Jornal Estado de Minas

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Foto de menina chorando com livros não foi feita no Afeganistão em 2021



 A fotografia de uma menina que chora segurando livros circula desde 17 de agosto de 2021, com mais de 25 mil interações, como se mostrasse uma criança afegã depois que o Talibã tomou Cabul e assumiu o poder. No entanto, o registro foi feito em Gaza, após um ataque do exército israelense em 2014.



“A infância e a inocência sendo roubadas por um regime terrorista #afeganistão”, diz uma das publicações compartilhadas no Instagram (1, 2, 3) e no Facebook (1, 2).

O conteúdo, que também circulou em espanhol e inglês, viralizou depois que o Talibã ocupou o palácio do governo em Cabul, no último dia 15 de agosto.

Esse movimento islamita radical governou o Afeganistão de 1996 a 2001. Seu regime foi caracterizado pela imposição estrita da "sharia", a lei islâmica, pela realização de execuções públicas e amputações, e pela violação dos direitos humanos, especialmente das mulheres.




Mas a fotografia viralizada já havia sido compartilhada em espanhol em maio de 2021, quando usuários das redes sociais afirmaram que a menina da imagem se tratava de uma palestina que atualmente "tem mestrado em Letras e trabalha como professora em uma prestigiosa universidade canadense".

Uma busca reversa pela imagem usando o Google e o InVid We-Verify* levou à mesma foto com melhor resolução e uma marca d'água que diz “Fadi Thabet Photography”.

Com essas informações, foi feita uma nova pesquisa por “Fadi Thabet” e “Fadi Thabet Photography”, que levou à conta no Facebook do fotógrafo palestino que fez o registro e a uma entrevista com ele, publicada no YouTube em 6 de agosto de 2019.




No texto que escreveu no Facebook, Thabet indicou que fez a fotografia da menina palestina com seus livros no norte de Gaza em 2014 e a identificou como Sarah al Ghazi. Na postagem, ele também expressou preocupação de que suas "fotos da causa palestina e do sofrimento do povo" não sejam “exploradas”.

Na entrevista, ele garantiu que a imagem marcou a sua carreira: “Milhares de pessoas a compartilharam”, mas muitos acreditaram que a menina era da Síria, do Iraque ou do Afeganistão, segundo as legendas em inglês da gravação. “As pessoas confundem. Eu tirei essa foto. É minha propriedade, o fotógrafo Fadi Thabet", esclareceu.

Ele contou que fez a fotografia depois que o exército israelense bombardeou a casa da menina. Ele se aproximou no momento em que ela havia acabado de sair de um prédio. “Apesar do medo, ela não levou comida ou roupas, apenas seus livros e os de seu irmão enquanto fugia”, disse Fadi Thabet.

*Uma vez que a extensão InVid é instalada no navegador Chrome, clique com o botão direito na imagem e o menu que aparece oferece para iniciar uma busca por ela em vários navegadores.



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