Um vídeo de um protesto silencioso feito por aeromoças na Itália foi compartilhado mais de 350 vezes nas redes sociais desde o último dia 24 de outubro acompanhado da alegação de que elas estariam se recusando a tomar a “injeção letal”, em referência à vacina contra a covid-19. Isso é falso. A imprensa noticiou o caso, que se tratava de um ato contra as demissões feitas pela companhia aérea Alitalia. O sindicato que apoiou a manifestação confirmou que o evento “não teve nada a ver com a vacinação”.
“Se você quiser arrepios, assista a esse vídeo da Itália. Aeromoças italianas que preferem manter suas vidas, do que seus empregos incl. a injeção letal. Não deixe isso dividir você!” , indica a legenda de uma das publicações compartilhadas no Facebook ( 1 , 2 , 3 ).
No vídeo viralizado é possível ver as mulheres usando o uniforme de comissárias de bordo, despindo-se silenciosamente em uma praça. A sequência também circulou no Twitter ( 1 , 2 ) como se fosse um ato contra a vacinação, mencionando a hashtag “#NoPass”, e em outros idiomas, como o holandês ( 1 , 2 ).
O “passe verde” na Itália é um documento que mostra se alguém se recuperou da covid-19, testou negativo, ou foi vacinado, semelhante ao que foi adotado na cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo .
O “passe verde” italiano se tornou obrigatório para todos os trabalhadores desde o último 15 de outubro, causando manifestações em todo o país.
O protesto dessas comissárias de bordo, no entanto, não tem qualquer relação com a vacinação contra a covid-19.
Ato contra demissões e cortes no pagamento
Uma busca reversa no Google por capturas de tela da sequência viralizada obtidas por meio da ferramenta InVid-WeVerify * levou a matérias publicadas por veículos de comunicação sobre o protesto.
A CNN, por exemplo, noticiou que “ex-comissárias de bordo da Alitalia protestaram essa semana contra as demissões e os cortes salariais de uma forma particularmente italiana - tirando a roupa” . A manifestação ocorreu na Piazza del Campidoglio , no centro de Roma, em 20 de outubro de 2021.
A agência de notícias italiana Ansa informou que “as mulheres foram tirando lentamente os uniformes da antiga empresa italiana, ficando apenas com uma camisola. Ao fim do ato, elas deixaram apenas os sapatos no chão para protestar contra o ‘sumiço’” .
Da mesma forma, a Euronews explicou que a companhia aérea Alitalia fez seu último voo e foi substituída por uma empresa, ITA , que está “assumindo menos de 3 mil dos 10 mil funcionários da Alitalia” . Além disso, integrantes do sindicato assinalaram que aqueles que forem trabalhar para a ITA terão uma diminuição significativa no salário.
Os jornais italianos relataram que a manifestação foi comandada pela Unione Sindacale di Base (USB) e apontou como a fonte do vídeo a sua página no Facebook . Em nenhum desses sites há qualquer menção a uma crítica à vacinação contra a covid-19.
Sindicato confirma que protesto não teve a ver com a vacinação
Na página no Facebook da USB há uma publicação da transmissão ao vivo do protesto, datado de 20 de outubro de 2021, cujas imagens são idênticas às do vídeo viralizado, mas sem qualquer menção à vacinação contra a covid-19.
No site
da Unione Sindacale di Base também foram publicados registros do ato, descrito como
“um protesto silencioso contra o desprezo pela lei e a arrogância com que a ITA mandou embora 8 mil funcionários da antiga companhia”
. O artigo também indica que vários membros da USB participaram da manifestação.
A equipe de checagem da AFP entrou em contato com o sindicato no último 27 de outubro para perguntar se o ato visto no vídeo tinha alguma relação com a imunização contra covid-19.
O porta-voz da USB, Piero Santonastaso, respondeu:
“Confirmo que o protesto das comissárias de bordo da Alitalia na Campidoglio em 20 de outubro
[de 2021]
, organizado com o apoio da USB, não tinha nada a ver com a vacinação”
.
*Uma vez instalada a extensão
InVid-WeVerify
no navegador Chrome, clica-se com o botão direito sobre a imagem e o menu que aparece oferece a possibilidade de pesquisa da mesma em vários buscadores.
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