A captura de tela de um artigo com o título “Europa ‘quis’ abolir o Natal 'em nome da inclusão e da diversidade'” foi compartilhada mais de mil vezes em redes sociais desde o início de dezembro de 2021. A alegação é enganosa. No final do último mês de outubro, a Comissão Europeia realmente publicou orientações para tornar o período de final de ano mais inclusivo, mas o texto apenas pedia que funcionários desejassem feliz “festas”, ao invés de feliz “Natal”. O documento, que foi retirado para revisão, não proibia a celebração do feriado religioso.
“Qualquer tentativa de acabar com o Natal - para agradar a muçulmanos ou à extrema-esquerda europeia - terá a nossa firme oposição! Quem não gosta da nossa cultura e das nossas tradições pode mudar-se para o Afeganistão ou para a Arábia Saudita!”, dizem algumas das publicações compartilhadas no Facebook (1, 2, 3) e Instagram ao menos desde 5 de dezembro de 2021.
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Como consequência, seu conteúdo foi amplamente noticiado na mídia (1, 2, 3). Nenhum veículo reportou, no entanto, que o guia proibisse ou pedisse o fim do Natal.
“Um documento interno da Comissão Europeia aconselhando funcionários a usar linguagem inclusiva como ‘época de férias’ em vez de Natal e evitar termos como ‘man-made’ foi retirado após críticas de políticos de direita”, escreveu o diário britânico The Guardian.
O portal suíço RTS listou outros exemplos de recomendações presentes no documento: “banir a expressão ‘senhoras e senhores’, preferindo ‘caros colegas’, assim como os nomes de cargos de trabalho no masculino como ‘policeman’ ou ‘workman’ ”.
Procurado pela AFP, o porta-voz da Comissão Europeia Eric Mamer explicou em 30 de novembro de 2021: “Não era, de forma alguma, um documento que teria qualquer valor vinculante, recomendações sobre comunicação”.
Em 10 de dezembro, outro representante do órgão explicou à equipe de checagem da AFP que o documento já foi retirado, sem chegar a ser adotado pela Comissão Europeia:
“Não estamos proibindo ou desencorajando o uso da palavra natal. Claro que não. Celebrar o Natal e usar nomes e símbolos cristãos é parte da rica herança europeia”, sinalizou, encaminhando um comunicado da comissária Dalli.
Segundo esse texto de 30 de novembro, a iniciativa de redatar “algumas diretrizes como documento interno para comunicação” dos funcionários da Comissão Europeia pretendia “ilustrar a diversidade da cultura europeia e mostrar o caráter inclusivo da Comissão”.
Mas, segundo a nota, a versão publicada “não atendia adequadamente a esse objetivo. Não é um documento de qualidade e não cumpre todos os padrões de qualidade da Comissão”, o que fez com que Dalli retirasse o guia para “continuar trabalhando” em seu conteúdo.