Um vídeo em que uma brasileira mostra prateleiras vazias em um mercado da rede Carrefour em Bruxelas, na Bélgica, foi compartilhado mais de 10 mil vezes em redes sociais ao menos desde o último dia 3 de outubro. Segundo as publicações, a falta de produtos seria um reflexo das medidas restritivas adotadas pelo governo para combater a pandemia de covid-19. Isso é enganoso. Unidades do mercado na capital belga realmente sofrem com um desabastecimento desde o final de setembro, mas devido a uma greve em uma distribuidora, não pelas restrições contra o novo coronavírus.
“Comida aqui no Brasil tá cara?? Sim... Mas, olha o Carrefour em Bruxelas (Bélgica) na Europa… País riquíssimo como a Bélgica não tem comida. ‘Vamos cuidar da saúde... a economia a gente vê depois…’ Esse é o resultado!!!” , dizem algumas das publicações compartilhadas no Facebook ( 1 , 2 , 3 ), Twitter ( 1 , 2 , 3 ) e Instagram .
Na gravação, uma brasileira percorre diversas seções de um mercado mostrando prateleiras vazias. “Gente, esse é um Carrefour no centro de Bruxelas. Olha, que horror. Tudo vazio” , diz.
As publicações, que asseguram que as imagens são “resultado do fica em casa e não faz nada” , ecoam retórica frequentemente empregada pelo presidente Jair Bolsonaro, que desde o início da pandemia tem se posicionado contra medidas restritivas, como o lockdown, devido ao seu efeito na economia.
O cenário retratado no vídeo não tem relação, contudo, com essas ações.
Greve na Bélgica
O AFP Checamos não conseguiu localizar a origem do vídeo compartilhado nas redes. No entanto, uma busca no Google por palavras-chave levou a diversas reportagens da imprensa belga sobre gravações semelhantes feitas em unidades do Carrefour em Bruxelas desde o final de setembro de 2021 ( 1 , 2 , 3 ).Segundo os textos, o motivo para o desabastecimento é uma greve de funcionários do grupo Kuehne%2bNagel, responsável pela distribuição de alimentos para as unidades do Carrefour na capital da Bélgica.
Como reportado pela imprensa local, a greve foi desencadeada no final de setembro após a empresa anunciar que iria fechar seu centro de distribuição na cidade belga de Nivelles até outubro de 2022, colocando em risco cerca de 550 postos de trabalho diretos. Em resposta, os funcionários do local decidiram parar de trabalhar e montaram um bloqueio, impedindo a entrada e saída de produtos do depósito.
“O mais difícil são os produtos frescos (frios, queijos, iogurtes), que têm uma saída mais rápida e para os quais é mais complicado conseguir fornecimento em outro lugar”, disse o proprietário de uma franquia do Carrefour ao jornal belga L’Écho .
Em uma reportagem em vídeo sobre o tema, publicada pelo portal de notícias belga La Libre, é possível ver cartazes azuis espalhados pelo mercado explicando, em francês, o motivo para a falta de produtos: “Caros clientes, devido a um bloqueio em nossos depósitos, as promoções e o reabastecimento das prateleiras não puderam acontecer. Por favor, nos desculpem pelo inconveniente” .
Na gravação compartilhada nas redes também se veem diversos cartazes azuis espalhados pelas prateleiras, embora não seja possível ler o texto devido à baixa qualidade da imagem.
Procurada pelo AFP Checamos neste dia 13 de outubro, a assessoria do Carrefour no Brasil confirmou que o vídeo foi feito em uma de suas unidades em Bruxelas recentemente, mas negou a suposta relação com as medidas de restrição contra a pandemia de covid-19.
“O desabastecimento em uma unidade na Bélgica foi causado por uma greve de funcionários de um centro de distribuição, que não pertence ao Carrefour” , reiterou em nota.
De fato, desde o final de setembro, a conta do Carrefour Bélgica no Twitter tem explicado a clientes o mesmo motivo para a falta de produtos em algumas lojas.
Nous rencontrons des soucis de réapprovisionnement suite au blocage à la Centrale de Nivelles et nous mettons tout en oeuvre pour trouver des solutions rapidement. Freya
— Carrefour BE news (@Carrefour_bnews) September 24, 2021
Em conversa telefônica, um representante da assessoria ainda destacou que em nenhum momento durante a pandemia as medidas restritivas provocaram desabastecimento de suas unidades na Bélgica ou no Brasil.
Ao longo da crise sanitária, muitos estabelecimentos precisaram limitar seu funcionamento para reduzir a chance de propagação do vírus em diversos países. Na Bélgica, medidas do tipo foram tomadas, mas têm sido
relaxadas
desde maio deste ano.
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.
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