte do território afegão, ocupando, também, o palácio presidencial em Cabul, em 15 de agosto.

O movimento radical governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, com um regime caracterizado pela imposição estrita da sharia - lei islâmica-, execuções e amputações públicas, reiteradas violações aos direitos humanos e a privação dos direitos fundamentais das mulheres.

Em 19 de agosto, manifestantes saíram às ruas de Cabul levantando a bandeira tricolor afegã - e não a bandeira branca talibã -, coincidindo com as celebrações do Dia da Independência.



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