Um cartaz atribuído à Autoridade Regulatória de Produtos de Saúde da Irlanda foi compartilhado centenas de vezes em diferentes idiomas desde o último 21 de outubro listando os supostos efeitos adversos das vacinas contra a covid-19, entre eles a “morte súbita”. Mas a imagem é falsa: à AFP, a autoridade de saúde explicou não ter publicado tal conteúdo.
“Alerta oficial do governo na Irlanda sobre possíveis efeitos adversos da PE ‘segura e eficaz’ incluem, dentre outros: ataque cardíaco, coagulação sanguínea, alterações menstrual, paralisia de Bell, dores de cabeça e, MORTE SÚBITA!”, diz uma das publicações, compartilhadas no Facebook (1, 2, 3), no Twitter (1, 2, 3) e no Telegram (1, 2, 3), juntamente com o suposto pôster do governo irlandês.
A mesma imagem com alegações semelhantes também circulou em outros idiomas, como inglês, malaio, árabe, espanhol e tailandês.
No cartaz vê-se o seguinte texto, em tradução livre do inglês: “A quem recebeu a sua vacina contra a covid-19, agradecemos por fazer a sua parte em manter a nossa comunidade segura. Efeitos adversos raros nos chamaram a atenção”, e lista os seguintes itens: “dores de cabeça, irregularidade menstrual, paralisia de Bell, coágulos no sangue, ataques cardíacos e cardiovasculares e morte súbita”.
“Por favor, reporte qualquer efeito colateral à Autoridade Regulatória de Produtos de Saúde - www.hpra.ie e consulte o seu clínico geral”, finaliza.
Abaixo e à direita está o logotipo do governo da Irlanda ao lado das palavras em irlandês: “Muintir na hÉireann” e a sua tradução correspondente em inglês. Em português o mesmo significa “O povo da Irlanda”.
A Irlanda está imunizando a sua população com quatro vacinas contra a covid-19: duas de RNA mensageiro (Pfizer/BioNTech e Moderna) e duas de vetores virais (AstraZeneca e Janssen).
Mas o suposto alerta viralizado é falso.
“Muintir na hÉireann” é uma expressão comumente usada por políticos e oficiais do governo para se referir às pessoas na Irlanda (1, 2).
Mas o nome oficial do governo irlandês é “Governo da Irlanda” ou, em irlandês, “Rialtas na hÉireann”.
A porta-voz da Autoridade Regulatória de Produtos de Saúde (HPRA, na sigla em inglês), que regula os medicamentos e outros produtos para humanos e animais no país, Siobhan Molloy, declarou à equipe de checagem da AFP em 28 de outubro de 2021 que a instituição não publicou tais pôsteres.
“A HPRA não produz pôsteres de vacinação contra a covid-19. Qualquer cartaz sobre a vacinação contra a covid-19 que circule - impresso ou via redes sociais - e seja retratado como sendo da HPRA é provável que tenha sido fabricado e contenha informações falsas ou enganosas”, assinalou Molloy.
E acrescentou que o Serviço Executivo de Saúde (HSE, na sigla em inglês) publica as informações oficiais relacionadas à covid-19, incluindo cartazes e outros recursos.
Abaixo pode-se observar a comparação entre a imagem viralizada nas redes e atribuída à HPRA e um pôster oficial divulgado pelo HSE:
Efeitos colaterais leves
“Embora não tenha ocorrido com todas as pessoas, todas as vacinas têm alguns efeitos colaterais, em sua maioria de natureza leve a moderada”, apontou Molloy.
“Aqueles que foram vacinados são menos propensos a ter a covid-19 grave ou necessitar de atendimento hospitalar”, acrescentou.
A HPRA publica informações do produto das vacinas, bem como atualizações de segurança.
A atualização mais recente publicada em 7 de outubro de 2021, estabelece que até o dia 28 de setembro havia “um total de 15.424 relatos de efeitos colaterais suspeitos”, dos quais “90 descrevem um indivíduo que teria sido vacinado e depois morrido”. A maioria desses casos ocorreu em “pacientes maiores de 75 anos e inclui mortes comumente vistas na população geral, como aquelas devido a causas naturais e doenças subjacentes ou progressivas”.
E continua:
“Os relatos que descrevem um falecimento são cuidadosamente revisados. No entanto, pode-se esperar que mortes devido a uma doença subjacente ou causas naturais continuem ocorrendo, inclusive depois da vacinação. Isso não significa que a vacina cause as mortes”.
Os imunizantes contra a covid-19 são seguros e os efeitos colaterais graves de uso da Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Janssen são raros, de acordo com o HSE.
Os Centros para o Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido e a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram à mesma conclusão.