Publicações que contêm uma lista da Organização Mundial da Saúde e a alegação de que esta mostra os “efeitos prejudiciais de medicamentos” foram compartilhadas dezenas de vezes nas redes sociais em novembro de 2021, em meio às campanhas de imunização contra a covid-19 no mundo todo.
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Dados de casos e mortes globais de covid-19 não indicam ineficácia das vacinas, dizem especialistasDizer que vacinados contra covid 'são perigosos' não tem base na Ciência Queda sustentada de mortes por covid-19 no Brasil está ligada à vacinação, segundo especialistascoronavirusmundo“Efeitos adversos das várias va.ci.nas desde a sua criação até 2021” e “E aí, você acreditou na mentira que a BolsoPill mata e que a vacina salva?? T.O.L.I.N.H.O.”, são algumas das legendas das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).
Na imagem viralizada se vê uma lista, em inglês, de diversos medicamentos e imunizantes, bem como seus supostos efeitos adversos em diferentes períodos até 2021, e no topo há o logotipo da Organização Mundial da Saúde.
Alegação semelhante também circulou em outros idiomas, como inglês, espanhol, francês e italiano.
As publicações afirmam mostrar as reações adversas a medicamentos reunidas no VigiAccess - um site que compila o banco de dados global da OMS de efeitos colaterais relatados e potencialmente relacionados a produtos medicinais.
O gráfico atribui 2.457.386 reações adversas à vacina contra a covid-19. Mas isso é enganoso.
“Um processo complexo”
Como mencionado, a imagem viralizada tem como referência dados da plataforma VigiAccess . O site foi lançado em 2015 para dar ao público geral acesso à base de dados VigiBase, que mantém registros de potenciais efeitos colaterais de diversos medicamentos relatados.O próprio VigiAccess, porém explica em sua página inicial que “a informação neste site tem relação com efeitos colaterais em potencial; ou seja, sintomas e outras circunstâncias que foram observadas após o uso de um produto medicinal, mas que podem ou não estar relacionados ou terem sido causados por esse produto” e que o “VigiAccess não pode ser usado para determinar a probabilidade de um efeito colateral ocorrer”.
O site do VigiAccess é gerenciado pelo chamado Centro de Monitoramento Uppsala (UMC, na sigla em inglês). Uma porta-voz da base de dados, Alexandra Hoegberg, afirmou à AFP em setembro de 2021 que a comparação entre diferentes produtos farmacêuticos tampouco “fornece qualquer informação sobre suas relativas seguranças quando comparadas entre si”.
A AFP concluiu que a tabela viralizada é uma compilação não oficial dos dados do VigiAccess. Para terem seus efeitos adversos inseridos em uma tabela, cada produto farmacêutico deve ser pesquisado individualmente e em seguida, classificado manualmente.
Segundo a tabela viralizada, os dados teriam sido coletados em 12 de novembro de 2021 e parecem corresponder aos registros do VigiAccess. Os valores encontrados pela equipe de checagem da AFP em 3 de dezembro de 2021 são apenas ligeiramente maiores do que os registrados na imagem compartilhada. Por exemplo, para a vacina da varíola, a AFP encontrou 6.900 registros no VigiAcces em dezembro de 2021, comparados aos 6.891 registrados na tabela. A vacina da gripe (influenza) contém 276.194 registros no site em dezembro, comparados a 272.202 registrados na tabela. As vacinas contra covid-19 somavam 2.642.138 de registros de possíveis efeitos colaterais em 3 de dezembro de 2021, em comparação com 2.457.386 registrados na imagem viralizada.
A porta-voz do UMC, Hoegberg, acrescentou ainda que “a visão do UMC é a de que os benefícios das vacinas contra covid-19 superam os riscos”.
OMS nega a alegação
Em resposta às alegações feitas nas publicações viralizadas, um porta-voz da OMS disse à equipe de checagem da AFP que esses dados não mostram ligações confirmadas entre efeitos colaterais e os imunizantes contra a covid-19 e que os dados do VigiAccess “não confirmam de maneira alguma” que existe um risco maior causado pelas vacinas contra covid-19.O porta-voz ainda assinalou que os dados “não devem ser interpretados como se significassem que o produto medicamentoso ou sua substância ativa causaram o efeito observado ou que não são seguros de serem utilizados”.
“A confirmação de nexo causal é um processo complexo que requer uma avaliação científica completa e detalhada de todos os dados disponíveis. As informações contidas nesse site, portanto, não confirmam uma conexão entre um produto médico e um efeito adverso”, continuou.
Ainda segundo a OMS, o alto número de relatos de efeitos secundários das vacinas contra covid-19 pode ser causado por diversos fatores, como o alto número de pessoas que tomou a vacina recentemente e favorecido por uma intensa cobertura midiática.
“Relatórios brutos”
Helen Petousis-Harris, codiretora da Rede de Dados de Vacina Global, um consórcio internacional para a pesquisa de imunizantes seguros, assinalou à AFP que esse tipo de dado é frequentemente usado de modo incorreto.“Usuários que compartilham desinformação distribuem relatórios brutos e alegam se tratar de reações adversas quando, na realidade, são eventos que ocorreram que podem ou não terem sido causados por uma vacina”, declarou Petousis-Harris.
No Brasil, o Painel de Farmacovigilância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), consultado pelo Checamos em 3 de dezembro de 2021 com dados atualizados até 29 de novembro, registraram 16.303 notificações de eventos adversos para todas as vacinas contra covid-19 registradas na base de dados.
Até 3 de dezembro de 2021, segundo dados do Ministério da Saúde, já foram completamente vacinadas mais de 133 milhões de pessoas contra a covid-19 no Brasil.
O Checamos já verificou alegações (1, 2) que interpretavam dados relacionados à covid-19 de maneira incorreta.
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