Uma publicação circula nas redes sociais desde o último dia 17 de outubro com mais de 3.500 compartilhamentos, afirmando que em 2021 ocorreu o dobro de mortes por covid-19 do que em 2020 apesar da vacinação.
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Casos de mortes após vacinação não significam que imunizantes são ineficazes contra covid-19Não é possível afirmar que a ivermectina teria salvado 500 mil pessoas da morte por covid-19Não há prova de que mortes relatadas à Anvisa sejam consequência de vacinas contra a covid-19coronavirusmundoO FMI não destacou o controle inflacionário no Brasil em 2021, mas entre 2002 e 2005“Em 2020, sem vacinas, o Brasil não chegou a 200 mil mortes com covid; em 2021, com mais de 100 milhões de pessoas vacinadas com 2 doses, até agora mais de 400 mil pessoas morreram, ou seja, o dobro. Fatos. Apenas fatos”, afirma um usuário no Twitter. A publicação também foi compartilhada no Facebook (1, 2).
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2020, em quase nove meses, o Brasil acumulou 194.949 mortes causadas pelo novo coronavírus, desde o primeiro óbito em 12 de março. Com 603.465 óbitos contabilizados desde o início da pandemia até 18 de outubro de 2021, ao todo, 408.516 pessoas faleceram nos dez meses deste ano.
Óbitos em 2021
Os picos de óbitos pela covid-19 em 2021 foram registrados no primeiro semestre. Abril foi o mês que ficou conhecido como o mais letal da pandemia no país, com um total de 67.977 óbitos, ultrapassando a marca de 66.573 atingida em março. Antes disso, o mês mais letal da pandemia havia sido julho de 2020, com 32.881 mortes, segundo dados oficiais.O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt explicou ao Checamos, em referência ao pico, que “essas mortes são colheitas de um plantio de infecções que ocorreu” por conta da mobilidade, ou seja, a circulação de pessoas no final de 2020, e de uma vacinação incipiente. O cientista também é coordenador da Rede Análise Covid-19, um grupo nacional de pesquisadores voluntários que se dedica à coleta de dados sobre a pandemia do novo coronavírus. Ele também disse que:
“Em 2020, as pessoas ficaram com medo e reduziram a mobilidade, depois essa mobilidade foi crescendo e não tinha vacinas. Começamos a vacinar em janeiro de 2021, mas em uma quantidade mínima. Tivemos Natal, Ano Novo, depois Carnaval, mobilidade altíssima, e um pico absurdo de mortes em março de 2021”.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançado em junho de 2021, detalhou que a variante Gamma ou P.1 “tem sido associada ao aumento da transmissão e alta carga viral”. Segundo a publicação, “estudos futuros são urgentemente necessários para avaliar a suposição de que a linhagem P.1 poderia aumentar o risco de infecção grave ou mortalidade, evidenciado pelo aumento alarmante de mortes por Covid-19 recentemente relatado em todo país”.
Estima-se que a Gamma tenha surgido no início de dezembro de 2020, na cidade de Manaus, no Amazonas. Aos poucos, ela se espalhou pelo território nacional, como explicou ao Checamos o epidemiologista Eduardo Martins Netto, do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia (HUPES-UFBA), e pesquisador da Fundação José Silveira.
“No final de 2021, a P.1 ou Gamma, de Manaus, foi espalhada lentamente pelo Brasil, transformando completamente o perfil das infecções. Isto provocou um grande aumento de casos e mortes. Foi como se uma (quase) nova doença tivesse sido introduzida”, destacou.
Vacinação lenta
A vacinação foi iniciada no país em 17 de janeiro de 2021, tendo imunizado completamente cerca de 103 milhões de pessoas até 18 de outubro. O número representa uma cobertura vacinal de 65,39% da população, de acordo com o Ministério da Saúde. Segundo especialistas consultados pelo Checamos, o ritmo da campanha de vacinação foi mais lento do que o necessário.Martins Netto chamou a atenção para essa lentidão como uma das razões para o número de óbitos ter seguido alto em 2021: "O Brasil demorou 8 meses para chegar a 100 milhões de vacinados". "A diminuição da incidência está muito mais visível quando atingimos um percentual grande de vacinados (acima de 60%)”, concluiu.
“As vacinas são as melhores estratégias para prevenir a covid-19. Basta olhar o que aconteceu no Reino Unido com a vacina. Temos que lembrar que a vacinação só com dose completa e dose única”, ressaltou ao Checamos o infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Julival Ribeiro. O Reino Unido foi um dos países da Europa mais afetados pela pandemia, mas com 78,9% de sua população imunizada, em 18 de outubro de 2021, a média, por milhão de pessoas, de novos casos diários é de 639,49 e a de mortes é de 1,83.
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