Sete imagens de tempestades de areia foram compartilhadas mais de 40 mil vezes nas redes sociais desde o último 26 de setembro vinculadas ao fenômeno que atingiu cidades no interior dos estados de São Paulo e Minas Gerais. No entanto, ao menos três das fotos viralizadas são anteriores a esse vendaval e algumas sequer foram feitas no Brasil.
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As postagens, que começaram a circular à medida que o fenômeno atingia cidades como Ribeirão Preto, Franca, Araçatuba e Presidente Prudente, são acompanhadas por entre quatro e sete fotos que supostamente retratam a tempestade.
No entanto, pelo menos três fotos compartilhadas nas redes para chamar a atenção para o intenso vendaval foram feitas em outro contexto.
Arizona, 2018
A imagem que mostra uma imensa nuvem alaranjada encobrindo construções sequer foi feita no Brasil. Uma busca reversa no Google levou a um artigo que vincula a foto a uma tempestade de areia ocorrida em Phoenix, no estado norte-americano do Arizona, em 2 de agosto de 2018.
Na época, a foto viralizou no Twitter e foi creditada ao fotógrafo Jerry Ferguson.
Franca, 2011
Outra busca reversa, dessa vez pela imagem que mostra coqueiros envoltos em uma nuvem de poeira, levou ao site do fotógrafo brasileiro Marcos Limonti. Procurado pelo AFP Checamos, Limonti negou que a foto seja recente, embora também retrate uma tempestade de areia, segundo ele “muito menor”, ocorrida em Franca.
“A foto foi feita na Avenida São Vincente, bairro Jardim Noêmia, em 31 de agosto de 2011”, detalhou o fotógrafo.
Austrália, 2010
Uma pesquisa por registros anteriores da imagem na qual é possível ver uma grande nuvem alaranjada se aproximando de um agrupamento de casas, mostra que ela foi publicada em um relatório do Departamento de Meio Ambiente do estado australiano de Nova Gales do Sul em 2010.
O documento, intitulado DustWatch report, reúne informações sobre fenômenos climáticos ocorridos no sudeste da Austrália na semana que terminou no dia 8 de fevereiro de 2010. A primeira página do relatório é ilustrada com a foto viralizada, com a legenda: “Tempestade de poeira se aproximando de Broken Hill na segunda-feira, 1º de fevereiro”.
O registro é creditado a Tim Gimbert, do Serviço de Saúde de Nova Gales do Sul. De fato, um perfil com esse nome no Flickr publicou a mesma imagem em 1º de fevereiro de 2010, detalhando que ela foi feita na cidade australiana de Broken Hill. A conta também compartilhou outras imagens semelhantes do mesmo fenômeno.
Quatro fotos atuais
A busca reversa de outras quatro das fotos viralizadas levou apenas a registros feitos no contexto da tempestade de areia atual.A imagem que mostra uma avenida quase deserta encoberta pela poeira foi localizada pela AFP em uma publicação do portal G1, por meio de uma busca reversa no Google. Na reportagem, a imagem aparece creditada a Igor do Vale, do Estadão Conteúdo. A busca também localizou a imagem em uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre o fenômeno, publicada em 26 de setembro de 2021 com o mesmo crédito.
Uma outra foto mostra alguns edifícios no horizonte, com uma grande nuvem avermelhada se aproximando frontalmente. A busca reversa levou a uma reportagem do jornal O Globo, publicada em 26 de setembro de 2021, na qual o registro aparece com o crédito de “Reprodução”.
Em um site de notícias mexicano, localizado com a mesma busca, é informado que a imagem foi retirada de um vídeo. A matéria, que trata do evento ocorrido em território brasileiro, também exibe uma gravação publicada pelo coletivo de jornalismo Mídia Ninja no Instagram, na qual se observa exatamente o mesmo cenário.
Já uma busca reversa pela imagem de uma enorme nuvem escura sobre edifícios levou a matérias publicadas na imprensa (1, 2) com a mesma menção de “Reprodução”.
Uma pesquisa por imagens no Twitter pelas palavras-chave “tempestade” e “de areia” levou a um vídeo no qual se vê a mesma cena. O vídeo foi também reproduzido pela imprensa local (1, 2).
Uma última imagem em que se vê uma nuvem escura à direita foi localizada pela equipe da AFP em uma matéria publicada em 26 de setembro de 2021 no Jornal da Franca. Na legenda lê-se que se trata de “uma foto feita pelos moradores de Franca”.