A imagem de uma mulher sem o véu islâmico que lê e caminha na direção oposta à de pessoas usando burcas foi compartilhada mais de 355 mil vezes nas redes sociais ao menos desde 18 de agosto de 2021, após os talibãs tomarem o poder no Afeganistão.
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Foto de menina chorando com livros não foi feita no Afeganistão em 2021A fotografia de estudantes de minissaia foi tirada no Irã, não no AfeganistãoVídeo antigo da execução de uma mulher circula associado ao Afeganistão em 2021Não há registro de frase atribuída a Paolla Oliveira sobre prostituição de atrizes da Globo“Obra de uma artista afegan que se chama Shamsia Hassani, 33 anos, grafiteira afegã e professora na Universidade de Cabul Se compartilharmos, estaremos lhe dando voz e a todas as mulheres afegãs que estão vivendo o inferno”, indica a legenda de uma das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2, 3) com a ilustração.
Postagens semelhantes circulam desde meados de agosto no Instagram (1, 2, 3) e também foram encontradas em espanhol, francês e inglês.
O conteúdo começou a ganhar viralidade depois que os talibãs, grupo islamita sunita, tomaram o poder no Afeganistão, após a saída das tropas norte-americanas no último mês de agosto, depois de duas décadas de guerra. Os talibãs têm sido questionados por suas ações contra os direitos humanos e contra as mulheres.
Campanha publicitária
Uma busca reversa pela imagem na ferramenta TinEye levou a um site em tcheco que indica que a ilustração fazia parte de uma campanha publicitária de 2018 da revista Reporter Magazine, daquele país, produzida pela agência de publicidade Y&R.Na imagem observa-se que o que a mulher está lendo tem, na verdade, uma capa da revista tcheca, e não uma capa totalmente vermelha, como visto nas publicações viralizadas.
Além da ilustração da mulher sem o véu lendo a revista, há duas imagens no mesmo estilo que fazem parte da campanha publicitária: a de um soldado indo na direção contrária à de seu pelotão e a de um homem também na direção oposta em um protesto. Ambos leem a revista.
Uma pesquisa no Google pelo nome da revista e da agência mostrou como resultado uma publicação em um site especializado em campanhas publicitárias. A ilustração foi intitulada “Questionando o radicalismo”, em tradução livre do inglês, e o nome do fotógrafo responsável aparece como “JPavel Hejny”.
As imagens também aparecem na página do fotógrafo tcheco. Em sua conta no Facebook ele compartilhou uma publicação com a ilustração viralizada, na qual é parabenizado por ganhar um prêmio em publicidade.
Além disso, a artista urbana afegã Shamsia Hassani desmentiu em suas redes sociais que a ilustração fosse de sua autoria. “Sei que quiseram me apoiar e apoiar meu trabalho artístico, mas, por favor, certifiquem-se de dar o crédito ao verdadeiro artista”, escreveu.