Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

O FMI não destacou o controle inflacionário no Brasil em 2021, mas entre 2002 e 2005

Publicações com alegações de que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil se destacou no controle da inflação em um contexto global de aumento dos preços nos últimos meses de 2021 foram compartilhadas nas redes sociais mais de 2,6 mil vezes desde o último 13 de outubro.



No entanto, o relatório da instituição, divulgado no mesmo dia em que essas postagens começaram a circular, aponta uma piora da estimativa da inflação brasileira. O documento também enfatiza o controle de preços no Brasil, mas entre os anos de 2002 e 2005. 

“Isso sim é ‘culpa’ de Bolsonaro”, diz uma das publicações compartilhadas no Twitter (1, 2), no Facebook (1, 2) e no Instagram (1, 2) junto a uma imagem na qual se lê “FMI: Inflação global deve atingir seu pico nos últimos meses de 2021, mas Brasil se destaca em controle”.

Uma busca no Google pelos termos que aparecem na imagem das postagens viralizadas levou a um artigo publicado em um site em 12 de outubro passado. Mas, apesar de a manchete sugerir que o destaque foi dado pelo FMI em 2021, o próprio texto informa que, em seu relatório deste mês sobre a economia mundial, “World Economic Outlook”, o Fundo se referiu de forma elogiosa a políticas públicas implementadas no começo dos anos 2000.



“A autoridade monetária reconhece que economias emergentes como o Brasil tiveram avanços no controle da inflação a partir do início dos anos 2000, atingindo uma ancoragem similar à das economias mais desenvolvidas”, afirma o texto do site. 

As publicações viralizadas circulam em um contexto de fortes críticas (1, 2, 3) ao governo de Jair Bolsonaro pelo aumento de preços, sobretudo dos alimentos e da gasolina. O presidente responsabiliza os defensores das medidas restritivas para conter o avanço da covid-19 pela inflação (1, 2).

Em seu relatório mais recente, divulgado em outubro deste ano (pág. 120), o FMI projetou para o Brasil altas inflacionárias de 7,9% e 4% em 2021 e 2022, respectivamente. No documento anterior, publicado pelo Fundo em abril de 2021 (pág. 147), a estimativa para o mesmo período era de 4,5% e 3,5%. Houve, portanto, uma deterioração das projeções feitas pela instituição monetária para o país. 



No documento de outubro, o FMI apontou também para uma piora global do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o que “reflete um desencontro entre oferta e demanda induzido pela pandemia, o aumento dos preços das commodities e políticas relacionadas ao desenvolvimento". 

Adicionalmente, a instituição observa que, “em alguns países, as depreciações da taxa de câmbio contribuíram para o aumento dos preços dos produtos importados”. A expectativa, segundo o FMI, é de que na maioria das economias a inflação caia a patamares pré-pandêmicos em 2022.

O relatório não menciona o Brasil no que diz respeito ao enfrentamento do pico inflacionário atual, embora a experiência brasileira de controle da inflação no início dos anos 2000 tenha sido destacada em um quadro intitulado “Respostas de políticas e expectativas em episódios de aceleração da inflação” (pág. 61). 



Nessa seção do documento, as políticas públicas do Brasil mencionadas se referem àquelas implementadas entre os anos de 2002 e 2005. Segundo o FMI, na época, o caso brasileiro demonstrou “a necessidade de maior ação de política monetária para contrariar expectativas não ancoradas e estabelecer credibilidade”.

Além do caso brasileiro, são apontadas as experiências de combate à inflação nos Estados Unidos (1965-1983), no Chile (2007-2009) e na Índia (2010-2014).

O AFP Checamos fez ainda uma busca no Google pelos termos “FMI”, “inflação” e “Brasil”, mas não encontrou nenhum resultado em que o Fundo tenha dado destaque à atuação brasileira no combate à inflação atual. 

Um conteúdo semelhante foi verificado pela Agência Lupa

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