Publicações compartilhadas mais de 25 mil vezes em redes sociais desde o último dia 30 de agosto asseguram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que irá “regular padres e pastores” se for eleito novamente para o Palácio do Planalto. As postagens são embasadas, no entanto, em artigos que reproduzem um vídeo editado. Na gravação original, o ex-mandatário (2003-2010) falava sobre o papel dos militares na política.
“LULA CONTRA PADRES E PASTORES”, começam algumas das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), Instagram e Twitter. Em seguida, as postagens reproduzem o título de um mesmo artigo publicado nos sites Terra Brasil Notícias e Blog do Didi Galvão: “Lula diz que vai regular padres e pastores se for eleito: ‘Vou colocar as coisas no devido lugar’”.
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“Com todo o respeito que eu tenho pelas instituições brasileiras, eu estou conversando com quem é pastor, com quem é padre. Eu vou conversar com todo mundo, enquanto povo brasileiro e enquanto eleitores. Se eu ganhar as eleições, aí eu vou conversar, como chefe supremo, para dizer qual é o papel deles. Não é se intrometer na política porque isso não dá certo”.
A gravação foi, no entanto, manipulada.
Militares, não “padres e pastores”
Uma busca no Google por palavras-chave ouvidas no vídeo leva à transmissão ao vivo da coletiva de imprensa onde foram feitas as imagens, disponibilizada nas contas oficiais de Lula no Facebook e no YouTube.O AFP Checamos assistiu à íntegra da gravação, feita no último dia 25 de agosto em Natal. No vídeo, é possível verificar que trechos do áudio do ex-presidente foram recortados e trocados de lugar na sequência compartilhada nas redes. Lula falava, na verdade, sobre o papel das Forças Armadas na política.
A partir dos 47 minutos da transmissão ao vivo, Lula começa a responder à seguinte pergunta: “Para nós, que somos cidadãos brasileiros e acompanhamos o dia a dia da política, o que se vê muito é se falar em golpe. Se o senhor for eleito, o senhor acha que assume mesmo?”.
O ex-presidente responde: “Olha, com todo o respeito que eu tenho às instituições brasileiras, a instituição chamada Forças Armadas é a única que tem definido o seu papel na Constituição da República. (...) Se alguém das Forças Armadas quiser fazer política pode. É só abandonar o papel que ele tem nas Forças Armadas, se aposentar e pode ser candidato a presidente, pode ser candidato a governador, deputado, senador”.
Lula continua: “E tem gente que pergunta: ‘E Lula, você vai conversar com as Forças Armadas?’. Eu estou conversando com as Forças Armadas agora, com essa resposta que eu estou dando para você. Eu estou conversando com quem é das Forças Armadas, eu estou conversando com quem é do Ministério Público, eu estou conversando com quem é da Polícia Federal, eu estou conversando com quem é pastor, com quem é padre, com quem é ateu. Eu vou conversar com todo mundo, enquanto povo brasileiro e enquanto eleitores. Se eu ganhar as eleições, aí eu vou conversar com os militares, como chefe das Forças Armadas, como chefe supremo, para dizer qual é o papel deles. Não é se intrometer na política porque isso não está certo”.
A coletiva de imprensa também foi transmitida ao vivo pelo jornal Tribuna do Norte, de Natal. No registro, a fala do ex-presidente é a mesma ouvida na transmissão disponibilizada em seus perfis.
Em sua conta no Twitter, Lula se posicionou sobre a alegação viralizada. “O Pai da Mentira ataca novamente. Não caia em terrorismo bolsonarista. Eles fazem fake news e vocês me ajudam compartilhando a verdade”, escreveu.
Lula ainda não confirmou oficialmente a intenção de concorrer às eleições presidenciais de 2022, mas em publicação no Twitter afirmou que, “se for necessário pra tirar o Bolsonaro”, será candidato.